Por Marcelo Alcântara Holanda (*)
Estamos prestes a completar, com
relativo êxito, duas semanas de distanciamento (não confundir com isolamento) e
união social, seguindo as orientações de governantes estaduais, municipais e do
Ministério da Saúde. Uma mobilização histórica contra um gravíssimo problema de
saúde pública, a pandemia pelo novo coronavírus.
É hora de sabermos o que é uma economia
de guerra, de o coletivo valer mais do que o indivíduo. Hora de a razão ser
guiada pela ciência e a técnica, pela arte e a criatividade, superar
obscurantismos e o medo. Hora de o Estado assumir o papel de guia, de apontar o
norte, ser de fato a mão amiga que protege os mais atingidos, os mais
vulneráveis. Sim, já não somos os mesmos e nem vivemos como os nossos pais.
O governo do Ceará, e em particular, a
Secretaria Estadual de Saúde e sua vinculada, a Escola de Saúde Pública, têm
mobilizado toda a sua capacidade de inteligência, de conhecimentos e de
inovação, seus recursos humanos, financeiros e de gestão, sua articulação
política e social na construção de uma rede de proteção e preservação da vida.
Ações concretas são essenciais para que a sociedade se alinhe, tenha foco e
atravesse esse momento difícil. Isso fica claro quando ansiamos pela live diária do governador nas redes
sociais, assistimos às análises técnicas da curva epidemiológica pelas
autoridades sanitárias, apoiamos as medidas de fortalecimento do Sistema Único
de Saúde (SUS), aplaudimos as ações voluntárias.
Numa corrida contra o tempo, um hospital
inteiro dedicado a pacientes com a Covid-19 foi aberto em tempo recorde,
insumos e ventiladores mecânicos (respiradores) vêm sendo recuperados ou
adquiridos, profissionais de saúde recrutados, capacitados e mobilizados,
modelos e sistemas de análise desenvolvidos, órgãos e secretarias de Estado
mobilizados de forma a atenuar as consequências econômicas e sociais. A
sociedade como um todo, do mais humilde ao mais rico, é chamada a participar, e
no geral, tem correspondido. Mas sim, o tsunami de casos graves da Covid-19
virá, inevitavelmente, infelizmente. Quantos poderemos salvar? A onda viral
encontrará no Brasil e no Ceará um quebra-mar?
Tenho 51 anos. Não lembro de ter
vivenciado ou ter ouvido histórias dos meus pais ou avós sobre algo similar ao
que passamos. Somos forçados a crescer. Mas também sei que não vivemos
propriamente algo novo na História da humanidade. Ainda estudante de Medicina,
achei na biblioteca da minha mãe e li A Peste (1947) de Albert Camus. Fiquei
marcado pelos personagens, como o Dr. Rieux e seu amigo Tarrou, e a forma como
se transformam e se agigantam numa quarentena forçada. A própria existência
humana é posta em xeque nas grandes catástrofes. Para aqueles personagens,
"no Homem há mais coisas dignas de admiração do que de desprezo". Bom
pensamento.
É nossa vez de virarmos gente grande, de
nos permitirmos ser o melhor que podemos a partir da beleza do enfrentamento
solidário pela vida. É mesmo uma guerra, e ela é nossa.
(*) Médico. Professor da UFC. Superintendente da Escola de Saúde Pública do
Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/04/2020. Opinião.
p.13.
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