Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Existe uma piada
dizendo que se você quer fazer Deus rir, basta fazer uma previsão. Ou como diz
um dito judaico: O homem planeja e o Deus de Israel acha graça.
É importante relembrar
o que escreveu o poeta judeu-russo naturalizado americano Joseph Brodsky (nome
de batismo Iosif Aleksandrovich Brodsky), nascido em Leningrado, 24 de maio de
1940 e falecido em Nova Iorque em 28 de janeiro de 1996, detentor do prêmio
Nobel de Literatura por seu trabalho de grande envergadura, imbuído de clareza
de pensamento e intensidade poética.
Em discurso intitulado
ELOGIO AO TÉDIO, feito aos formandos do Dartmouth College, instituição fundada em
1769 e uma das universidades mais conceituadas dos Estados Unidos, dois anos
após ganhar o Nobel de Literatura de 1987, o poeta previa ou especulava
(esclareço: nos séculos XX e XXI não existem mais profetas, quando muito há
especuladores, com todo respeito ao bardo naturalizado americano):
“Neurose e depressão vão entrar no vocabulário
de vocês; comprimidos passarão a frequentar suas gavetas. Não há nada
essencialmente errado em fazer da própria vida uma busca constante por
alternativas, nada errado em pular de emprego em emprego, de casamento em
casamento, mudar de casa, clima, etc., desde que se possa bancar as pensões e
suportar o tumulto das lembranças”.
Como psicoterapeuta de
jovens, conheço alguns de meus pacientes desde crianças, a maioria deles vi
nascer e acompanhei até à idade adulta. Apesar de meus muitos anos da prática
médica, fico assombrado com o sofrimento desses, para mim, sempre, jovens,
embora, alguns deles já estejam para lá dos quarenta. Para mim continuam
crianças, do ponto de vista afetivo e são, também, agora, mãe e pai. Quando
percebem que a vida é uma repetição de fatos, entram em tédio vital.
A vida real não é
aquela para a qual foram educados, se formaram, e, muito menos a dantes apalavrada,
ou, aquela com a qual sonharam ou lhes foi prometida. Nem eles nem eu,
conseguiríamos assegurar, que o Mercado ou alguma das Entidades Transcendentais
ou Metafísicas apelidadas de representantes do Poder, têm ocupação para tantos
portadores de títulos universitários.
Entretanto, mesmo antes
da crise econômica que estamos vivendo, eu já havia registrado tal fenômeno
clínico. E, não pretendo discutir aqui a qualidade das universidades: particulares,
estaduais, federais, e sim, a condição dos jovens que navegam por tais cursos...
de curso tão impreciso. Já que contexto sócio/econômico-financeiro piorou, uma
colocação no mercado de trabalho é cada vez menor, enquanto o avanço tecnológico
está cada vez mais rápido. Logo, fica evidente, que, cada vez mais raros serão
os empregos.
Perguntar não ofende:
“Não seria melhor que o
dinheiro empregado para financiar esses jovens desavisados e seus responsáveis,
fosse utilizado para melhorar os ensinos primário e médio ou as escolas
técnicas? Não seria essa conduta mais urgente do que ficar proclamando
estratégias e reformas curriculares?”
Cito, para terminar, um
clichê que aprendi na minha infância:
“Tem muito cacique para
pouco índio”.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros
neonatologistas brasileiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário