domingo, 8 de abril de 2018

O QUE É PÁSCOA HOJE

Por Padre Luís Sartorel (*)
A celebração da Páscoa, hoje, continua tendo o mesmo sentido: a atualização do mistério do amor que vence o ódio, do perdão que supera a vingança"
A Páscoa judaico-cristã é uma festa que celebra a libertação. Nos foi transmitida, de geração em geração, a experiência de fé de um povo, num Deus (Iahwe) que se revela libertando os escravos do Egito, e formando, com este punhado de gente, um povo. Em Jesus Cristo, este mesmo Deus se manifesta com o seu amor misericordioso, libertando-nos do mal e da morte, revelando que o seu “Reino” se realiza a partir dos últimos, dos deserdados.
A celebração da Páscoa, hoje, continua tendo o mesmo sentido: a atualização do mistério do amor que vence o ódio, do perdão que supera a vingança. O justo continua pagando pela desumanidade de quem quer ganhar o mundo e acha que todos devem estar a serviço do seu interesse e lucro. Continuam matando gente inocente, prendendo pessoas porque defendem os direitos humanos, muitas vezes sem prova nenhuma, acusando falsamente as pessoas que animam os índios, os negros, os favelados para conquistar o seu espaço com dignidade, nesta sociedade do lucro, que é insuportável e insustentável, como diz Papa Francisco.
A paixão e morte de Jesus continuam hoje: continuam sim, nas pessoas que são mortas pelos interesses sem medida e sem razão, pelos que incarnam a morte e a destruição do planeta. Marielle, Irmã Dorothy, dom Oscar Romero... e a lista é longa. Até dentro das igrejas há gente que assume esta ideologia do lucro desenfreado, achando que é defesa do evangelho. Assim eles criticam de forma violenta o papa Francisco, a CNBB e os Teólogos da Libertação, semeando a divisão, como fez satanás. Muitas vezes se prefere atacar a pessoa, acusando-a de coisas falsas, como declara a CPT: “A prisão do padre Amaro é uma medida que vem satisfazer a sanha dos latifundiários da região que pretendem de toda forma destruir o trabalho realizado pela CPT, e desmoralizar os que lutam ao lado dos pequenos para ver garantidos os seus direitos. E se enquadra no contexto do cenário nacional em que os ruralistas ditam os rumos da política brasileira. A ele se atribui uma série de crimes: “lidera uma associação criminosa, com o fim de cometer diversos crimes, tais como, ameaça à pessoa, esbulho possessório, extorsão, assédio sexual, importuna ofensa ao pudor, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.” A diretoria e a Coordenação Nacional da CPT denunciam este esquema de atacar os que defendem o direito dos e das camponeses de lutar pela terra e por condições de vida dignas, os que, como o papa Francisco pede, sabem mergulhar os pés na lama para estar junto dos que são injustamente espoliados dos seus direitos e da dignidade de pessoas humanas.
A Páscoa e Maria, no Magnificat: Deus “derruba os poderosos dos seus tronos, manda embora os ricos sem nada e enche de bens os famintos”. A luta e a Esperança continuam.
 (*) Padre, Coordenador do CEBI e Professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Fonte: O Povo, de 1/4/2018. Opinião. p.25.

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