quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

ADVENTO: uma espera que transforma

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

O Advento sempre chega como um suspiro de Deus dentro de nós, um chamado discreto que atravessa o rumor dos dias e nos convida a despertar. Não é apenas o prelúdio do Natal, mas caminho espiritual para acolher novamente aquele que insiste em nascer em nossas fragilidades.

Este tempo litúrgico carrega uma beleza própria, a da espera. Esperar, na perspectiva Inaciana, é sempre um gesto de amor consciente, atento e profundamente disponível.

Santo Inácio nos recorda, em seus Exercícios, que a vida só se torna verdadeiramente fecunda quando aprendemos a encontrar Deus em todas as coisas. No Advento, esse apelo ganha um brilho particular.

Cristo se aproxima não apenas pelos textos bíblicos ou pelos ritos da Igreja, mas pelos gestos cotidianos que revelam sua presença escondida: um perdão oferecido, uma palavra que consola, um silêncio que acolhe. Deus vem, e quase sempre vem assim — pelas portas pequenas.

O Natal que aguardamos não é lembrança distante, mas acontecimento sempre novo. Cristo nasce cada vez que cedemos espaço à ternura, que reconhecemos a própria limitação e deixamos que a graça nos refaça. Ele nasce quando abandonamos a dureza, quando reconciliamos relações, quando abrimos o coração para curar feridas que arrastamos há anos. A verdadeira manjedoura não está em Belém, mas no interior de cada pessoa que se deixa transformar.

Contudo, é fácil perder-se na superfície do tempo. As luzes e festas podem nos distrair do essencial, convertendo o sagrado em mera decoração. Por isso, o Advento pede vigilância amorosa, não movida pelo medo, mas pelo desejo profundo de não deixar passar despercebido o Deus que se aproxima.

O Exame de Consciência, tão central para Santo Inácio, é um instrumento precioso nesse caminho. Nele, revisamos o dia, reconhecemos a ação divina, acolhemos nossas sombras e recomeçamos na luz.

Que este Advento seja um tempo de ampliar o coração, permitindo que Cristo entre nos lugares mais escuros de nossa história. Ele não teme nossa miséria; escolhe justamente esse terreno para fazer brotar vida nova.

Que Maria, a primeira a viver a espera, nos ensine a gestar o Deus que vem, e que, quando o Natal amanhecer, sejamos pessoas mais inteiras e mais capazes de amar.

Vem, Senhor Jesus.

Vem nascer, mais uma vez, dentro de nós.

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.

Fonte: O Povo, de 13/12/2025. Opinião. p.14.


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