Por Sofia Lerche Vieira (*)
No apagar das luzes da administração que se encerra, é possível
afirmar que a gestão municipal cumpriu a bom termo seu dever em educação:
expandiu a oferta de ensino em todas as etapas sob sua responsabilidade,
ampliou as escolas de tempo integral, qualificou seus professores e se destacou
por melhorias significativas nos indicadores de qualidade educacional, dentre
outros avanços.
A escola municipal não é a mesma, como também não são seus
professores que tiveram reconhecimento de sua produção, oportunidade de fazer
cursos de pós-graduação stricto sensu através do Observatório da Educação (Lei
n° 11.207/2021) e participar de intercâmbios em outros países.
A cidade, porém, quer mais. A despeito de todo o esforço, o que faz
a manchete do dia é a carência de vagas em creches de Fortaleza (O POVO,
27/11/2024), embora uma análise cuidadosa dos dados permita verificar que o
Ceará e Fortaleza têm os melhores indicadores de cobertura do Nordeste entre
estados e capitais.
Administrar Fortaleza é desafio complexo. Seu crescimento
desordenado separa e aparta ricos de pobres, delegando à população mais
vulnerável os territórios menores e mais depreciados. Se os bairros nobres
ostentam aqui e ali espaços de lazer em harmonia com a natureza, a periferia
sofre com calor, poluição, falta de esgotamento sanitário etc. Essas e outras
mazelas são desafios para a gestão a se iniciar em 2025. A educação não foge à
regra.
É preciso fazer mais e melhor pelos que mais necessitam. Isto
inclui políticas de equidade que contribuam para dirimir não apenas as desigualdades
econômicas e sociais mais amplas, como também aquelas mais sutis, inscritas no
interior da própria rede, como por exemplo a convivência entre creches
patrimoniais e parceiras, cujas diferenças marcantes ocultam desigualdades
profundas de atendimento às crianças que as frequentam.
Espera-se que os próximos passos se orientem para dar continuidade
às conquistas obtidas, com foco nos desafios da equidade, da expansão e da
qualidade de toda a rede. Fortaleza merece sonhar e vir a ser a capital com a
melhor educação do país.
(*) Professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/12/24. Opinião. p.18.
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