Por Emanuel
Freitas da Silva (*)
No último dia 26/10/25 celebrou-se, na
Catedral Metropolitana de Fortaleza, os 50 anos da presença da Renovação
Carismática Católica na cidade. Movimento de cunho pentecostal surgido em 1967,
nos Estados Unidos (o famoso “final de semana de Duquesne”), aportou em terras
alencarinas em 1975, por meio do trabalho missionário de padres jesuítas, para
logo depois ser conduzido hegemonicamente por fiéis leigos. Buscou, desde seus
primórdios, ser a “renovação” do catolicismo como um todo, daí a disputa que se
travou, por muito tempo, quanto ao uso do termo “movimento” para o
caracterizar.
Há muito o que se comemorar no que diz
respeito à Arquidiocese: inexistiram, da parte dos arcebispos, grandes entraves
à presença do movimento nas igrejas (embora muitos padres tenham oferecido,
nesses anos, alguns embaraços), podendo mesmo ser destacado o expressivo número
de Novas Comunidades fundadas sob a batuta de Dom José Antônio; muitas novas
expressões do catolicismo foram originadas na espiritualidade da RCC de
Fortaleza ou têm nela seu público majoritário; missas e eventos católicos
assumiram, em sua imensa maioria, a gramática dos louvores e da animação
carismática (como a Caminhada com Maria), o que explica, em grande medida, a
resistência do Ceará como o segundo estado mais católico do país.
Mas, há também desafios importantes
produzidos pela longe durée do movimento: enfrentamentos internos, que
levaram alguns à ruptura com a Igreja e à busca por novas confissões cristãs
(indo do sectarismo à desfiliação); espetacularização da pentecostalização,
fazendo desta a razão de ser do movimento bem mais do que a própria unidade da
igreja – para isso, basta lembrar da importância das “missas de cura” frente às
missas “normais”; a politização da identidade carismática, que levou o
movimento a uma adesão irrestrita a tudo que se opõe ao progressismo, levando a
uma confusão entre ser carismático e ser, por exemplo, bolsonarista (inclusive,
esse foi um dos quatro problemas identificados pelo fundador da Shalom durante
sua pregação, no referido evento).
Os próximos anos insinuam-se de maior
fortalecimento, dada a já manifesta inclinação do novo arcebispado. Que venha o
centenário!
(*) Professor adjunto
de teoria política da Uece/Facedi.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/11/25. Opinião. p.22.

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