quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A COVID-19 NO CEARÁ


Por Carlile Lavor (*)

À Miria - Linda jovem, surge num lampejo, simpatia esfuziante na manhã, Dois anos cortejando, felicidade: infindo amor então compartilhamos!
Foi muito importante a ação do Dr. Cabeto, secretário de Saúde do Ceará, e do governador Camilo Santana na preparação dos hospitais e dos profissionais de saúde para receber os casos graves de quem se contaminou com o coronavírus. A imprensa revela como nunca o sofrimento dos doentes, das suas famílias e dos profissionais que os atendem. A possibilidade de não alcançar o atendimento, ainda que possuindo recursos financeiros espalhou o pavor.
A doença atinge os povos de forma muito diferenciada. A Ásia, com a sua população muito adensada, vive uma sucessão de epidemias em sua longa história. A experiência lhe permitiu enfrentar mais rapidamente a Covid-19. O sucesso da China foi seguido pelos seus vizinhos, Taiwan e Coreia, e chegou à distante Nova Zelândia. Na Europa, é possível identificar formas diferentes de enfrentamento, mesmo nos povos de culturas muito semelhantes como os escandinavos; enquanto a Finlândia tem poucas baixas, sua irmã, a Suécia, sofreu pesadas perdas.
O Dr. Antônio Silva Lima Neto, o Tanta, documenta muito bem o desenrolar da pandemia em Fortaleza. Os cearenses que viajam e os turistas trouxeram a doença para os bairros de Meireles e da Aldeota. Os hospitais particulares receberam os primeiros doentes, anunciando a sua gravidade. O nível educacional e econômico da população dos dois bairros facilitou o controle da transmissão. O vírus se espalhou para a vizinhança com a população mais pobre e para toda a periferia de Fortaleza onde as condições sociais são mais difíceis.
Nestas novas áreas, a transmissão perdura por mais tempo, atinge um número bem maior de pessoas e a mortalidade atinge o seu auge. A pouca escolaridade dificulta a concepção do que é um micróbio e como se transmite. Fica difícil a compreensão da necessidade de lavar as mãos ou usar a máscara. Louis Pasteur, que identificou a relação entre micróbio e doença, foi expulso de Paris pelos médicos franceses, em pleno século XIX, porque fazia uma campanha para que esses profissionais lavassem as mãos antes de atenderem a um parto.
É grande a distância entre os que completaram os seus estudos e aqueles que não tiveram esta oportunidade. Lauro Oliveira Lima traduziu muito bem na sua Dinâmica de Grupo, a ideia de Piaget da construção da inteligência e da formação dos conceitos. As suas lições foram importantes para a formação dos Agentes Comunitários de Saúde, que ensinaram às mães a importância das vacinas, da higiene e da prevenção das doenças das crianças.
A educação ainda nos parece um dos caminhos mais rápidos para alcançarmos a saúde e o desenvolvimento. Muitas crianças estão fora da escola, saíram muito cedo, ou talvez nem entraram. Muitos pais conviveram pouco tempo ou nenhum, na sala de aula, e necessitam receber os conhecimentos essenciais para uma vida mais saudável.
A nossa capacidade de identificar as pessoas infectadas e de levarmos a compreensão da transmissão da doença e da sua prevenção aos que mais necessitam definirá o futuro da Covid-19 entre nós. 
(*) Médico-sanitarista. Coordenador da Fiocruz Ceará. Membro titular da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/7/2020. Opinião. p.17.

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