Por Dr. José Eloy da Costa Filho
Exmos. Srs.
Distintos convidados do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia.
Prezados colegas participantes do evento,
Senhoras e senhores que aqui estão:
Meu maior capital, como ser humano é ser digno e
só a presidência deste simpósio, já me confere uma dignidade ímpar. José Eloy da Costa Filho
Já
foi dito que há momentos na vida em que, qualquer que seja a posição do corpo,
a alma está de joelhos.
Pois
bem, é assim como me sinto, diante de suas presenças.
A genuflexão
diz bem do meu estado de espírito, de puro encantamento e intensa satisfação
interior.
Trago
comigo a certeza de ter contribuído com total dedicação e redobrado esforço,
para realização de um grande acontecimento.
Não
que eu queira fazer convergir para mim, os louros da vitória.
Fui,
tão somente, um “entre tantos”, nesse processo exitoso, desde sua concepção.
Como
presidente, no entanto, do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia, tenho
que calar a minha timidez e me fazer de forte, com o fez Nijinski, ao receber
um troféu de ouro, na consagração da primavera.
Ele
que só sabia dançar, ainda que sua dança o fizesse subir aos céus, ao ser
agraciado, tropeçou e caiu no palco que era seu.
Eu, que
estou a milhões de ano luz da genialidade do bailarino, temo fazer o mesmo,
neste instante de glória.
Sou
um simples mortal e a honra do privilégio de abrir este evento, faz aflorar em
mim, sentimentos tão contraditórios, quanto perigosos: o orgulho do
ecocardiografista, saído de uma região adusta, como a do Nordeste brasileiro e
a humildade do profissional, premido pelos limites da geografia; a fidelidade
obstinada ao meu ideal de fazer deste, um acontecimento sem precedentes e o
temor injustificado de que as galas desta noite não alcancem o brilho merecido.
Não
me pejo de dizer que tenho medo.
Mesmo
sabendo o que já disse Castañeda: “o medo é o maior inimigo
do homem”.
Comigo
tenho, porém, o antídoto para essa fraqueza do espírito: a fé inabalável em
deus e a crença na inteligência e na audácia empreendedora dos meus pares.
De
verdade, estou vivendo a magia de um dos “instantes” de Jorge
Luiz Borges: “a vida é feita só de momentos” e
este, talvez que seja o mais importante da minha vida pessoal e profissional.
Meu
maior capital, como ser humano é ser digno e só a presidência deste simpósio,
já me confere uma dignidade ímpar.
Não
disse ainda da minha felicidade: primeiro, por viver em minha terra; segundo,
por poder recebê-los aqui e dividir com todos, esse prazer de vivenciar
fortaleza, na generosidade do seu povo e na grandeza das suas tradições.
O bairrismo
me leva às raias do improvável, mas não deixo de imaginar que os renomados
convidados americanos, possam, de volta ao seu país, entoar “Fortaleza,
on my mind”, como se “Georgia” fosse, a imortal canção
transmitida ao mundo, nas últimas Olimpíadas de Atlanta.
Também
não me privo de pensar no que já disse o autor de “Morte e Vida Severina”, João
Cabral de Melo Neto, sobre o gênio do simbolismo francês, compatriota,
portanto, dos eméritos professores, aqui presentes, Daniel Sidi e Jerôme
Lebidois: “depois de Beaudelaire, tudo o que disserem, já foi dito por ele”.
Quem sabe, ao falar dos sentimentos humanos-vaidade, alegria, medo, satisfação,
eu não esteja só repetindo o vate, ainda que seja uma obrigação de quem o
conheça, não deixar que diminua o facho que iluminou o mundo.
Já me
fiz extenso na minha fala e muito pouco disse sobre o motivo real de suas
vindas ao Ceará: a participação no IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia.
Este,
não seria, de princípio, um evento como tantos outros já acontecidos.
Houve,
na sua preparação, uma preocupação inusitada com os temas de abordagem e com a
escolha dos expositores.
Não
faltou cuidado, diante da perspectiva de entrada no novo milênio, quando a
ecocardiografia mais e mais se afirmará, mercê da sua capacidade de interferir,
no âmbito das cardiopatias, tanto antes de sua ocorrência, como nos primeiros
sinais de comprometimento.
O avanço
da tecnologia, neste final de século, já permite a prevenção da mortalidade
perinatal, com os exames eco-fetais. O sofrimento cárdio-fetal, inclusive, já
pode ser diminuído, controlado e/ou até anulado pelo uso do ecocardiógrafo e a
competência do ecocardiografista.
Assuntos
como esse, estão inseridos na pauta da programação científica do IX Simpósio
Internacional de Ecocardiografia.
A Medicina
da era eletrônica, em que pese o seu tecnicismo, não perdeu a sua natureza
humanística, embora ficando mais próxima da afirmação de Francis Bacon: “quem
não aplica remédios novos, deve esperar novos sofrimentos, pois o tempo é o
grande inovador”.
A ecocardiografia
é inovadora. A ela se deve a continuidade de muitas vidas. A ela se agradece o
poder percorrer, com muito mais profundidade os meandros do coração.
E por
falar de coração, só me resta dizer como no verso do poeta desconhecido:
“Sino, coração da aldeia,
coração, sino da gente.
um a sentir, quando bate,
outro
a bater quando sente”.
Meu
coração, neste momento, é que nem o velho sino da aldeia, perdida nas brumas do
tempo: no limite da compulsão, bate desvairado pela alegria de sabê-los
partícipes de uma mesma causa, de uma mesma idéia, de um mesmo interesse pelo
conhecimento que se promete.
Só
tenho que agradecer por suas presenças.
Às
autoridades, pelo prestígio conferido ao evento.
Aos
convidados, pelo enriquecimento que suas experiências trazem ao simpósio.
Aos
colegas participantes, pela oportunidade que se cria de ampliação dos seus
horizontes científicos.
Enfim,
tenho que agradecer a deus a graça que me foi concedida de poder dar-lhes as
“boas vindas”, ao mesmo tempo em que faço minhas as palavras de Thiago de Melo:
“desejo que a vida, que sempre foi boa comigo, abra também uma
janela em seus corações, para que por ela possam entrar, o resplendor do
orvalho, o fulgor das estrelas e o invisível arco-íris do amor”.
Muito
obrigado a todos.
Na
impossibilidade de homenagear a quantos deveria, pelo muito que representam nas
áreas científicas, política, e empresarial do estado e do país, o IX Simpósio
Internacional de Ecocardiografia, restringe suas homenagens somente a alguns
poucos que, pelo muito que têm feito, dela se tornaram maiores amores.
Um
agradecimento especial há que ser feito a mentora espiritual da solenidade de
abertura do evento, no Theatro José de Alencar. Quando o IX Simpósio
Internacional de Ecocardiografia ainda era uma idéia, foi Olga Paiva que pôs
alma e coração a serviço do acontecimento, que teria, a partir de então,
conformadas todas as suas estruturas.
A Dra.
Glaura Férrer, escolha pessoal do presidente, referendada por seus pares, à
conta do estímulo empresado do início de sua vida profissional e que se fez
crescente ao longo tempo, não sem deixar de ser considerada a competência
imprimida no exercício da profissão, tida como modelo para as gerações de
cardiologistas que viriam a seguir.
Ao
Dr. José Nogueira Paes, pela sua condição de pioneiro da ecocardiografia, no
estado do Ceará, aliada a uma postura digna dos grandes homens da ciência.
Ao
Dr. Ronaldo Mont’Alverne, por ter sido dos primeiros, no Ceará, a utilizar a
ecocardiografia como meio diagnóstico das patologias do coração.
Ao
Dr. Anastácio Queiroz de Sousa, médico e secretário estadual de saúde, pelo
compromisso com a saúde, no Ceará.
Ao
Dr. Régis Jucá, cardiologista de renome nacional e internacional pela crença
depositada na ecocardiografia, desde o seu surgimento, com ênfase na
implantação, ao nível local.
Tenho
dito!
Discurso
de abertura do IX Simpósio Internacional de Ecocardiografia pronunciado pelo
Dr. José Eloy da Costa Filho, no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, em
30/10/1996.
Notas do Editor do Blog:
1) Os versos anunciados por Dr. Eloy neste discurso são da autoria de ANTÓNIO CORREIA
DE OLIVEIRA, que nasceu em 30 de
julho de1879 em São Pedro do Sul/Portugal. Foi um dos mais importantes poetas
portugueses. Na Trova, foi a referência do mestre Orlando Brito. Quase vinte
obras lançadas. Faleceu em Esposende/PT, em 20/12/1960. http://falandodetrova.com.br/correiadeoliveira
2) O arquivo com este discurso fora por mim preservado entre os
documentos atinentes desse simpósio, do qual tomei parte da sua organização.
Aqui cuidei tão somente de salvar e diagramar o texto original, usando um
editor de texto atual, mas mantive a ortografia oficial vigente no momento em
que foi proferido.
3) Esta postagem é uma homenagem ao Dr. Eloy, falecido em Fortaleza, em 1º/08/2020.
Marcelo Gurgel Carlos
da Silva
Médico da UFC – Turma 1977
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