sábado, 21 de abril de 2018

QUAL A SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA INFLUENZA EM FORTALEZA?

Antônio Silva Lima Neto (*)

Gerente de Vigilância Epidemiológica avalia situação da Influenza

Essa semana, as filas nas clínicas de vacina sugeriam que estávamos na vigência de um surto incontrolável de gripe, situação que exigia horas de espera, mesmo sabendo que em poucos dias o imunobiológico estaria disponível na rede pública. Mas, afinal, diante de inúmeros boatos, posts despropositados e mensagens de WhatsApp, qual a situação epidemiológica de Fortaleza? Vamos a algumas considerações.
Em 2018, 24 casos, incluindo dois óbitos, de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Influenza foram confirmados até esta data em Fortaleza. A maioria por H1N1. Observando a série histórica, o número de casos de SRAG por Influenza em 2018 ainda é substancialmente menor do que em 2016 (68 casos), por exemplo.
O subtipo H3N2 esteve associado à maior gravidade nos surtos de inverno (2017-2018) dos EUA e Europa. No entanto, o padrão não está se repetindo em todo o Brasil. Em Fortaleza, dois casos de SRAG por H3N2 foram identificados em 2018. A distribuição espacial da SRAG por Influenza no município não apresenta aglomerados de casos (clusters). Em se tratando de doença de transmissão pessoa-pessoa, isso não indica a ocorrência de surtos locais, desde que o padrão dos casos brandos siga a mesma tendência.
A disponibilização pelas autoridades sanitárias do antiviral Fosfato de Oseltamivir (Tamiflu) para tratamento precoce dos casos de síndrome gripal em postos de saúde, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais pode ser estratégia ainda mais eficaz do que as vacinas para se evitar desfechos desfavoráveis em curto prazo. O início da campanha de vacinação deverá conter a propagação do vírus H1N1 e demais subtipos nas próximas semanas.
No entanto, o calendário de imunização proposto pelo Ministério da Saúde está em desacordo com a situação epidemiológica de Influenza sazonal do Nordeste. Em Fortaleza, a Influenza concentra-se nos meses da quadra chuvosa, normalmente entre março e maio. A vacinação deveria ocorrer, no máximo, em fevereiro.
A mobilização da população nunca é prejudicial. A adoção de medidas que evitem a transmissão é uma forma eficiente de interrupção da transmissão. Em especial: lavar as mãos, proteger os enfermos com máscara e evitar que crianças doentes frequentem a escola.
Não se descarta aumento de casos de gripe nos próximos dias, pois esta é a sazonalidade clássica da doença. Porém, serenidade e busca de evidências científicas são essenciais.
 (*) Médico epidemiologista, doutor em Saúde Coletiva, gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza e professor do curso de Medicina da Unifor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/04/2018. Opinião. p.7.

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