Por Tales de Sá Cavalcante (*)
O ex-presidente Juscelino Kubitschek revelou-se pela ousadia e
eficiência na construção de Brasília, em seu plano de metas e no projeto em
parceria com Oscar Niemeyer em Pampulha, que se tornou Patrimônio da
Humanidade. Em tempos de perpendicularismo, as curvas foram exaltadas em
Pampulha, e explicou Niemeyer: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha
reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e
sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos
seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito
todo o universo, o universo curvo de Einstein.”
Ao homenagear o ex-presidente JK, disse o quase presidente Tancredo
Neves: “O exílio é o preço que os grandes homens pagam para conseguir um lugar
no coração do povo.” E, ao citar Shakespeare, afirmou: “Dos nobres era o mais
nobre. A sua vida era pura. Os elementos que compunham o seu ser de tal forma
nele se conjugavam, que a Natureza inteira poderia levantar-se e bradar ao
universo: ‘Aqui está um homem.’” Será que o ser de cada um dos responsáveis
pela recente queda da ponte entre Tocantins e Maranhão diz “Aqui está um
homem”?
Inaugurada em 1961, com 140 m de vão livre, à época o maior do
planeta em concreto armado e protendido, a ponte tombou recentemente, apesar de
vários avisos. Ao cair, deixou 14 mortos e 3 desaparecidos, segundo a mídia. E,
paradoxalmente, possui um nome que lembra eficiência: Juscelino Kubitschek.
Hoje, uma em cada cinco unidades de nosso país, entre viadutos e pontes, requer
inspeções, manutenções e ações periódicas, a evitar sobrecarga e deterioração
estrutural.
As estradas privatizadas vão bem. Que tal fazermos o mesmo nas
pontes? Para o notável economista John Keynes, “não cabe ao governo fazer um
pouco melhor ou um pouco pior o que outros podem fazer, e sim o que ninguém
pode fazer”. Os brasileiros, reais proprietários da ponte, tiveram um grande
prejuízo econômico e a perda impagável de vidas humanas, de vez que, se
procurássemos um numeral para expressar o valor que um inocente perde ao
esvair-se sua vida, chegaríamos ao infinito.
(*) Reitor do FB UNI e
Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/01/25. Opinião, p.18.
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