Gerente de Vigilância Epidemiológica avalia situação da Influenza
Essa semana, as filas nas clínicas de vacina sugeriam que
estávamos na vigência de um surto incontrolável de gripe, situação que exigia
horas de espera, mesmo sabendo que em poucos dias o imunobiológico estaria
disponível na rede pública. Mas, afinal, diante de inúmeros boatos, posts
despropositados e mensagens de WhatsApp, qual a situação epidemiológica de
Fortaleza? Vamos a algumas considerações.
Em 2018, 24 casos, incluindo dois óbitos, de Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Influenza foram confirmados até esta data
em Fortaleza. A maioria por H1N1. Observando a série histórica, o número de
casos de SRAG por Influenza em 2018 ainda é substancialmente menor do que em
2016 (68 casos), por exemplo.
O subtipo H3N2 esteve associado à maior gravidade nos
surtos de inverno (2017-2018) dos EUA e Europa. No entanto, o padrão não está
se repetindo em todo o Brasil. Em Fortaleza, dois casos de SRAG por H3N2 foram
identificados em 2018. A distribuição espacial da SRAG por Influenza no
município não apresenta aglomerados de casos (clusters). Em se tratando de
doença de transmissão pessoa-pessoa, isso não indica a ocorrência de surtos
locais, desde que o padrão dos casos brandos siga a mesma tendência.
A disponibilização pelas autoridades sanitárias do
antiviral Fosfato de Oseltamivir (Tamiflu) para tratamento precoce dos casos de
síndrome gripal em postos de saúde, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e
hospitais pode ser estratégia ainda mais eficaz do que as vacinas para se
evitar desfechos desfavoráveis em curto prazo. O início da campanha de
vacinação deverá conter a propagação do vírus H1N1 e demais subtipos nas próximas
semanas.
No entanto, o calendário de imunização proposto pelo
Ministério da Saúde está em desacordo com a situação epidemiológica de
Influenza sazonal do Nordeste. Em Fortaleza, a Influenza concentra-se nos meses
da quadra chuvosa, normalmente entre março e maio. A vacinação deveria ocorrer,
no máximo, em fevereiro.
A mobilização da população nunca é prejudicial. A adoção
de medidas que evitem a transmissão é uma forma eficiente de interrupção da
transmissão. Em especial: lavar as mãos, proteger os enfermos com máscara e
evitar que crianças doentes frequentem a escola.
Não se descarta aumento de casos de gripe nos próximos
dias, pois esta é a sazonalidade clássica da doença. Porém, serenidade e busca
de evidências científicas são essenciais.
(*) Médico epidemiologista, doutor
em Saúde Coletiva, gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria
Municipal de Saúde de Fortaleza e professor do curso de Medicina da Unifor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/04/2018. Opinião.
p.7.
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