domingo, 21 de dezembro de 2025

A BÍBLIA COMO ATIVO POLÍTICO

Por Emanuel Freitas da Silva (*)

Quando o governador Elmano de Freitas (PT) anunciou, ano passado, apoio à aquisição de exemplares da Bíblia para distribuição em escolas estaduais, atendendo desejo do deputado Apóstolo Luiz Henrique (REP) expresso por projeto de lei de sua autoria, a reação de parlamentares evangélicos na Alece foi opor-se ao projeto porque "quem é crente já tem Bíblia, não precisa de ninguém para distribuir".

É verdade: livro mais vendido no mundo está por todo lugar. Quem foi jovem nos anos 1990 vai se lembrar do famoso "Novo Testamento", em capa azul ou cinza, distribuído nas escolas pelas Testemunhas de Jeová.

Os deputados evangélicos daqui puseram-se contra a ideia de "Bíblia nas escolas", posto que a ação seria executada por um governador do PT. Mas, de repente, Brasil afora, pululam projetos de lei, em diversas Casas Legislativas, que visam o contrário: políticos evangélicos querem, e como, "Bíblias nas escolas".

O "intervalo bíblico" foi aprovado em Recife, num projeto de lei que, na verdade, versava sobre "liberdade religiosa"; projeto semelhante já tramita na Alepe, sob a justificativa de que "o estado não é antirreligioso". A Prefeitura de Curitiba decidiu distribuir exemplares do Novo Testamento nas escolas municipais.

Em Salvador, a Câmara aprovou e o prefeito sancionou projeto de lei que autoriza o uso da Bíblia como recurso paradidático em escolas públicas e particulares, como instrumento de apoio em disciplinas como História, Literatura, Geografia, Filosofia, Artes e Ensino Religioso. O mesmo aconteceu em Florianópolis, Belo Horizonte, Feira de Santana e Joinville, só para falarmos de grandes cidades.

No mês passado, até audiência pública no Senado Federal foi realizada, sob a condução de Damares Alves (REP), para discutir a proibição de "alterações" no texto sagrado.

A tramitação e discussão dos projetos servem para manter vivo o pânico moral em torno da esquerda, pondo-lhe a pecha de "inimiga da fé cristã" ao interpelar a laicidade do estado; por que se opor à presença e ao uso da "palavra de Deus" em escolas?

Tudo é feito em nome do "combate à intolerância religiosa", entendendo por religião apenas aquela que usa a "Bíblia". Um passo a mais na legitimação do imaginário da "cristofobia" supostamente em curso.

(*) Professor adjunto de teoria política da Uece/Facedi.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/11/25. Opinião. p.16.


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