Por André
Haguette (*)
Os
governos de Lula e o primeiro mandato de Dilma lograram elevar os rendimentos
de miseráveis e de pobres. Não há acordo, no entanto, sobre o número de pessoas
beneficiadas e as consequências desse movimento em termos de igualdade social.
Se o Bolsa Família aliviou famílias em situação de “extrema pobreza”, as
sucessivas majorações em termos reais do salário mínimo e outras políticas
conduziram milhões de trabalhadores a atravessar a “linha de pobreza”. Mas o
que são “extrema pobreza” e “linha de pobreza” e quantos foram os miseráveis e
os pobres favorecidos?
Em
2009, o governo de Lula fixou a “linha de pobreza” em 1,25 dólar per capita por
dia e a “extrema pobreza” em metade disso; logo, quem estivesse abaixo de uma
ou outra marca seria considerado pobre ou extremamente pobre. Pessoalmente,
sempre considerei vis essas marcas: 4,62 e 2,31 reais a preço de hoje! Há
desacordo sobre a quantidade de pessoas nessas situações. Em 2012, o governo
apontava uns 17 milhões de pobres no Brasil, ao passo que Waldir Quadros indicava
64 milhões de sorte que André Singer ponderou: “O lulismo por vezes considera
que foi muito mais longe na redução do que realmente o fez. O que não significa
que a redução da pobreza tenha sido pequena”. A passagem da extrema pobreza
para a pobreza e da pobreza para além da linha de pobreza pode ter atingido 25
milhões de indivíduos, o que não é desprezível e provocou mudança na
organização da sociedade e no padrão de consumo.
Mas
quem são esses mutantes? Não são operários qualificados; não são uma nova
classe média, como queriam Marcelo Neri e a presidente Dilma. Eles formam uma
“nova classe trabalhadora” empregados no setor de serviço com baixa
remuneração, 95% deles com rendimento de um até 1,5 salário mínimo, como
auxiliares de escritórios, balconistas, auxiliares de enfermagens, operadores
de “call center”, diaristas domésticos e trabalhos semelhantes que batalham
para manter-se acima da linha de pobreza. Jessé Souza afirma que eles se
singularizam “pela ausência dos pressupostos para o exercício de atividade
produtiva útil no contexto do “capitalismo do conhecimento”. E Ruy Braga vê-los
como uma nova classe trabalhadora (o precariado): “uma massa formada por
trabalhadores desqualificados e semiqualificados que entram e saem rapidamente
do mercado de trabalho”.
Não
surpreende que a atual crise trabalhista (2014-2018) fez minguar a “nova classe
trabalhadora” e reconduz milhões de pessoas ao estado de extrema miséria ou de
pobreza, com sérios danos para todos nós.
(*) Sociólogo
e professor titular da Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Publicado In: O Povo, Opinião, de 2/7/18. p.217.
Nenhum comentário:
Postar um comentário