quinta-feira, 8 de outubro de 2020

VOLTAR OU NÃO ÀS AULAS: uma questão

Por Eloisa Vidal (*)

O mundo inteiro está discutindo a volta às aulas, desde a educação infantil até o ensino superior. Não é uma decisão simples, nem fácil. Estamos vivendo uma pandemia para a qual ainda não temos remédio nem vacina, que contagia a todos, embora afete as crianças e jovens com menor intensidade de sintomas.

O retorno às aulas desafia os epidemiologistas uma vez que estudos vêm mostrando que essa população que tem menor intensidade de sintomas, muitas vezes, até mesmos assintomáticos, são vetores que transportam o vírus para outros espaços, entre eles, o espaço doméstico, cujos pais, tios, avós podem se contaminar. E aí, sim, esta transmissão involuntária pode gerar efeitos colaterais graves e uma segunda onda de transmissão elevada, demandando, mais uma vez, respostas urgentes e complexas do sistema de saúde.

Aqui e alhures, os gestores públicos estão procurando assegurar condições sanitárias adequadas para que o retorno às aulas se dê agora em setembro, com parte dos alunos frequentando a escola em dias ou semanas alternados, mesclando momentos presenciais com ensino remoto etc. Não se sabe ainda as implicações dessas medidas, embora alguns países que fizeram tentativas dessa natureza, tiveram que interromper ou suspender aulas e depois voltar. Esse movimento pendular também é uma incógnita quanto às implicações que têm para o desenvolvimento da aprendizagem, uma vez que rompe com rotinas importantes e consideradas necessárias para o êxito do processo de ensino.

No Ceará o retorno às aulas na educação básica e superior representa cerca de 3 milhões de crianças, jovens e adultos se dirigindo para escolas cinco dias por semana. Se parcelarmos em 20% por dia, isso ainda representa 600 mil pessoas que passam a circular, diariamente, em espaços fechados de grande interação e proximidade. É sobre isso que estamos falando. Quem pode afirmar que existe segurança sanitária e epidemiológica num contexto desses? Aí vem a próxima pergunta: - os alunos vão perder o ano escolar? Não necessariamente. A própria legislação educacional aponta possibilidades para mitigar a situação. Cabe aos especialistas em educação conceber iniciativas que possam desenvolver o currículo escolar não no modelo linear de ano letivo, mas em ciclos ou outra forma, para compensar o tempo da pandemia. 

(*) Professora da Uece. Doutora em Educação.

Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 10/09/20. p.17.

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