Só não quero que façam
lembrar...
O
sujeito, bairro inteiro tomou conhecimento, foi permutado afetivamente
pelo verdureiro. Tinha já um mês separado de Nilinha, que não tolerava ver
o fucim do ex. Pegou abuso. A moça não era detentora dessas belezas todas (o
que vendia verduras, legumes e frutas tampouco). O glamour da criatura, o
cafuné que fazia, como poucos no planeta. Certo é que, pra tirar a suja da
traição sofrida, o cara deu uma festinha na comemoração dos "45 outubros
de vida bem vividos e felizes".
Do
povo da família de Nilinha, o pai, Nilão, o único convidado. A ideia do corno
véi era transparecer clima de "nem aí pro azar, superei a troca o mal
entendido". O sempre gentil pai da cafunezeira-mor, um dos últimos a
chegar; radiola troando no mundo. Com um presente em mão, lindamente embalado.
19 horas de domingo e os convivas melados já. A "situação chífrica"
do dono da casa, ninguém debatia abertamente. Mas Nilão foi infeliz na escolha
do presente. Solene, faz a entrega, ante a multidão caladamente gozadora.
Passou
às mãos do aniversariante um porta-rapé em formato de chifre, modelo antigo,
bem polido, desses que comportam 30gr de tabaco em pó. Confusão pra mais de
quilo!
Far west fí duma égua!
Idos
de 1950. A cidade vivia período de concorrência pública para ingresso, de quem
se habilitasse, na atividade de cartório. Muita gente interessada na região.
Entre os concorrentes, um homem próspero de cidade próxima, tido por potencial
vencedor da peleja. Seu Raimundo, morador local, um dos últimos do ranking, foi
contudo o aprovado. Para tanto, usou artifício pouco republicano.
Eram
oito concorrentes. Venceu os sete na base do susto amedrontador. A trama:
combinou com o maquinista amigo que tão logo o trem chegasse à estação
transportando seus concorrentes, um bando de cangaceiros contratados tomaria o
carro à bala, despejando bando de homens violentos e rudes nos vagões,
porquanto rudes e violentos deveriam ser conhecidos os moradores da cidade. Deu
certo a artimanha. O acerto:
-
Cumpade - Raimundo maquina com o maquinista -, contratei uns meninos da Baixa
Grande pra dar um susto nos concorrentes, amanhã bem cedo, na chegada do
trem...
-
Só pra amedrontar, né?
-
Justo. Nem cascudo é pra dar. Só atirar pra cima, fazer cara feia, pra nem
descerem.
-
E voltarem pra casa na mesma pisada! Entendi!
Foi
bala, viu? O figurão qualificado pra ganhar a concorrência, com o caneco na
mão...
-
Maquinista, pelo amor de Deus!!! Pelo bem que tu quer à tua mãe, dê meia volta!
Deixe nós em casa!!! Diabo é quem participa desse 'farueste' sem futuro!
Há males que...
Ficou
acertado entre os "cumpade" Fransquim e Zéu que quem morresse
primeiro vinha buscar o outro. E era pra levar, de mesmo, o que ficou vivo,
"nem que a porca tussa"; só sossegar, o morto, quando o levar o vivo.
Prego batido, ponta virada. Tudo registrado em cartório. Zéu morreu duma
caganeira dias depois. E bate desespero em Raimundo, agora morrendo de medo de
morrer.
Primeiro
cuidado que tomou: parou de beber. A seguir, perdeu 15 quilos. Passou a fazer
exercícios físicos regulares. Raparigar, nunca mais. Ficou um santo, de súbito,
só pra evitar bater a caçulêta, por influência espiritual forte do falecido
Zéu. A apoteose: mandou rezar uma dúzia de missas, com o padre amigo de
Fransquim pedindo, pelo amor de Deus, que Zéu não cumprisse aquela promessa sem
futuro, onde estivesse.
-
Zéu, tu tá no céu. E Fransquim não sabe o que diz! Deixe de ser isprito
de cuia!
Fonte: O POVO, de 17/01/2025. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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