quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

ANO NOVO

Por Patrícia Soares de Sá Cavalcante (*)

A vida é um dia. Um dia que transcorre onde estamos. A janela pode estar aberta, mas, por vezes, a vida passa por ela e não a percebemos. Como a Carolina do Chico, ele bem que lhe disse: "Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu, o tempo passou na janela, só Carolina não viu."

Hoje à noite veremos estrelas exuberantes e cintilantes no céu. Faremos nossos pedidos e desejaremos grandes realizações para o ano que se aproxima, pois insistimos na ideia de que o que dá sentido à vida é a concretização de feitos extraordinários, algo maravilhoso, porém raro de acontecer. Mantemos a exigência de um estado de felicidade constante.

Alguns já desistiram e, após o tilintar das taças à meia-noite, ou até mesmo antes, irão dormir como de costume, desprovidos de esperança, convencidos de que a vida seguirá, sem grandes transformações, e que amanhã será mais uma quarta-feira.

Há aqueles que comemoram as grandes conquistas, mas que também são sensíveis às pequenas alegrias, como o nascer de uma rosa, tornando única uma quarta-feira qualquer. Essa é a esperança mais bonita, e todos nós podemos desenvolvê-la. É como uma espécie de lanterna interna que dispara pequeninas estrelas, que brilham em nosso peito, quando experimentamos algo verdadeiramente genuíno e simples. Aí, sim, é nesse instante que tudo se ilumina e o ano novo se revela, acontece dentro da gente e pode surgir a qualquer hora, em qualquer momento.

Ano novo é poder experimentar a liberdade de abrir a janela e olhar através dela. Observar o Sol e sentir a alegria do calor na pele e, depois que ele se põe, aceitar a melancolia que, às vezes, surge, como disse Fernando Pessoa (Alberto Caeiro): "Eu fico triste como um pôr do sol, mas a minha tristeza é sossego porque é natural e justa". Ano novo é poder contemplar a Lua e seus mistérios. Olhar o mar e admirar a maré calma e a maré revolta, sabendo que sempre se alternarão. Ano novo é surpreender-se com as árvores dançando ao vento e ser capaz de perceber o bom dia no canto dos passarinhos. Ano novo é quando, após perder o telhado, desenvolve-se a capacidade de contemplar as estrelas. Feliz ano novo!

(*) Médica psiquiatra.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 31/12/2024. Opinião. p.26.

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