sexta-feira, 31 de agosto de 2018

AOS VIVOS: Saionara ou sai a nora e outros causos


Por jornalista Tarcísio Matos, de O Povo
Saionara ou sai a nora
Querela entre sogra e nora é, de sempre, eterno desconcerto universal. Armadas até o novelo, nutrem-se de mútua zanga. Veneno que se revigora a cada encontro, tisnando ambientes com altercações inúteis. A questão da Saionara com a nora Quinquinha, particularmente, ganha ares de mais robusta complexidade, porquanto primas e comadres, vizinhas e banguelas. Por tudo saem no tabefe.
A verminosa
Saionara recebe, enfim, o resultado dos exames laboratoriais. Entre os itens requeridos, o de fezes. A sogrona de Quinquinha se arvora de entendedora e lê os resultados. Lá embaixo, depara-se com bicho novíssimo: “Infestação por Taenia solium”. Busca o doutor, quer saber o que, os perigos disto. Clínico explica:
- Taenia solium é microrganismo hermafrodita e costuma viver solitariamente. Por esse motivo, a doença que causa é popularmente chamada de “solitária”.
- Quer dizer que eu tô com a tal solitária, é doutor? Já sei de quem peguei!
- Eu também, mas suponho que ele não esteja mais conosco. O bacurim...
Todavia, o cão atenta e a notícia da solitária de Saionara ganha a vizinhança. Cai nos ouvidos de Quinquinha como um prêmio. Pior: a nora tem cópia do “inzame”. Cheia de satisfação pelo azar da outra, lê em voz alta o vetor das dores abdominais, náuseas, vômitos, cólicas, mal-estar generalizado e caganeira que a desafeta vem sentindo ultimamente. Dispara:
- Se uma solitária faz tudo isso, imagina acompanhada! Pois que aquela égua véa tenha logo umas dez no bucho!!!
A arte de desarmar alguém
Saionara carregava uma “doença no nervo labirinto” (labirintite) lascada. Razão por que só dormia de rede, com a cabeça nos punhos. Rede de casa que, súbito, “abriu-se o chão” (sumiu). Na verdade, Quinquinha havia pedido emprestada a fianga, pelas mãos do marido Joel, caçula de Saionara, e nunca devolvera. Cabia, pois, ao moço, resolver o imbróglio. Mas, como fazê-lo?
Por felicidade, lembrou-se do primeiro livro de autoajuda de Jair Morais, Meu guaxinim favorito – resolvendo todas as fuleragens do mundo, cuja lição 821 era exatamente direcionada a conflito do gênero. Pronto, beleza, tudo resolvido. Em menos de 48 horas, o cacete entre sogra e nora chegava a bom termo. Ah, antes que esqueçamos, confiram o título da lição 821 da obra em tela:
- Como Desarmar Alguém Com Uma Rede.
Prestação eleitoral
Se a sogra Saionara afirmava que “o melhor peixe da água doce é com pouco sal”, a nora Quinquinha atalhava com pérola que não lhe deixasse atrás: “Não basta conhecer o povo, é preciso entender a população”. Nesse particular – o povo, uma votava com gosto de gás em quem a outra nem cogitasse. Uma republicana e outra democrata; uma de direita, outra radicalmente canhota.
Nesse particular 2: ao votar nas últimas eleições municipais, tendo acabado de deixar a cabine, Saionara discute com o mesário só por ser ele antigo conhecido de Quinquinha. Dirigindo-se ao representante da Justiça Eleitoral, ela pede de volta seu “carnê de votação”.
- A senhora quis dizer título de eleitor...
- Não, eu disse carnê! Quê-á-car - nê-ê-nê: carnê!
- ?
- Essa eleição não foi em duas parcelas, rapaz!!!
Fonte: O POVO, de 26/11/2016. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.

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