Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)
O Brasil tem a
segunda maior taxa de desigualdade de riqueza entre 56 países, ficando atrás
apenas da África do Sul. Essa situação pode se agravar caso a sociedade
organizada e as instituições não reconheçam que o atual grau de concentração de
renda é insustentável. Sem enfrentar esse problema, o Estado não terá
dificuldades em implementar políticas públicas que promovam um desenvolvimento
equilibrado e inclusivo.
De acordo com o Relatório
Riqueza Global 2024 (disponível em: <http://surl.li/oxcviu>), elaborado
pelo banco suíço UBS, referência mundial em serviços financeiros, o patrimônio
médio por adulto no Brasil cresceu mais de 375% desde a crise financeira de
2008, superando o México e a China. Ainda assim, o País tem a segunda maior
taxa de desigualdade de riqueza entre 56 países (repetição proposital!) e a
terceira maior taxa de juros do mundo, perdendo apenas para a Rússia e a
Turquia.
Outros estudos do
UBS (disponíveis em: <https://encurtador.com.br/HY6fP>) projetam um
aumento de 22% no número de milionários brasileiros até 2028, totalizando 464
mil pessoas com patrimônio igual ou superior a US$ 1 milhão. Esse crescimento
será impulsionado, em parte, pela transferência de riqueza de fundadores de
empresas para a próxima geração. Pela primeira vez em nove edições do Relatório
de Ambições de Bilionários do banco suíço, novos bilionários acumularam mais
riqueza por meio de herança doque por empreendedorismo, refletindo uma baixa
geração de valor adicionado. Em um único ano, US$ 150,8 bilhões foram herdados
por 53 indivíduos em todo o mundo, superando os US$ 140,7 bilhões acumulados
por 84 bilionários que construíram suas fortunas de forma independente.
Uma pesquisa
recente da Genial/Quaest, realizada com 105 profissionais do mercado
financeiro, revelou forte resistência às políticas tributárias propostas pelo
governo federal. Entre os entrevistados, 96% acreditam que a economia está na
direção errada, 90% avaliam negativamente o governo e 85% consideram
prejudicial a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco salários
mínimos. Para a maioria, o aumento da tributação para quem tem rendimentos
acima de R$ 50 mil mensais (com 10% sobre o valor recebido) não trará
benefícios à economia.
Mas por que essa
reação? Porque o governo busca compensar quem tem renda superior a R$ 600 mil
em favor dos que ganham até R$ 5 mil, visando recuperar uma perda de
arrecadação estimada em R$ 35 bilhões. Ou seja, um bilionário que recebe R$ 10
milhões teria de pagar R$ 1 milhão. É disso que o “mercado” não gosta.
Contudo, os
números da economia contrariam essa reatividade do “mercado”, formado por cerca
de 140 instituições financeiras responsáveis pela produção do Boletim Focus. A
pesquisa da Genial/Quaest não considerou que a pobreza extrema caiu de 31,6%
para 27,4%, o que representa, em termos absolutos, uma redução de 67,7 milhões
para 59 milhões de pobres extremos. Os pessimistas também ignoraram que o
Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2024 teve alta de 0,9% e
que, no acumulado anual, o crescimento de 2024 pode chegar a 3,3%, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, o
“mercado” também errou em suas previsões para o crescimento da economia em
2023, apostando em uma expansão de 0,8%, conforme estimativa do pelo Fundo
Monetário Internacional. Na realidade, o Brasil registrou um crescimento de
2,9% no PIB, superando as expectativas pessimistas. A taxa de desemprego também
contrariou as previsões, atingindo 6,2% no trimestre encerrado em outubro de
2024, a menor desde o início da série histórica, em 2012.
Concluo com uma
reflexão do economista Delfim Neto: “Para o mercado funcionar, ele tem que ter
um mínimo de moralidade. E a moralidade no mercado vem da igualdade de
oportunidades”.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e
Planejamento do Eusébio-Ceará.
Fonte: O Povo, de 12/12/24. Opinião. p.17.
Nenhum comentário:
Postar um comentário