Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Parece um mantra da administração em
qualquer atividade pública ou privada.
Recentemente, estive numa reunião da
faculdade de Medicina da UFC, onde se tratou de como melhorar a formação dos
nossos alunos. Abordamos conteúdos teóricos, ambientes de prática, número de
alunos por professor em aulas práticas, dentre outros aspectos como novas
metodologias, incluindo simulação e inteligência artificial.
A busca constante de aperfeiçoamento é um
princípio de qualquer profissional, especialmente quando se trata da formação
de pessoas.
Até aí, tudo bem. Mas, quando percebi que
alguns questionavam o comportamento dos alunos quanto ao compromisso com o
cuidar.
Pois bem, me veio uma indagação. Afinal,
nós, Universidades, contratamos nossos professores baseados nessas habilidades?
Em geral contratamos doutores no sentido stricto, portadores de título de
doutorado. Serão somente eles os apropriados para a formação dos nossos futuros
médicos?
Num passado não tão distante éramos
treinados por médicos e cidadãos dotados de arte, humanismo e paixão. Em sua
maioria não possuíam pós-graduação, mas sabiam entender situações complexas,
com intuição e conhecimento.
A formação em pesquisa, em metodologia
científica é essencial para uma sociedade que evolui para um futuro mais justo.
No entanto, também precisamos de líderes humanistas que desafiam as verdades,
que rompem com o esboço burocrático que tanto amordaça o centro de produção do
conhecimento.
Precisamos sim, contratar cientistas no
sentido mais formal, e ainda mais contratar homens dotados de espírito
humanista.
Infelizmente, continuamos contratando
títulos e não pessoas.
No que se refere ao desejo da sociedade,
penso que quem procura um médico espera encontrar um Hipócrates. No entanto,
mesmo ela, a sociedade, não contrata essas habilidades.
Fazendo uma analogia, contratamos um
Salieri mas desejamos um Mozart para transmitir nossas emoções. Lembrando que a
imagem de Salieri, compositor italiano retratado por Milos Forman, parece não
ser fiel a realidade.
Há, portanto, de se transformar a
governança em nossas Universidades para que possamos formar, atrair e fixar
líderes, garantindo o ciclo virtuoso do conhecimento e, consequentemente, do
bem-estar social.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/11/2024. Opinião. p.23.
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