Por
Saraiva Junior (*)
Às vezes sinto um misto de pena e tristeza a respeito do governador
do Ceará, Elmano de Freitas. Trata-se de um homem que cresceu na militância
política da esquerda e, ultimamente, vem se mostrando simpático à direita. Como
deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT), elaborou a Lei Zé Maria
de Tomé que proibia a pulverização aérea com agrotóxicos. Agora, contudo, ele
mesmo retrocede e assina um Projeto de Lei que permite o uso de agrotóxicos
através de drones e outros veículos aéreos.
Outra atitude estranha: o governador indicou, para presidir a
Assembleia Legislativa do Ceará, o deputado estadual Fernando Santana, o mesmo
que perdeu as eleições para prefeito de Juazeiro do Norte. Será que foi ideia
dele ou do ministro da Educação, Camilo Santana? Pensavam que o senador Cid
Gomes, líder do maior grupo de prefeitos do interior do Ceará, estava
distraído? Bastou uma ameaça do Cid para tudo voltar ao “normal”, logo, o
governador percebeu que não tem tanta autonomia como imaginava.
O jogo político é uma arte. Sendo assim, o governador arriscou uma
grande jogada ao prometer bíblias nas salas de aula das escolas do Ceará. Tudo
para conquistar a bancada evangélica. Não seria melhor estimular a militância
do PT a sair pelas ruas, promovendo debates políticos nos bairros, nas favelas
e nas associações civis organizadas? Afinal, esses diretórios petistas servem
apenas para homologar candidaturas de burocratas?
Como o poder embriaga, o ministro da Educação, e ex-governador,
Camilo Santana resolveu descer goela abaixo a indicação de sua esposa, Onélia
Santana, como Conselheira do Tribunal de Contas do Estado, um cargo vitalício.
Lembrando que o TCE precisa de pessoas qualificadas em Direito, Economia,
Administração, dentre outras expertises. Será que esses políticos,
independentemente de cores ideológicas, quando alcançam o poder, não têm amigos
ou assessores que lhes digam que essa foi uma péssima ideia? Quem sabe, eles
prefiram a companhia dos bajuladores.
As consequências dessas atitudes, fruto da arrogância, podem ser
desastrosas para a esquerda, a curto prazo. Trazem manchas indeléveis para as
carreiras políticas. O governador Elmano ainda não soube caracterizar sua
administração. O ministro da educação Camilo se agarra ao programa Pé de Meia e
parece não vislumbrar outros horizontes. Sem povo, sem debates e conflitos, a
busca por saída foi clamar por Chagas abertas...
(*) Escritor e
ex-conselheiro do Conselho de Leitores de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/01/25. Opinião. p.16.
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