Por Izabel Gurgel (*)
É de cipó de croapé a cestinha com sementes fazendo as vezes de
frutas no presépio que Sandro Cidrão monta no museu por ele criado há 13 anos
em Santana do Cariri, no sul do Ceará. Em viagem, Maria e José levavam o que
comer e cabacinha com água.
Chico Pezinho fez, com palito de picolé, as miniaturas da Matriz de
Senhora Sant´Ana, padroeira do município, e da capela de São Vicente, padroeiro
do distrito de Inhumas, onde vive. Francisco Agostinho Vieira tem 91 anos.
Nasceu no Natal de 1933.
O professor Sandro tem um presépio inteirinho esculpido e pintado
pelo agricultor e mestre de ofícios, em imburana de cambão, a madeira reportada
como doce e sensível ao corte por xilogravadores e escultores, cantadas
(madeira, artistas e obras) por poetas e pesquisadores.
Está sobre um baú de madeira no Espaço Literário Poeta Maranhão. O
lugar (galeria, livraria, sebo) diz do modo de atuação do professor. Fica na
antiga sede do patronato onde ele estudou, na rua Deputado Furtado Leite,
293-B.
Vamos voltar ao museu. Nossa Senhora, um dos pastores e três dos
Reis Magos eram do presépio de Dona Ilza Francisco, Maria Ilza da Silva, o mais
bonito da cidade aos olhos do menino Sandro, que nasceu em 1962, três dias
depois do dia de São José.
Ele fez em casa parte do aprendizado de ver, apreciar, montar
presépio. Maria da Silva Cidrão (1937-2011) fazia doces e pipoca para venda. E
grinalda de noiva, “adereços para Primeira Comunhão e Coroação de Nossa
Senhora”. E bolo de aniversário, que o marido confeitava.
Antônio Almenir Cidrão (1927-2019) era agricultor, poeta, santeiro.
O presépio da casa da família, com peças em barro, gesso e madeira, tinha
também a mão dos filhos Socorrinha, Sandro, Sandruel e Aurimar.
Almenir Cidrão fazia os novenários na cidade e era chamado para
tirar Renovação, como se diz do responsável, por conhecimento e devoção, pelo
ofício de rezador do culto doméstico ao Sagrado Coração de Jesus.
De forte presença no Cariri, começa pela entronização do Sagrado
Coração em casa, um acontecimento. Ano após ano, no mesmo dia da entronização,
faz-se a Renovação. Festejo e fartura, é festa da fé. Pode ter banda cabaçal e
brincantes de outros folguedos.
Com o pai convidado para Renovação nos sítios, o menino Sandro fez
aí também sua descoberta do mundo. Mundos. Nos caminhos para Renovação, por
exemplo, via a cruz que “chamava a atenção” no Sítio Oiti, em Inhumas.
A cruz em memória da menina, tornada mártir, Benigna Cardoso da
Silva (1928-1941). Contemporâneos, Almenir e Chico Pezinho, fontes, irrigaram o
escritor e artista. O desenho que o professor Sandro fez dela, um retrato
falado, não cessa de gerar outras imagens.
Voltemos ao museu: rua Duque de Caxias, 420, na outrora casa da
família de Maria e Almenir Cidrão. Sandro, Selma e as filhas Ana Elis e Ana
Perla moram na mesma rua, casa de número 376. Mesa, bancos e cadeiras de casa
estão na base do presépio do museu.
Quis saber sobre a cestinha de cipó, onde era feita, por quem.
Artesania da Serra do Rogério, Dom Leme, um dos cinco distritos do município.
Ouvi além: o pai contou da lembrancinha para visitantes da primeira filha, Ana
Elis, nascida em 1996. Bercinhos de cipó de croapé.
Na terra onde viveram Plácido Cidade Nuvens (1943-2016), criador do
Museu de Paleontologia que hoje tem seu nome, e Maria Cesarina Lacerda de Souza
(1927-2001), fonte das rendeiras das redes de bilro na cidade, Sandro fez
nascer o Museu da Memória Histórica Santanense.
(*) Jornalista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/12/24. Vida & Arte, p.2.
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