Por Emanuel
Freitas da Silva (*)
Quando o governador Elmano de Freitas
(PT) anunciou, ano passado, apoio à aquisição de exemplares da Bíblia para
distribuição em escolas estaduais, atendendo desejo do deputado Apóstolo Luiz
Henrique (REP) expresso por projeto de lei de sua autoria, a reação de
parlamentares evangélicos na Alece foi opor-se ao projeto porque "quem é
crente já tem Bíblia, não precisa de ninguém para distribuir".
É verdade: livro mais vendido no mundo
está por todo lugar. Quem foi jovem nos anos 1990 vai se lembrar do famoso
"Novo Testamento", em capa azul ou cinza, distribuído nas escolas
pelas Testemunhas de Jeová.
Os deputados evangélicos daqui
puseram-se contra a ideia de "Bíblia nas escolas", posto que a ação
seria executada por um governador do PT. Mas, de repente, Brasil afora, pululam
projetos de lei, em diversas Casas Legislativas, que visam o contrário:
políticos evangélicos querem, e como, "Bíblias nas escolas".
O "intervalo bíblico" foi
aprovado em Recife, num projeto de lei que, na verdade, versava sobre
"liberdade religiosa"; projeto semelhante já tramita na Alepe, sob a
justificativa de que "o estado não é antirreligioso". A Prefeitura de
Curitiba decidiu distribuir exemplares do Novo Testamento nas escolas
municipais.
Em Salvador, a Câmara aprovou e o
prefeito sancionou projeto de lei que autoriza o uso da Bíblia como recurso
paradidático em escolas públicas e particulares, como instrumento de apoio em
disciplinas como História, Literatura, Geografia, Filosofia, Artes e Ensino
Religioso. O mesmo aconteceu em Florianópolis, Belo Horizonte, Feira de Santana
e Joinville, só para falarmos de grandes cidades.
No mês passado, até audiência pública no
Senado Federal foi realizada, sob a condução de Damares Alves (REP), para
discutir a proibição de "alterações" no texto sagrado.
A tramitação e discussão dos projetos
servem para manter vivo o pânico moral em torno da esquerda, pondo-lhe a pecha
de "inimiga da fé cristã" ao interpelar a laicidade do estado; por
que se opor à presença e ao uso da "palavra de Deus" em escolas?
Tudo é feito em nome do "combate à
intolerância religiosa", entendendo por religião apenas aquela que usa a
"Bíblia". Um passo a mais na legitimação do imaginário da
"cristofobia" supostamente em curso.
(*) Professor adjunto
de teoria política da Uece/Facedi.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/11/25.
Opinião. p.16.

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