Por Luiz Gonzaga Fonseca
Mota (*)
José e Antônio eram dois
amigos de infância. Estudavam no mesmo colégio público e moravam na rua
Esperança, no bairro Solidariedade, no município de Santo Expedito, no sertão
nordestino. Ambos tiravam boas notas e cumpriam com suas obrigações escolares.
Na adolescência, os dois foram pra cidade grande, São Paulo, tentar ingressar
na Universidade e trabalhar. Conseguiram. José cursava medicina e trabalhava
numa livraria. Já Antônio estudava ciência econômica e era corretor na Bolsa de
Valores. José possuía formação humanitária; sem ambição financeira, procurava
servir aos mais carentes. Antônio empolgou-se com sua atividade; ficou rico,
passou a frequentar as altas rodas paulistanas, não mais se lembrava do amigo
José e tornou-se uma pessoa extremamente vaidosa. Sempre preocupado com
resultados financeiros, pouco dedicou-se à leitura. Assim, não conhecia Machado
de Assis: “A vaidade é um princípio de
corrupção” e Vieira: “A vaidade entre os vícios é o pecador mais astuto, e que
mais facilmente engana os homens”. Ademais,
não percebia que a vaidade é irmã da insegurança de conhecimento e da inveja.
José, salvando vidas, era símbolo da generosidade. Por ironia do destino, em
razão da vida desregrada e agitada, Antônio enfartou e foi salvo por José. Sem
bem reconhecer o amigo, após receber alta, perguntou-lhe com arrogância: quanto
custa, doutor? José respondeu: a nossa amizade infantil. “Chamamos de zombador o homem vaidoso que trata os outros
com orgulho e desprezo” (Livro dos
Provérbios 21:24). A vaidade desestimula a ética, a paz, a justiça, a humildade
e favorece o surgimento do desamor e da calúnia. Com relação ao “causo”
mencionado, sem ter a pretensão, a capacidade e a imaginação de Nelson
Rodrigues, vale lembrar suas famosas crônicas: “A
vida como ela é...”.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do
Ceará.
Fonte: Diário
do Nordeste, Ideias. 12/7/2019.
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