sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Discurso de Abertura do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia

Por Dr. José Eloy da Costa Filho

Exmos. Srs.

Distintos convidados do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia.

Prezados colegas participantes do evento,

Senhoras e senhores que aqui estão: 

Meu maior capital, como ser humano é ser digno e só a presidência deste simpósio, já me confere uma dignidade ímpar. José Eloy da Costa Filho

Já foi dito que há momentos na vida em que, qualquer que seja a posição do corpo, a alma está de joelhos.

Pois bem, é assim como me sinto, diante de suas presenças.

A genuflexão diz bem do meu estado de espírito, de puro encantamento e intensa satisfação interior.

Trago comigo a certeza de ter contribuído com total dedicação e redobrado esforço, para realização de um grande acontecimento.

Não que eu queira fazer convergir para mim, os louros da vitória.

Fui, tão somente, um “entre tantos”, nesse processo exitoso, desde sua concepção.

Como presidente, no entanto, do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia, tenho que calar a minha timidez e me fazer de forte, com o fez Nijinski, ao receber um troféu de ouro, na consagração da primavera.

Ele que só sabia dançar, ainda que sua dança o fizesse subir aos céus, ao ser agraciado, tropeçou e caiu no palco que era seu.

Eu, que estou a milhões de ano luz da genialidade do bailarino, temo fazer o mesmo, neste instante de glória.

Sou um simples mortal e a honra do privilégio de abrir este evento, faz aflorar em mim, sentimentos tão contraditórios, quanto perigosos: o orgulho do ecocardiografista, saído de uma região adusta, como a do Nordeste brasileiro e a humildade do profissional, premido pelos limites da geografia; a fidelidade obstinada ao meu ideal de fazer deste, um acontecimento sem precedentes e o temor injustificado de que as galas desta noite não alcancem o brilho merecido.

Não me pejo de dizer que tenho medo.

Mesmo sabendo o que já disse Castañeda: “o medo é o maior inimigo do homem”.

Comigo tenho, porém, o antídoto para essa fraqueza do espírito: a fé inabalável em deus e a crença na inteligência e na audácia empreendedora dos meus pares.

De verdade, estou vivendo a magia de um dos “instantes” de Jorge Luiz Borges: “a vida é feita só de momentos” e este, talvez que seja o mais importante da minha vida pessoal e profissional.

Meu maior capital, como ser humano é ser digno e só a presidência deste simpósio, já me confere uma dignidade ímpar.

Não disse ainda da minha felicidade: primeiro, por viver em minha terra; segundo, por poder recebê-los aqui e dividir com todos, esse prazer de vivenciar fortaleza, na generosidade do seu povo e na grandeza das suas tradições.

O bairrismo me leva às raias do improvável, mas não deixo de imaginar que os renomados convidados americanos, possam, de volta ao seu país, entoar “Fortaleza, on my mind”, como se “Georgia” fosse, a imortal canção transmitida ao mundo, nas últimas Olimpíadas de Atlanta.

Também não me privo de pensar no que já disse o autor de “Morte e Vida Severina”, João Cabral de Melo Neto, sobre o gênio do simbolismo francês, compatriota, portanto, dos eméritos professores, aqui presentes, Daniel Sidi e Jerôme Lebidois: “depois de Beaudelaire, tudo o que disserem, já foi dito por ele”. Quem sabe, ao falar dos sentimentos humanos-vaidade, alegria, medo, satisfação, eu não esteja só repetindo o vate, ainda que seja uma obrigação de quem o conheça, não deixar que diminua o facho que iluminou o mundo.

Já me fiz extenso na minha fala e muito pouco disse sobre o motivo real de suas vindas ao Ceará: a participação no IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia.

Este, não seria, de princípio, um evento como tantos outros já acontecidos.

Houve, na sua preparação, uma preocupação inusitada com os temas de abordagem e com a escolha dos expositores.

Não faltou cuidado, diante da perspectiva de entrada no novo milênio, quando a ecocardiografia mais e mais se afirmará, mercê da sua capacidade de interferir, no âmbito das cardiopatias, tanto antes de sua ocorrência, como nos primeiros sinais de comprometimento.

O avanço da tecnologia, neste final de século, já permite a prevenção da mortalidade perinatal, com os exames eco-fetais. O sofrimento cárdio-fetal, inclusive, já pode ser diminuído, controlado e/ou até anulado pelo uso do ecocardiógrafo e a competência do ecocardiografista.

Assuntos como esse, estão inseridos na pauta da programação científica do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia.

A Medicina da era eletrônica, em que pese o seu tecnicismo, não perdeu a sua natureza humanística, embora ficando mais próxima da afirmação de Francis Bacon: “quem não aplica remédios novos, deve esperar novos sofrimentos, pois o tempo é o grande inovador”.

A ecocardiografia é inovadora. A ela se deve a continuidade de muitas vidas. A ela se agradece o poder percorrer, com muito mais profundidade os meandros do coração.

E por falar de coração, só me resta dizer como no verso do poeta desconhecido:

“Sino, coração da aldeia,

coração, sino da gente.

um a sentir, quando bate,

outro a bater quando sente”.

Meu coração, neste momento, é que nem o velho sino da aldeia, perdida nas brumas do tempo: no limite da compulsão, bate desvairado pela alegria de sabê-los partícipes de uma mesma causa, de uma mesma idéia, de um mesmo interesse pelo conhecimento que se promete.

Só tenho que agradecer por suas presenças.

Às autoridades, pelo prestígio conferido ao evento.

Aos convidados, pelo enriquecimento que suas experiências trazem ao simpósio.

Aos colegas participantes, pela oportunidade que se cria de ampliação dos seus horizontes científicos.

Enfim, tenho que agradecer a deus a graça que me foi concedida de poder dar-lhes as “boas vindas”, ao mesmo tempo em que faço minhas as palavras de Thiago de Melo: “desejo que a vida, que sempre foi boa comigo, abra também uma janela em seus corações, para que por ela possam entrar, o resplendor do orvalho, o fulgor das estrelas e o invisível arco-íris do amor”.

Muito obrigado a todos.

Na impossibilidade de homenagear a quantos deveria, pelo muito que representam nas áreas científicas, política, e empresarial do estado e do país, o IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia, restringe suas homenagens somente a alguns poucos que, pelo muito que têm feito, dela se tornaram maiores amores.

Um agradecimento especial há que ser feito a mentora espiritual da solenidade de abertura do evento, no Theatro José de Alencar. Quando o IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia ainda era uma idéia, foi Olga Paiva que pôs alma e coração a serviço do acontecimento, que teria, a partir de então, conformadas todas as suas estruturas.

A Dra. Glaura Férrer, escolha pessoal do presidente, referendada por seus pares, à conta do estímulo empresado do início de sua vida profissional e que se fez crescente ao longo tempo, não sem deixar de ser considerada a competência imprimida no exercício da profissão, tida como modelo para as gerações de cardiologistas que viriam a seguir.

Ao Dr. José Nogueira Paes, pela sua condição de pioneiro da ecocardiografia, no estado do Ceará, aliada a uma postura digna dos grandes homens da ciência.

Ao Dr. Ronaldo Mont’Alverne, por ter sido dos primeiros, no Ceará, a utilizar a ecocardiografia como meio diagnóstico das patologias do coração.

Ao Dr. Anastácio Queiroz de Sousa, médico e secretário estadual de saúde, pelo compromisso com a saúde, no Ceará.

Ao Dr. Régis Jucá, cardiologista de renome nacional e internacional pela crença depositada na ecocardiografia, desde o seu surgimento, com ênfase na implantação, ao nível local.

Tenho dito!

Discurso de abertura do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia pronunciado pelo Dr. José Eloy da Costa Filho, no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, em 30/10/1996.

Notas do Editor do Blog:

1) Os versos anunciados por Dr. Eloy neste discurso são da autoria de ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA, que nasceu em 30 de julho de1879 em São Pedro do Sul/Portugal. Foi um dos mais importantes poetas portugueses. Na Trova, foi a referência do mestre Orlando Brito. Quase vinte obras lançadas. Faleceu em Esposende/PT, em 20/12/1960. http://falandodetrova.com.br/correiadeoliveira

2) O arquivo com este discurso fora por mim preservado entre os documentos atinentes desse simpósio, do qual tomei parte da sua organização. Aqui cuidei tão somente de salvar e diagramar o texto original, usando um editor de texto atual, mas mantive a ortografia oficial vigente no momento em que foi proferido.

3) Esta postagem é uma homenagem ao Dr. Eloy, falecido em Fortaleza, em 1º/08/2020.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Médico da UFC – Turma 1977

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