sábado, 7 de abril de 2018

PÁSCOA E MUNDO

Por Pe. Manfredo Araújo de Oliveira (*)
...não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive seu dia a dia precariamente, com funestas consequências...
Certamente a condição para entender o sentido da Páscoa é descer aos porões da vida humana, perceber que há aí forças presentes que parecem tragar tudo a que se pode aspirar como bom na vida humana, algo que perpassa todos os projetos humanos e é capaz destruir relações humanas e sua ligação com a terra. Para o papa Francisco, isto significa hoje para a igreja a tarefa de tomar consciência de que seu destino não é diferente de toda a humanidade e que, portanto, sua missão consiste em inserir-se no mundo e abrir-se às alegrias e às esperanças, às tristezas e às angústias dos homens e das mulheres de hoje sobretudo dos pobres e atribulados. Isto implica que a igreja seja capaz de escutar a sociedade, de ter sensibilidade para as gigantescas desigualdades sociais, de considerar com toda seriedade e sem temor todas as questões que a sociedade levanta, conhecendo e respeitando o ser humano em todas as suas dimensões, mostrando profunda compaixão diante do sofrimento e confrontando-se com as inúmeras formas de injustiça.
Os gritos que pedem justiça continuam muito fortes: “...não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive seu dia a dia precariamente, com funestas consequências...O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas” ... (Alegria do Evangelho 52), vítimas de um sistema econômico que põe o lucro acima do ser humano. O papa fala de uma espécie de terrorismo de base que provém do controle global do dinheiro, ameaçando a humanidade inteira. Cumprir sua missão significa para a igreja não se refugiar em si mesma e ir para as periferias geográficas e existenciais do mistério da dor, do sofrimento, da violência, da injustiça, de toda miséria humana. Uma igreja que por sua pregação e estilo de vida ajude as pessoas a compreender que somos todos responsáveis pela formação das novas gerações, ajudando-as a reabilitar a política que é uma das formas mais altas de caridade a fim de que cresça a participação das pessoas no enfrentamento dos problemas comuns, imprimindo uma visão economista à configuração da vida social.
O evangelho é o anúncio àquele que espera de que o objeto da esperança chegou na fragilidade das condições da vida humana, pois é uma realidade carregada de sentido vital e definitivo: a vitória do poder de Deus sobre o que esmaga o ser humano e a integração plena da criação no projeto de Deus.
(*) Padre e professor de Filosofia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Fonte: O Povo, de 1/4/2018. Opinião. p.25.

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