terça-feira, 4 de setembro de 2018

FIQUE ESPERTO, VACINE-SE


Por Marcelo Alcântara Holanda (*)
Oswaldo Cruz, gigante da Medicina na primeira metade do século XX, aliou a ciência à saúde pública. Conduziu as primeiras campanhas de vacinação em massa salvando milhares de vidas de brasileiros. Enfrentou enorme resistência que atingiu um ápice com a Revolta da Vacina (1904). Época com analfabetismo elevado, sem televisão, muito menos redes sociais. Fake news de então, nas fofocas e em mídia impressa, espalhavam o medo que a vacina anti-varíola, que usava o vírus causador da doença em vacas, desfigurasse o rosto de quem a recebesse, assemelhando-o a um bezerro. Insurgentes pegaram em armas no Rio de Janeiro, acusando o "despotismo sanitário" de Cruz. A história mostrou quem tinha razão. A varíola foi erradicada, o Brasil cresceu, o SUS nasceu, e temos hoje o maior programa de vacinações gratuitas do mundo.
A história se repete. Paradoxalmente, a internet que deveria disseminar as melhores práticas de saúde, tem sido infectada de mentiras. Blogs e sites bizarros divulgam que as vacinas podem causar autismo, retardo mental, alergias e não sei mais quantas bobagens sem fundamento. Santa ignorância. O SUS disponibiliza 16 tipos de vacinas para diferentes faixas etárias e outras para situações ou populações específicas, como para os irmãos indígenas.
Não prescrever as vacinas recomendadas expõe crianças ao risco de morte e a sociedade à disseminação de doenças quase extintas, como ocorre com o sarampo. Se chegamos à vida adulta sem as sequelas da poliomielite, a infertilidade da caxumba ou as cicatrizes da varíola, devemos às gerações que nos antecederam e foram responsáveis em nos vacinar.
O programa nacional de imunizações é de 1973, um adulto, mas não é imune à ignorância e aos maus políticos. Precisa de apoio. A melhor maneira de fazê-lo é simples: vacine-se. Uma vez bem informado, vá a uma unidade básica de saúde, de preferência com um parente, uma amiga ou um amigo, e, depois, se possível, mostre com orgulho, em casa, escola ou trabalho, o pequeno band-aid no local da vacina. Acredite, isso é contagiante e nos faz melhores como indivíduo e sociedade.
(*) Professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/07/2018. Opinião. p.21.

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