Quando a rã rapar na cuia, bote o pote na biqueira!
Entre as previsões do tempo baseadas na
interpretação de elementos da natureza, as mais "bugas" são as 'péda
de sá' de Santa Luzia, a suadeira nos vazios do jumento, o João de Barro com o
ninho de janela voltada pro poente. Todas se consumando, espere água muita
cair. Tivemo-las, em prenúncio à belíssima quadra chuvosa ainda persistente,
pleno mês de maio.
Quando o profeta da chuva prognosticou em 2018
"inverno tinindo de bom" para o ano em curso, poucos se avexaram em
botar os potes nas biqueiras, cuidar de aparar água doce do céu, tão
desacostumados estávamos com "inverno" dessa categoria. Tantos anos
de estiagem e quase ninguém tirou goteira de telhado, comprou guarda-chuva
"furnido".
Com todo respeito à "maior empresa privada
de previsão do tempo e análises meteorológicas da América Latina", nossos
Jacós, Airtons, Gonzagas e Rufinos valem o Climatempo com toda parafernália
tecnológica. Ao utilizarem métodos como "a movimentação de animais, a
análise de formigueiros e cupinzeiros, além da leitura das flores do
mandacaru", fique certo: é dez a zero!
A propósito de movimentação de animais,
colocando-se na expectativa chuviscante o "elemento batráquio", a
coisa é ainda mais marrumeno. Do papôco. Por "elemento batráquio"
entenda as versões do bicho vertebrado que vive tanto em terra como na água:
sapo, rã e perereca.
Se no começo de dezembro, ao trafegar em rodagem
no interior, você se deparar com um sapo (cururu teitei), pense num aguaceiro
brabo, no ano seguinte! A média histórica para o período, de mais de 600 mm,
será superada ligeri bala. Para uma previsão mais confiável, atentem ao que diz
o sábio Neném Galdino:
- O andar
desse cururu deve ser à moda Cristiano Ronaldo em direção ao gol...
A rã sutil
Revisando: cururu teitei cortando estrada qual
Cristiano Ronaldo caminhando em busca do gol é praticamente certeza de dilúvio
no Ceará. Mas, você pergunta: "E a rã, na presciência popular das chuvas?" De novo
ele, Neném Galdino:
- Esse
'inseto' tem poder adivinhatório mais elegante.
- Qual, macho? Fala!
- Quando a
perereca rapar na cuia, vem chuva até dizer chega, bom, basta!
"... perereca rapar na cuia", o que é:
o coaxar da perereca, na quadra chuvosa, estando em beira de lagoa, bacias
sanitárias ou congêneres, lembra o som de colher ao ser arrastada numa cuia.
Olhem o arremate do sábio sertanejo:
- Se essa
é uma rã de bananeira pacovã, então, chamem Noé!!!
A sexy perereca
Ronaldo e o cururu teitei, a rã e o rapado da
cuia. Por fim, a perereca na ocorrência de chuvas no meu Ceará. Neste caso, nada
de pedras de sal, de jumento suando os vazios, de ninho de João de Barro. Nada
de cupim gordo (da asa grande), de mandacaru começando a florar. No caso da
perereca e as chuvaradas, esqueçam a oiticica carregada, o bailado das
estrelas, a lua anelada, as nuvens eloquentes.
As profecias de toró, pelas mãos dos anuros
arborícolas de pele, prescindem dos pássaros, ninhos, formigas, ventos,
orvalho, consistência da bosta da rolinha fogo-pagô. O profeta Neném Galdino
conclui, como se fosse pai Abraão:
- Aqui, é
tu e o teu xodó, essa Funceme infalível!!!
Fonte: O POVO, de 31/05/2019.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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