Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
O Advento sempre chega como um suspiro
de Deus dentro de nós, um chamado discreto que atravessa o rumor dos dias e nos
convida a despertar. Não é apenas o prelúdio do Natal, mas caminho espiritual
para acolher novamente aquele que insiste em nascer em nossas fragilidades.
Este tempo litúrgico carrega uma beleza
própria, a da espera. Esperar, na perspectiva Inaciana, é sempre um gesto de
amor consciente, atento e profundamente disponível.
Santo Inácio nos recorda, em seus
Exercícios, que a vida só se torna verdadeiramente fecunda quando aprendemos a
encontrar Deus em todas as coisas. No Advento, esse apelo ganha um brilho
particular.
Cristo se aproxima não apenas pelos textos
bíblicos ou pelos ritos da Igreja, mas pelos gestos cotidianos que revelam sua
presença escondida: um perdão oferecido, uma palavra que consola, um silêncio
que acolhe. Deus vem, e quase sempre vem assim — pelas portas pequenas.
O Natal que aguardamos não é lembrança
distante, mas acontecimento sempre novo. Cristo nasce cada vez que cedemos
espaço à ternura, que reconhecemos a própria limitação e deixamos que a graça
nos refaça. Ele nasce quando abandonamos a dureza, quando reconciliamos
relações, quando abrimos o coração para curar feridas que arrastamos há anos. A
verdadeira manjedoura não está em Belém, mas no interior de cada pessoa que se
deixa transformar.
Contudo, é fácil perder-se na superfície
do tempo. As luzes e festas podem nos distrair do essencial, convertendo o
sagrado em mera decoração. Por isso, o Advento pede vigilância amorosa, não
movida pelo medo, mas pelo desejo profundo de não deixar passar despercebido o
Deus que se aproxima.
O Exame de Consciência, tão central para
Santo Inácio, é um instrumento precioso nesse caminho. Nele, revisamos o dia,
reconhecemos a ação divina, acolhemos nossas sombras e recomeçamos na luz.
Que este Advento seja um tempo de
ampliar o coração, permitindo que Cristo entre nos lugares mais escuros de nossa
história. Ele não teme nossa miséria; escolhe justamente esse terreno para
fazer brotar vida nova.
Que Maria, a primeira a viver a espera,
nos ensine a gestar o Deus que vem, e que, quando o Natal amanhecer, sejamos
pessoas mais inteiras e mais capazes de amar.
Vem, Senhor Jesus.
Vem nascer, mais uma vez, dentro de nós.
(*) Sacerdote
jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de
Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.
Fonte: O Povo, de 13/12/2025.
Opinião. p.14.

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