quinta-feira, 9 de abril de 2020

TECNOLOGIA FRUGAL CONTRA A POBREZA


Por Pedro Sisnando Leite (*)
A Ciência e a tecnologia foram determinantes historicamente no desenvolvimento econômico mundial. Nos anos recentes, com o surgimento da quarta revolução industrial (4.0) quando as máquinas computadorizadas e robôs estão substituindo o trabalho intelectual e os níveis de desemprego permanecem tão altos, há considerável mal-estar nos meios acadêmicos em como equacionar esse dilema. Isso, naturalmente, com a simultânea superação da pobreza e da desigualdade existente nos países emergentes e mesmo desenvolvidos.
Com base em estudos e experiências práticas ao redor do mundo, inclusive no Ceará, tem crescido a esperança de que se possa atacar a pobreza e o desemprego com a utilização de novas tecnologias mais simplificadas e pouco onerosas a serem adotadas pelas próprias populações pobres. É uma estratégia direcionada para a base da pirâmide, com inovações denominadas de frugal. Este enfoque se caracteriza pela economia de uso de recursos, limitações institucionais, com produtos mais baratos e acessíveis aos mais pobres.
Sobre o assunto, a Academia Brasileira de Ciências realizou uma Conferência Internacional "Como Ciência e Tecnologia podem contribuir para a redução da desigualdade e da pobreza", realizada no Rio de Janeiro em 2018. O propósito desse encontro foi reunir renomados especialistas internacionais para discutirem como a comunidade científica pode se mobilizar em prol da implementação dos objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2030 das Nações Unidas contra a pobreza e as desigualdades. Discussões sobre inovação frugal e sua relação com a melhoria das condições de vida da comunidade estão sendo realizadas na Universidade Federal de Santa Catarina, por sinal, o estado com menor índice de pobreza do Brasil.
Nos últimos cinco anos, o Centro de Inovação Frugal na África (CFIA) estabeleceu-se como o principal centro de excelência no tema emergente da inovação frugal em Nairóbi (Quênia). Para o período de 2019 a 2024, a CFIA pretende fortalecer ainda mais sua posição para se tornar o centro global da pesquisa sobre inovação frugal com vistas à criação de emprego e superação da pobreza mundial.
As universidades públicas do Nordeste poderiam dedicar maior atenção as pesquisas acadêmicas no campo das inovações frugais na busca de soluções mais sustentáveis e includentes em saúde, energia, água, agro-alimentos em comunidades de baixa renda. 
(*) Professor titular de economia do Caen/UFC. Sócio do Instituto do Ceará e membro da Academia Cearense de Ciências
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 5/3/20. p.17.

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