quinta-feira, 6 de agosto de 2020

EPIDEMIOLOGIA DA COVID-19 NO CEARÁ


Por Profa. Dra. Thereza Maria Magalhães Moreira (*)
O Sars-Cov-2 (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) é o Coronavírus causador da Covid-19 [CO = Corona, VI = Virus e D = Disease (Doença)]. Os casos da pandemia em um plano cartesiano (x,y) são uma função com expoente > 0 e ≠ 1, em que a base é multiplicada por ela mesma n vezes em x tempo. O número de casos (transmissores) é a base da função. É representada por uma curva em sino, cuja meta global é seu achatamento. A fácil transmissão da doença gerou grande volume de casos mundialmente, com 80% de casos leves e 20% com complicações, dos quais até a quarta parte (1-5%) requer sérias intervenções terapêuticas, incluindo uso de respirador em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).
No Brasil, a inexistência de unidade na condução da pandemia fez surgir múltiplas formas de controle da doença, impedindo comparação de alguns dados entre estados. No Nordeste, um pacto entre governadores firmou o Consórcio Nordeste para Combate ao Coronavírus. Inicialmente, ainda sem medidas sanitárias adotadas, Fortaleza tinha transmissão (R0) de 2,01 (uma das maiores do país), concentrava mais de 80% dos casos do Estado e tinha predição acelerada de pico para 23 de abril. Mas, após as medidas e dois picos na capital, a transmissão baixou e houve interiorização da doença, com pico da curva nas cidades mais próximas da capital e iminência dele (próximas duas semanas) nos demais municípios cearenses. Atualmente, o Estado soma 144.058 casos e 7.139 óbitos por Covid-19. O sistema de saúde local não colapsou, mostrando adequação do modo/tempo das ações realizadas, mesmo com pressões socioeconômicas, fake news e desinformação.
Como profissional de saúde, vi amigos doentes, conhecidos morrerem, amigos com medo largarem escalas e outros mudarem sozinhos de casa, temendo adoecer ou contaminar um ente querido, mas nada se comparou aos velórios. Foram quatro meses extenuantes. Agora, das três fases da curva/onda [1) Crescimento exponencial (subida da curva), 2) Saturação (pico e platô) e 3) Decaimento exponencial (recuperados > novos infectados)], na capital estamos na última, mas precisamos acelerar a descida, e no interior, muitos municípios estão na fase 2 ou quase lá. Ainda não acabou, creio que em Fortaleza o pior já passou (dois picos e platô), mesmo com previsão de casos até final de setembro. O interior está 1-2 meses atrás do tempo epidemiológico da capital, pois nos interiores dela mais próximos já passou o pico e descem a curva, enquanto nos mais distantes o pico deve ser até o final do mês e há previsão de casos até final de outubro/novembro. Com centralização do controle das medidas tomadas, creio que teremos êxito, a despeito da não colaboração dos que se reservam o direito de contaminar outrem. Infelizmente, muitos só compreenderão a situação ao terem óbitos na família. Defendem que a pandemia acabou, lotam Shoppings e insistem pela volta às aulas. Mas proteger olhos, lavar mãos, usar máscara e distanciar-se 1,5m (mínimo) de outras pessoas ainda é fundamental!
(*) Professora do Curso de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em da Universidade Estadual do Ceará-UECE. Pesquisadora do CNPq. Membro do Grupo de Trabalho-GT para enfrentamento à pandemia do coronavírus da UECE
* Publicado In: Jornal do médico digital, 1(3): 88-9, julho de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).

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