Por
Affonso Taboza
Em
18 de abril de 2017 publiquei no jornal
O Povo, de Fortaleza, um artigo intitulado “Por uma nova constituição”, e,
menos de um mês depois, em 15 de maio de 2017, um outro intitulado
“Constituinte exclusiva”. Os dois artigos versavam sobre o mesmo tema e eram
complementares. Publiquei-os em plena vigência do Governo Michel Temer, quando
os ventos e o clima político no País já eram respiráveis, e muitas reformas
importantes já se desenhavam. Jamais proporia para discussão um tema dessa
envergadura estando o País embrulhado na fedentina do PT. Esse partido
diabólico, se chance lhe fosse dada, implantaria no Brasil uma constituição
bolivariana. E estaríamos disputando com a Venezuela a taça enferrujada do
atraso e da anarquia. Claro que o Governo Michel Temer, de curta duração e
pleno de prioridades capitais, não teria espaço para discussão de tal monta.
Meus artigos poderiam, no entanto, ser semente pra cultivo no governo seguinte
que – até as formigas do campo sabiam – não seria do PT. E espero que assim
seja.
Vejam,
a seguir, os dois artigos.
POR
UMA NOVA CONSTITUIÇÃO!
Por
Affonso Taboza
Há
quem opine que uma Assembleia Constituinte só se justifica quando há ruptura do
regime. Ora, em 1987 não houve ruptura alguma. Sarney, eleito pelo Congresso
como vice de Tancredo Neves, que veio a falecer antes de assumir a presidência,
governava democraticamente pela Carta de 1967 quando o tal Congresso
Constituinte foi instalado, e ninguém viu nisso uma violência contra as
instituições. Lembre-se que temos hoje um país devastado, com a economia
arrasada e sujeita a peias constitucionais de toda ordem.
A
Constituição de 88 já é irreconhecível, quando comparado seu texto original com
o que temos hoje todo remendado, acrescido das emendas que virão
necessariamente ainda neste governo. Precisamos de reformas política,
tributária, trabalhista, previdenciária, pra citar só as mais urgentes. É
preciso também emagrecê-la. Sua obesidade prejudica o País. Melhor então fazer
uma nova que levar a sucata a um funileiro que não trabalha bem.
A
Constituição de 88 foi elaborada no Governo Sarney, sob a batuta do mal
humorado Ulysses Guimarães, na esteira do ressentimento e dos ranços
ideológicos que se seguiram ao Regime Militar. Melhor sorte teria se escrita
dois anos depois, arejada pelos ventos liberalizantes vindos do Leste Europeu,
após a queda do Muro de Berlim.
Constituições
de países costumam ser sintéticas. Definem o arcabouço institucional e norteiam
os princípios básicos em que se devem enquadrar as leis ordinárias, estas as
verdadeiras ordenadoras da vida dos cidadãos. Tal norma não seguiram os nossos
constituintes. Na ânsia de proteger aquilo que julgavam bom para o País (ou
para si), engordaram a Constituição com fartura de matérias comuns, típicas de
lei ordinária. Matérias cuja aprovação exigiria maioria simples, ganharam
status de constitucionais, exigindo PECs pra serem alteradas. Um ouriço difícil
de quebrar.
Assim
os nossos constituintes usaram e abusaram do direito de abusar. Até a limitação
do valor dos juros coube nessa Caixa de Pandora. Como se nela quisessem
encaixotar toda a legislação brasileira. Distribuíram mimos e direitos em
profusão e sonegaram deveres. Almoço grátis a rodo. Como se tudo caísse do céu.
Resultado: uma constituição que não cabe no PIB, como alguém já disse, com
muita propriedade. Escrita por deputados e senadores de olho em seus interesses
políticos, legislando em causa própria.
Uma
Assembleia Constituinte exclusiva, composta por pessoas de notório saber, com
mandato restrito à elaboração da Carta e terminando no dia da sua promulgação,
faria certamente um bom trabalho. E esta é a hora, aproveitando os eflúvios da
Lava Jato.
(Publicado no jornal O Povo de 18 de abril de
2017)
Em
menos de um mês, voltei às páginas do jornal O Povo com o artigo abaixo.
CONSTITUINTE
EXCLUSIVA
Por
Affonso Taboza
O
governo do Presidente Sarney começou apoiado na Constituição de 1967, vinda do
Governo Castello Branco. No confronto de ideias, forte naqueles dias, muitos
passaram a exigir uma Constituição “sem os vícios da ditadura”. Outros achavam
que a Carta vigente era boa, precisando só de reforma, pois com ela o País
evoluíra do regime revolucionário para a abertura política, chegando até à
posse de um presidente eleito pelo Congresso, numa transição pacífica.
Pressionado
por radicais, Sarney optou por nova Carta. Mas teve uma ideia feliz: criou um
grupo de trabalho, formado por figuras eminentes vindas dos diversos segmentos
da sociedade, para estudar um modelo a ser proposto à Assembleia Nacional
Constituinte. O grupo se reunia no antigo Palácio do Itamaraty, no Rio.
Esperava-se
fosse eleita uma Assembleia com o fim exclusivo de elaborar a Constituição. Pra
decepção geral, decidiu-se transformar o Congresso Nacional em Congresso
Constituinte. Tipo compre um e leve dois. E Sarney nem coragem teve de mandar
ao tal Congresso Constituinte a proposta que levou meses para ser elaborada.
Nasceu, pois, a nova Carta com um vício de origem: foi trabalhada por pessoas
comprometidas com suas futuras eleições, ou prontas a legislar em causa
própria.
A
Constituição de 88 trouxe em seu bojo tantos defeitos e fantasias que os
autores, conscientes disso, criaram nas Disposições Transitórias um mecanismo
que lhe permitia reforma após cinco anos, com aprovação através de mecanismo
legislativo simples. Por desídia coletiva, a oportunidade não foi aproveitada.
Quando
lhe foi apresentado o texto original, Sarney saudou a nova Carta com a frase
mais inspirada de sua vida: “Com esta Constituição este País será
ingovernável”.
Nasceu
velha a pobre Carta. Os constituintes trabalharam com os olhos voltados para o
passado, sob a batuta do mal-humorado e pedante Ulysses Guimarães que, num
incrível rasgo de estrelismo, chegou a lançar a primeira edição com um prefácio
por ele assinado. Fato reprovado em memorável discurso pelo Senador Jarbas
Passarinho na tribuna do Senado, que resultou no recolhimento dos exemplares
maculados.
Pois
bem, esta anciã de apenas 29 anos hoje é uma colcha de retalhos, carente ainda
de muitos remendos pois ela, entre outros defeitos gritantes, engessa a
economia do País.
O
Brasil está uma sucata. Se é pra passá-lo a limpo, comecemos pela Constituição.
Mas só um colegiado eclético de pessoas de notório saber e conduta ilibada, que
não sonhem com cargos eletivos, poderia apresentar à Nação um bom trabalho. Um
colegiado que se dissolva no ato da promulgação da Constituição.
Congresso
Constituinte, nunca mais! É premente que cuidemos disso!
(Publicado
no jornal O Povo de 15 de maio de 2017)
NOTA: Não
precisa ser expert no assunto, basta ser bem informado e participar ativamente
da vida do País para entender que a CF/88 é uma mistura de sandices e boas
ideias, tudo junto, formando um bolo de difícil digestão. Um imenso e belo bolo
confeitado de miolo estragado que atrofia o País, inibe sua vida e crescimento,
seu desenvolvimento corporal, a formação da sua musculatura. Tanto que, ao
longo da curta existência da tal Carta, 31 anos, mais de cem intervenções
corretivas, as chamadas PECs, já se fizeram necessárias para que o País tenha
vida regular. E outras virão, exigido esforço inaudito do governo para
aprová-las, um dispêndio colossal de energia e tempo, pois praticamente tudo
está confinado na camisa de força constitucional. E os parlamentares não são
cooperativos. Mesmo cientes da necessidade das medidas propostas, fazem
beicinho, querem mimos do Executivo. Um ridículo e deplorável desfile, ora de
interesses mesquinhos, ora de jogo pra plateia ou mera vontade de aparecer.
Interesse nacional raramente conta.
Além
disso, há pendências impossíveis de se resolver com PEC, por contrariarem
interesses de parlamentares ou poderosos. Como exemplo incômodo, podemos citar
os problemas institucionais referentes ao judiciário, sobretudo ao STF, tema
que causa arrepios nos parlamentares. E mais: PECs não podem profanar o
santuário das tais cláusulas pétreas, direito só atribuído ao constituinte
originário. E não poucas cláusulas pétreas merecem espancamento...!
E,
já que vivemos em regime presidencialista por opção popular em plebiscito,
teríamos a oportunidade de dar ao País uma constituição adequada, que
viabilizasse a real autonomia dos poderes, privando o Judiciário de legislar, e
o Legislativo de atrapalhar o Executivo.
Somente
uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita com o fim específico e exclusivo
de elaborar uma nova constituição, teria independência para enfrentar estes e
outros desafios. Dela não poderiam participar ocupantes de cargos eletivos de
qualquer natureza. Aos constituintes seria vedada candidatura nas duas eleições
seguintes, e seus mandatos se encerrariam no dia da promulgação da constituição
por eles elaborada. Tais exigências minimizariam a tentação de legislar em
causa própria.
Tal
projeto poderia ser posto em prática na segunda metade do Governo Bolsonaro, e
não interferiria nas movimentações eleitorais de 2022, pois os constituintes
não seriam candidatos. O País seguiria vida normal, o Congresso tratando dos
assuntos que legalmente lhe são afetos.
É
hora de agir porque, ruim e emperrada que seja, enquanto viva for a CF/88 tem
que ser respeitada e obedecida. E o País não anda!
AFFONSO
TABOZA
Fonte: Circulando por WhatsApp.
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