sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Crônica: "Outubro Amarelo Queimado" ... e outros causos


Outubro Amarelo Queimado
É muita categoria associar uma cor a um mês nas iniciativas de cuidados com a saúde. Congratulações a quem pensou no Fevereiro Roxo do Alzheimer, no Abril Azul do Autismo, no Junho Vermelho de incentivo à doação de sangue, no Agosto Dourado da amamentação, no Setembro Verde da doação de órgãos, no Outubro Rosa do câncer de mama, no Novembro Azul do Câncer de próstata.
Parabéns, especialmente, ao genial Jota Crocodilo pelo discernimento de conceber a campanha que dá título a estas mal traçadas: o Outubro Amarelo Queimado, dos cuidados com a sovaqueira (pelo uso do limão galego, por mais desodorantes à base de vinagre com areia grossa, pelo recurso da fé de que um dia a inhaca passará). Algo referencial em qualquer certame científico.
Somado ao Novembro Marrom (de defesa dos traídos) e ao Dezembro Cardão (de defesa do jumento nosso irmão solto nas capoeiras da vida), temos aí um arco-íris de possibilidades para a redenção da humanidade. Sobre o Março Alvinegro (de combate ao pano branco e ao pano preto, ao cuspe grosso e ao cuspe fino, à impingem em pescoço de doido e ao bicho de pé na mão), creio seja também uma ideia que a OMS acolherá sem reservas.
Senão desaparecerem os sintomas...
Moquinha vivia acabrunhada, despombalizada. Perdera o marido ainda jovem e nunca mais um homem na vida. Tentou combater a melancolia entranhada na alma com companhias agradáveis, como a tia por parte de mãe, dona Ceiça, senhora de 90 anos e de astral de quem está nos 20 e poucos anos - altíssimo astral. Por osmose, sabe lá, tomaria emprestada a alegria que lhe faltava. Mas, nem tanto. O contato com a feliz da vida dona Ceiça não foi a solução.
Certo dia, na farmácia da esquina, Moquinha encontra uma amiga de longas datas, tipo esculhambada, que ouviu os queixumes da viúva e, desvendando os mistérios por trás de tanta tristeza, passou receita, segundo ela, milagreira, infalível para esses casos de desânimo lascativo grave. Pediu que tomasse "bilau".
- Bilau? É pastilha? Comprimido ou supositório? É de chupar ou beber? - indagou Moquinha cheia de dúvidas.
- Procure, e basta tomar uma vez por semana! - reiterou a colega presepeira.
A mulher se animou. Na farmácia onde estava, pergunta da coisa, mas nada do remédio nas prateleiras. Desiludida, já em casa, pede a uma sobrinha que procure no Google o tal bilau. Nada de notícia do medicamento de nome estranho. "Pois bota aí bilausina, bilaulex, bilautiazida..." Nada! Finda, Moquinha, por perguntar à nonagenária tia Ceiça onde achar o diabo do bilau. Escolada...
- Enganchado na zona do agrião do macharal!
- É pra tomar diariamente? - indaga Moquinha ingênua.
- Aí tu te lasca. É efeito colateral pra mais de metro!
Reconhecimento
Mostrei a um primo - grande ledor da alma humana - foto minha em pose demais invocada ao lado do dentista Dr. José, e ele asseverou sem rodeios:
- Pelo franzido da testa e o lepo-lepo da orelha, liberaste uma bufinha na hora do clique.
- Como sabes?
- Pela bolota dos olhos do padre. E foi peido ariado! O pecado é ainda maior!
Fonte: O POVO, de 4/10/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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