Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Pouquíssimos
são as disciplinas que falam, estudam e pesquisam o tédio, conhecido também
como fastio, marasmo, desalento, moleza, apatia, lassidão, indiferença,
letargia, rancor, acedia.
O
mundo hoje está entrando numa fase em que a gravação de um evento é maior, mais
importante do que o evento em si. O vídeo, o som estéreo, a internet móvel, os controles
remotos, as roupas de jogging,
as máquinas de ginástica, sugerem que vão deixar o corpo sarado para reviver o
próprio passado ou simplesmente à repetição. Os botões play podem ser comparados aos êmbolos das seringas de heroína.
Tudo para fugir do tédio.
Pode-se
trocar de emprego, de casa, de companhia, de país, de clima ou pode-se dedicar
à promiscuidade, ao álcool, às viagens, às aulas de culinária, às drogas ou até
à psicanálise.
Não
importa o que se fizer, a neuroses e a depressão vão entrar no vocabulário
cotidiano. Comprimidos passarão a frequentar as gavetas. Acaba-se fazendo da
própria vida uma busca constante por alternativas como mudar de emprego, de
casamento, de casa, de clima, desde que se tenha, para isso, condições
econômicas.
A
viagem é grande, não é pequena, mas não tem volta, portanto encontre conforto
na ideia de que, por maior que seja a falta de sabor desta ou daquela situação,
ela será apenas uma estação, nunca um ponto final. Nunca estaremos parados.
As
paixões fazem menos mal que o tédio, pois elas tendem a diminuir o tédio, que
aumenta com o passar do tempo. Sabe qual é a minha preocupação maior?
É
matar o tédio.
Quem
prestasse este serviço à humanidade seria o verdadeiro destruidor de monstros
disse o pintor e escritor Eugène Fromentin (1820-1876). Neste mundo, a única
coisa horrível é o tédio. Eis o único pecado para o qual não há perdão dizia
Oscar Wilde (1854-1900). O tédio pode ser compreendido como a incapacidade de
realizar atividades que proporcionem satisfação. O tédio é um sentimento que
todos nós já sentimos ou iremos sentir. “Um dia a monotonia tomou conta de mim”.
E em
alguns casos o tédio pode ser destrutivo e levar à ansiedade generalizada,
depressão ou ao abuso de álcool e de drogas, mas, felizmente, às vezes, o tédio
pode, ao contrário, servir de impulso para processos criativos.
Mas
não se esqueçam de que ele – o tédio – é um problema capital, pois pelo menos a
metade das perversidades da humanidade são causados pelo medo de nele cair.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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