Por Cláudio Ferreira Lima
(*)
Em A construção do Ceará: temas de história econômica
(Fortaleza: Instituto AlbanisaSarasate, 2008), esclareci: “Este trabalho constitui, antes de tudo, uma reflexão
sobre a construção histórica do povo cearense, em sua própria terra”.
Dedicado à 2ª edição do meu livro, resolvi estender o seu
escopo ao papel do Ceará e do cearense na construção do Brasil.
Intento há muito acalentado, é fruto de troca de ideias
com Demócrito Dummar, que me desafiou a realizá-lo. E, assim, nas minhas
primeiras pesquisas, deparei-me com a conferência de Gilberto Freyre em
Fortaleza, sob o tema “Precisa-se do Ceará”(ver O Jornal. Rio de Janeiro, 9
set. 1944).
Nela, Freyre chama a atenção para a “presença marcante [do cearense] por todos os recantos do
país, o que, depois dos Bandeirantes, mais se tem espalhado, de norte ao sul do
Brasil [...], cumprindo um destino supra-estadual ou supra-regional de
unificador do Brasil [...] que eleva sua história dos limites provincianos ou
das fronteiras estaduais para torná-la, como outrora a dos Bandeirantes e a dos
Jesuítas, história dinamicamente brasileira e história criadora em dimensões
continentais”.
Mas, para Freyre, faz-nos falta “o estudo especializado
de sua influência nas áreas brasileiras que tem fecundado com seu sangue e com
suas especialidades de cultura por excelência dinâmica, ativista e ascética”.
Lembrando Jáder de Carvalho, o cearense traz “em seus pés imensa geografia”. É que, por causa seja da seca (andanças cíclicas),
seja da carência de trabalho (“que aqui não acho serviço/ para ganhar meu
vintém!”), ele demanda todas as regiões do País.
Inicialmente, segue corrente para o Norte, onde vai
“surpreender a puberdade da Amazônia”, no primeiro ciclo da borracha
(1879-1872), que se intensifica no segundo (1942-1945).Nesta saga, pode-se
afirmar que o Acre é obra cearense.
Enquanto isso, no mesmo período, outra corrente se dirige
para o Sudeste, ainda no ciclo do café (São Paulo e Rio de Janeiro), e, depois,
na industrialização, nos anos 1960 a 1980.
Sempre houve, pelo menos desde a seca de 1845-1846, a
emigração de curta distância, cujo destino era preferencialmente Maranhão e
Piauí. Muitos cearenses, a partir dos anos 1950, foram para o Centro-Oeste
construir Brasília e trabalhar na agropecuária.
Mesmo no Sul, o cearense esteve presente, haja vista que,
entre 1940 e 1970, participou da expansão da fronteira agrícola do Paraná.
Segundo o IBGE, em 1872, a população cearense somava 7,2%
da brasileira. Em 2010, caiu para apenas 4,4%. Nesse mesmo ano, 1.491.976, 18%
dela, residiam em outros estados do Brasil.
Eis aí o esboço do roteiro que pretendo cumprir para
mostrar o relevante papel exercido pelo cearense na construção nacional.
(*)
Economista. Foi membro do Instituto do
Ceará: Histórico, Geográfico e Antropológico.
Fonte: O Povo, de 22/4/2018.
Opinião. p.29.
Nota do Blog: Este
foi um dos seus últimos artigos, porquanto faleceu no ano passado e com isso
perdemos a leitura das suas primorosas produções.
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