terça-feira, 15 de dezembro de 2015

TERRORISMO CEARENSE - SAÚDE

João Brainer Clares de Andrade (*)
Sejamos solidários, é verdade, com aqueles que inocentemente, de forma pouco esperada, têm suas vidas ceifadas. No final, o julgamento é sempre o mesmo: falta de humanismo e de respeito com a história de centenas ou milhares de famílias.
As redes sociais se inundaram de cores em solidariedade contra o terrorismo na Paris que nos acostumamos a ver de várias cores. Sem privar os usuários das cores vermelho, azul e branco, lanço, no entanto, nova proposta: um verde que remonte aos nossos bravios mares, um amarelo do sol e da luz de nossa terra e um branco de nossas sete estrelas que dão conta das mesorregiões do Ceará.
Nada mais justo que se solidarizar com atentados que matam muito mais todos os dias no Ceará. As chacinas dos últimos noticiários que mobilizaram ações imediatas são ainda irrisórias, se formos contabilizar as mortes gratuitas no sistema de saúde público cearense. A política de centralização das unidades complexas na Capital mantém um ingurgitamento crônico difícil de ser contido mesmo com portas fechadas.
As Unidades de Pronto Atendimento se orgulham erroneamente por atender mais de 2 milhões de casos, desvirtuando o princípio das unidades básicas de saúde, que deveriam estar integradas nas comunidades com médicos bem formados e capazes de resolver a quase totalidade das demandas que surgem.
Os hospitais públicos estaduais vivem sua pior era. Precisamos de gestores que conheçam ou vivam o que se significa prestar assistência em saúde às pessoas; dessa contrariedade vem a tônica da falta sistemática de insumos e de fluxo integrados. Vive-se, pois, em meio a uma contingência de recursos que jamais poderia ter sido cogitada na saúde.
Com escassez de recursos e ações, há a morte diária de centenas de inocentes que voltariam para suas famílias, se não fossem as cirurgias canceladas, a falta de antibióticos e outros medicamentos elementares, a falta de cateteres de diálise, os funcionários em número insuficiente, a falta de leitos, a falta de exames.
Aos profissionais que dedicam tempo e emanam esforços para cuidar de pessoas em uma verdadeira situação de guerra, resta-nos a sensação de trabalho sem frutos, de desrespeito, de impotência; resta-nos a angústia da morte assistida.
Juntos de nossos pacientes, somos todos, portanto, reféns de terroristas que usam gravatas e ocupam palácios. Eis a verdade.
(*) Médico. Residente de Neurologia do HGF.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/11/2015. Opinião. p.9.

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