sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Crônica: “A seriedade é uma doença, e o animal mais sério é o burro” ... e outros causos

"A seriedade é uma doença, e o animal mais sério é o burro"

Não direi que o Poeta dos Cachorros tenha a catilogência de um Saramago, mas bate-lhe o centro. Se acha que frescamos, confira a lista completa dos romances que ele lançou pela Couro de Letras (entre 1968 e 2022) e me diga: esse rapaz é ou não é a reencarnação de Diógenes, o Cínico, filósofo da Grécia Antiga? Perfeita a simetria entre ambos no quesito viver bem: "Quissuco, a água que adoça a fome", "A riqueza do liso", "Tão limpo que dá nojo", "Tanto come como istrói", "Tudo certo, nada confirmado".

Quanto aos poemas, repare na 'imbiricica' de obras que lançou no mesmo lapso de tempo: "Toda criatura tem?", "Se não for eu cegue!", "Aproveite esse calor e a papeira", "Troque seu marido por um jipe azul", "Arre égua, meu bem, beísso?", "Defecar e limpar-se com canjica", "Um caso de amor com a dengue", "À frente do pessoal detrás", "Um monótico a gurgulejar", "O Boca de bode", "É, senão for", "Talvez, tal Vaz", "Uma esfinge no caminho dos pebas" e o impagável "No tempo que era doido, eu andava lá".

Os títulos estão disponíveis na casa de um dos filhos dele, acho que é o Antônio, o do meio. Muito particularmente em relação à poemêutica "No tempo que era doido eu andava lá", o dos Cachorros Poeta explica o porquê de tê-lo escrito:

- Eu tava internado como mental do juízo no Hospital Mira y Lopez nessa era...

Dedé de seu Ném explica

"Jornalista TMatos, sempre uma alegria bater um plá com vossa senhoria, desta feita para falar dalgo que você vai pensar: é potoca dele! É verdade, porém. Indo direto à arrumação, pois tenho já que ir à missa (esse padre é nojento que só!). Conheci uma norueguesa doutora em 'desenlinhar' punho de rede e mestra numa 'dibuia' de feijão. Onde? Aqui na Oiticica. Pensei que, saído da Reriutaba, não visse isso em canto nenhum mais, por hábeis sejam as mãos de nossos e nossas artesãs-sãos. Lilly Emma era a graça dela.

Lição que tirei: se Emma é o cão por dentro das moitas no punho duma rede, cá nas brenhas do sertão cearense, por que um caba nosso não faria sucesso na Noruega, pegando bacalhau de landuá? Hein? Arre ema!"

"Página de um livro bom"

Zé Jumento, assim conhecido pelo coice nos adversários em partidas de futebol quando rapazote. Zé Jumento pra lá, Zé Jumento pra cá, Zé Jumento prali, Zé Jumento pracolá... O sujeito assimilou tão fortemente em si o mamífero perissodáctilo da família Equidae que, em entrevista ao repórter Edilson Cocão acerca dos seus tempos de tertúlia, ao som de "My mistake", dos Pholhas, discorreu naturalmente:

- Pois é, querido Cocaço, essa modinha aí marcou demais a minha 'jumentude'...

Ruim é apelido!

Nairon, quando canta, é um motor de partida. Consegue o que mais ninguém alcança: entoar caricaturas de cantigas muito péssimas demais. Fora do esquadro tonal, parece solfejar na escala musical dum caçote. De tão ruim chega a ser bom. Após anos sem aceitar o defeito de nascença que trazia nas cordas vocais, resolveu brincar com a própria voz opaca (de papelão): premiar quem adivinhasse que música estava a cantar. Cantou trechinho da coisa e um concorrente...

- "Parabéns pra você"?

- Não, claro que não! Cantou mais uma coisinha e outro concorrente se atreveu:

- "Detalhes", do Roberto?

- Também não!

300 tentativas vãs e os concorrentes pedem penico. Alguém, enfim, pergunta "que diabo de cão de música mais sem pé nem cabeça é essa"? E Nairon, sinceramente...

- Eu sei lá que geringonça é essa! Que é que eu tô cantando? Me deem uma palinha!

Fonte: O POVO, de 20/09/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.


quinta-feira, 7 de novembro de 2024

HOMENAGEM DA CMF PELOS 20 ANOS DO JORNAL DO MÉDICO


Marcelo Gurgel entre Regina Lúcia Portela e Dr. Vicente e Josemar Argollo

A Câmara Municipal de Fortaleza (CMF) realizou, no Auditório Ademar Arruda, ontem, dia 6 de novembro de 2024, às 18h40, Sessão Solene em Homenagem aos 20 Anos de Fundação do Jornal do Médico.

Na solenidade falaram o vereador Dr. Vicente, proponente da homenagem, que presidiu a sessão oficial, e o publicitário Josemar Argollo, que agradeceu em nome desse veículo de comunicação médica e relembrou aos presentes a trajetória exitosa do JORNAL DO MÉDICO, que se expandiu na diversificação dos seus produtos e na sua interiorização no Ceará.

A mesa diretora dos trabalhos foi composta por: Dr. Vicente, vereador Adail, desembargador Everardo Lucena, Josemar Argollo, Arruda Bastos (Presidente da Sobrames Nacional), José Henrique Leal Cardoso (Presidente da Academia Cearense de Medicina) e Regina Lúcia Portela Dinis (representando o Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará).

Na ocasião, a CMF prestou homenagem aos colegas Darival Bringel de Olinda (in memoriam), conselheiro José Maria Chaves (in memoriam), Maria Dione Mota Rôla, Sebastião Diógenes, Lúcio Flávio Gonzaga Silva, Renato Evando Moreira, Russen Moreira Conrado, Daniel Daarte e Dylvardo Suliano e ao Instituto do Câncer do Ceará (ICC), que foi representado por Marcelo Gurgel Carlos da Silva.

Como representante do ICC, coube-me receber o Certificado desse agraciamento da CMF (vide foto cedida pela Acad. Ana Margarida Rosemberg).

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Médico do Instituto do Câncer do Ceará

DEPENDE DO ÂNGULO DE ANÁLISE...

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Segundo Antônio Carlos Jobim, maestro, um dos maiores nomes da música brasileira, "viver em Nova Iorque é bom, mas é uma merda. Já viver no Rio de Janeiro é uma merda, mas é bom".

Nos últimos dias, talvez semanas, tenho escutado de pessoas até certo ponto próximas, que o nosso velho Ceará é um caso de sucesso. A justificativa, segundo os mesmos, vem da comprovação do crescimento diferenciado do Ceará em relação aos outros estados do Nordeste. Tal afirmação, usa como exemplo o aumento do PIB, que se aproxima do nosso rival mais próximo, o estado de Pernambuco. Somam-se a esses dados os possíveis impactos da ampliação de infraestrutura e o processo de industrialização das últimas décadas. Em geral, atribuem a esses indicadores de sucesso alcançado ao legado da responsabilidade fiscal instituída desde a década de oitenta, de forma mais eficiente.

Cabe-nos, no entanto, analisar alguns fatos que merecem uma observação mais apurada, especialmente os relacionados às questões sociais.

Assim, é mister, independente das vertentes ideológicas, entender o dilema entre o paradoxo do o porque de "tantos progressos" e a incapacidade de resolver um sem número de problemas, como o acesso e a qualidade da saúde, a qualidade da educação, a redução da miséria e da pobreza e a crescente marginalização nas grandes cidades, os assentamentos precários, a baixa cobertura de saneamento e a crise na segurança pública. E, principalmente, a falta de equidade e a desigualdade, que, provavelmente, são as causas de todo o insucesso.

Nesse aspecto, portanto, nós não fomos tão eficientes. Fazendo uma analogia, o dono da empresa viu seu faturamento aumentar, mas não percebeu que o seu funcionário empobreceu e adoeceu.

Talvez isso explique as sucessivas crises dos modelos atuais, que não conseguem reverter a realidade perversa da maioria da nossa sociedade. Em contrário, agravam-se, diariamente, os nossos conflitos.

No entanto, não se trata de uma visão pessimista. Trata-se de uma reflexão. É, talvez nós não sejamos tão bons. Talvez sejamos no futuro se entendermos, agora, as necessidades das pessoas. Nem tampouco, somos tão ruins. Apenas não somos o que dizemos, e a população sabe disso!

Afinal, o Ceará é uma M… mas é bom?

Tudo depende do ângulo de análise. Sugerimos, somente, olhar pelo lado de quem precisa, das famílias e da nossa sociedade.

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/10/2024. Opinião. p.19.


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

REMINISCÊNCIAS CARIOCAS (1972-1974)

Por Paulo Gurgel Carlos da Silva (*)

Ed. Corumbá, Av. Prado Junior, 145, Posto 2 Copacabana. Em 1972, uma das quitinetes do Corumbá abrigou durante 6 meses uma "república" de tenentes-médicos alunos da Escola de Saúde do Exército (gaúchos Henz, von Kossel e Bonilha, e cearenses Valdenor, Ozildo e eu). No edifício em frente morava o museólogo e carnavalesco Clóvis Bornay, o idealizador do "Baile de Gala" do Theatro Municipal do RJ. Ele era hors concours nos concursos de fantasias. Tinha o direito de participar sem ser julgado.

Boate Plaza (no subsolo do Hotel Plaza), na Prado Junior. Na qual faturei um relógio (roscofe) em um sorteio.

Jaboatão, casa noturna na Av. Princesa Isabel, em Copacabana, frequentada pelo proletariado.

Beco da Fome, uma galeria que reunia vários pequenos restaurantes e lanchonetes. Ficava ao lado do Cinema 1.

De setembro de 1972 a agosto de 2005 (quando cedeu espaço a um horti fruti), o Cinema 1, na Avenida Prado Júnior, entre as ruas Barata Ribeiro e Ministro Viveiros de Castro, ganhou fama por sua sofisticada seleção de filmes, com a exibição de clássicos ou obras contemporâneas que dificilmente chegavam ao circuito tradicional. [1]

Por falar em restaurantes e lanchonetes, lembro-me do super sanduíche de rosbife do Cervantes, um templo da baixa gastronomia que há mais de 30 anos mata a fome do pessoal da madrugada! Ele está lá até hoje e faz parte do "roteiro cultural" da PJ, recomendo uma visita! [2]

Garota de Ipanema. Localização: Prudente de Moraes c/ Vinicius de Moraes. Inaugurado em 1949 com o nome de bar Montenegro, o estabelecimento era conhecido pelos artistas como bar do Veloso, por conta do nome do proprietário.

Zeppelin, point em Ipanema que fechou em 1972. [3]

Canecão, no Botafogo, onde fui assistir a um show do Simonal.

Beco das Garrafas, indissociável da história da bossa nova. Só fui conhecer em 2022. [4]

Ed. Torres, R. Benjamin Constant, 139, Glória, onde morei 18 meses com a minha irmã Marta e seu esposo João Evangelista, ambos já falecidos. Convidado pelo casal, deixei Copacabana para ir morar com eles na Glória. O modesto apartamento ficava num edifício de poucos andares, no último quarteirão da rua Benjamin Constant.[5]

No Hospital da Beneficência Portuguesa (cujos fundos davam para a Benjamin Constant) aconteciam as sessões clínicas comandadas pelo renomado cirurgião torácico Jesse Teixeira, sempre com a brilhante participação do Dr. Amarino, um médico radiologista da cidade.

No fim da rua, havia também uma comprida escadaria pela qual se podia ir (nunca me atrevi) da Glória ao Morro de Santa Teresa. E, por último, mas não menos importante, uma padaria-raiz em que eu gostava de comer um pão quente passado na manteiga.

As obras da estação da Glória do Metrô do Rio já ocupavam uma parte do largo em que começava a rua Benjamim Constant. E, quando a Taberna da Glória (onde se dizia que Noel Rosa compôs "Conversa de Botequim") deu sua última função, eu fui até lá para dar as condolências. E, ao lado dos grandes sambistas e chorões do Rio Antigo, chorei um rio pelo fechamento da casa.

Hospital Central do Exército com seu Pavilhão de Isolamento, na Triagem, Instituto de Tisiologia e Pneumologia, no Caju, Hospital Central do IASERJ, na Praça da Cruz Vermelha, e Faculdade de Medicina da UFRJ (para ouvir as aulas do Prof. Dr. José Rodrigues Coura)

Renascença Clube, onde assisti ao musical "Orfeu Negro" de Vinicius de Moraes.[6]

[1] http://acervo.oglobo.globo.com/rio-de-historias/cinema-1-reduto-da-intelectualidade-do-rio-exibe-classicos-como-os-de-bergman-8901131#ixzz7u6Jq2ESW stest

[2] http://copacabana.com/avenida-prado-junior

[3] http://blogdopg.blogspot.com/2023/02/bar-zeppelin.html

[3] http://blogdopg.blogspot.com/2022/05/uma-noite-no-beco-das-garrafas.html

[4] http://gurgel-carlos.blogspot.com/2018/02/a-noite-do-cha.html

[5] http://acervo.cultne.tv/cultura/teatro/14/espetaculos-de-teatro/video/804/orfeu-negro-renascenca-clube

(*) Médico pneumologista, escritor e blogueiro.

Postado por Paulo Gurgel no Blog Linha do Tempo em 1/09/2024.

http://gurgel-carlos.blogspot.com/2024/09/reminiscencias-cariocas.html


A LUTA CONTRA SEDENTARISMO COMEÇA NA ESCOLA

Por Andrea Benevides (*)

O grande desafio da saúde pública está em tornar os sedentários em ativos, buscando o efeito preventivo/curador da atividade física sobre diversas doenças. Apesar dos benefícios com a prática regular de exercícios estarem bem discutidos, a porcentagem de sedentários ainda é muito alta. Ações de educação em saúde tornam-se cruciais para gerar mudanças a curto, médio e longo prazo, em ambientes que facilitem envolvimento, mobilização e participação.

A escola apresenta todas essas características e, ao contrário das estratégias que vêm sendo lançadas para promoção da saúde, a Secretaria de Educação do Estado do Ceará, junto com Secretarias Municipais, tem garantido apenas uma hora de aula de Educação Física por semana. Escolas que possuíam duas ou três aulas, diminuíram a carga horária após a publicação das orientações complementares aos estabelecimentos de ensino para o ano letivo.

A tarefa de desenvolver uma estratégia promissora para o embate aos inúmeros problemas de saúde, que afetam nossa sociedade, deve iniciar na escola. Ela possui um papel relevante no processo educativo, de formação de crianças e jovens, não somente no esporte em si, mas também no desenvolvimento humano, motor, crítico, desafiador, social e cultural. A promoção de saúde parte de processos educativos, sendo baseada na construção de estilos de vida saudáveis, bem como na criação de ambientes favoráveis à saúde.

Entendendo a urgência de ampliar a carga horária da Educação Física na escola, o Conselho Regional de Educação Física (CREF5) lançou a campanha 'Mais Aulas de Educação Física', buscando apoio de gestores da Educação, políticos, professores, pesquisadores e profissionais para apresentar a importância do tema e alertar a sociedade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 5 milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população, no mundo, fosse mais ativa. É necessário que a escola seja protagonista nessa mudança, estimulando ações multissetoriais, envolvendo a educação, para oferecer oportunidades aos jovens de serem ativos.

(*) Professora e mestre em Saúde Pùblica. Presidente do Conselho Regional de Educação Física – 5ª Região (CREF5).

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/09/2024. Opinião. p.18.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

POR UM CEARÁ DE APRENDIZAGEM

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

Para escrever este artigo, inspirei-me no trabalho produzido por Joseph Stiglitz e Bruce Greenwald, Por Uma Sociedade de Aprendizagem (2015), que permanece atual e contribui decisivamente para as políticas públicas que o Governo do Ceará vem implementando. Os economistas explicam como a produção de conhecimento difere da produção de bens de consumo. Eles também afirmam que a divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento cria um vácuo de conhecimento que vai além de um simples déficit de recursos. Essa lacuna na produção e no compartilhamento de saberes acentua, segundo os autores, a separação entre regiões e países.

Quanto aos incentivos para investir em pesquisa, Stiglitz e Greenwald tecem comentários sobre os riscos do sigilo excessivo, que impede o fluxo de conhecimento essencial à aprendizagem. Segundo eles, a maximização do que se retira do conhecimento coletivo, aliada à minimização de suas contribuições, reduz o ritmo da inovação. Como o progresso dos países em desenvolvimento está diretamente relacionado a essa lacuna de conhecimento, diminuir a desigualdade nesse campo e ajudar aqueles com dificuldades de aprendizado são elementos centrais para o crescimento e para o desenvolvimento de uma nação.

É notório e indiscutível que, no Brasil, os mercados não são eficientes em promover o investimento em inovação. A eficiência na produção e na disseminação de conhecimento não é intrínseca ao mercado. O investimento em geração de conhecimento é insuficiente, pois os mercados tendem a evitar projetos de longo prazo e de alto risco, como a pesquisa científica.

E não é só uma questão de quanto se gasta, mas de como e para onde esse investimento - subsidiado pelo Estado - é direcionado. Stiglitz e Greenwald demonstram que as políticas governamentais precisam promover a transformação das sociedades em sociedades de aprendizagem, em vez de se concentrar no aumento da eficiência na alocação de recursos e no acúmulo de capital - abordagens que já se mostraram contraproducentes.

As políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) na África, por exemplo, contribuíram para a paralisação do crescimento econômico, resultando em um PIB da região inferior ao registrado há 25 anos.

Desde o ano passado, o governo brasileiro tem trabalhado em um projeto para reduzir a "diáspora científica", fenômeno em que pesquisadores altamente qualificados deixam o Brasil para estudar no exterior e não retornam. Esse processo já foi denominado de "fuga de cérebros" (brain drain) no final dos anos 1950 pela British Royal Society para descrever a saída massiva de cientistas e tecnólogos do Reino Unido para os Estados Unidos.

Estima-se que cerca de 35 mil cientistas brasileiros estejam vivendo fora do País, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia. A maioria reside nos Estados Unidos, Portugal, Alemanha, Reino Unido, Estônia e Nova Zelândia.

O Ceará precisa caminhar nessa direção, principalmente com a chegada do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) ao nosso Estado, que abre portas para a internalização de mentes e a produção científica endógena. Diante disso, é necessário viabilizar os "catalisadores" (conforme Stiglitz & Greenwald). Esses fatores estão divididos em seis categorias: fortalecimento do ambiente institucional; aperfeiçoamento da governança para a recepção dos talentos; infraestrutura e ambiente operacional (investimento); pesquisa e desenvolvimento (inovação); estratégia governamental e comércio (implementação); e a criação de um programa estadual de propriedade intelectual (DPI), que valorize o detentor do conhecimento e, sobretudo, traga retornos sociais. Nesse sentido, lembro-me do exuberante exemplo de Albert Sabin, que rejeitou patentear a vacina da poliomielite: "Patente? Não há patente. Você poderia patentear o Sol?".

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 4/10/24. Opinião. p.19.

TESTEMUNHO DE UM MÉDICO

Por Fernando Barroso (*)

Quanto vale um médico no mercado atual?

Fico lembrando de uma música do Caetano cantada exemplarmente pela a voz inconfundível de Elza Soares que diz "a carne mais barata do mercado é a carne negra" e com licença poética e parodiando o genial poeta, "a carne mais barata do mercado é a carne médica". Estão volumosamente em todos os lugares e pululam em todas as esquinas instagramaveis, socializadas nas redes X ou não.

A onde perdemos o bonde dessa história? Não seria a saúde o maior bem dos seres humanos? O assunto mais debatido em todos os palanques eleitorais? E prontamente esquecido após o fim da eleição e é sem dúvida a primeira a perder na divisão de verbas e investimentos deste país, pois se verdade não fosse, não teríamos inúmeras filas para uma simples cirurgia de vesícula biliar.

Profissão nobilíssima, desde a Grécia antiga, quando o médico era uma das principais autoridades para Reis e monarcas, pois os faziam permanecer vivos. Hoje não estamos mais nas grandes mesas de decisões sobre a saúde, esta coitada, agora é comandada por grupo de investidores que só visam lucro, e estão certos, porque negócio bom tem que dar lucro mesmo! Só que existe um grande equívoco aí, pois saúde não é negócio e as decisões relativas a mesma não podem ser tomadas por quem não pratica a medicina.

Levantemo-nos! Acordemos todos os médicos vocacionados e discípulos de Hipócrates!

Não podemos mais deixar a saúde ser vilipendiada, pois na realidade perdemos todos: pacientes, médicos e os senhores donos do poder, que nem sempre vão conseguir se tratar em Cleveland, pois o inesperado pode causar uma surpresa.

Medicina deve ser assunto de médicos, pacientes e do poder público, prioritariamente. Não sou contra a medicina privada, mas antes dela, precisamos de uma medicina acessível decente e que nenhum paciente morra nas filas ou portas de hospitais a espera de um atendimento minimamente decente.

Acordemos! O Falcão da realidade ronda todos os arranhas céus do Brasil! Urge uma revisão urgente desse modelo de saúde, das escolas médicas e da política de saúde desse país.

(*) Professor da UFC e chefe da Hematologia e Transplante de Medula Óssea do Hospital Universitário Walter Cantídio.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/9/2024. Opinião. p.18.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Dr. Marcelo Gurgel lança livro celebrando 50 anos de Oncoepidemiologista

Na última sexta-feira (18/10), o Instituto do Câncer do Ceará (ICC) celebrou o Dia dos Médicos com o lançamento do livro “Memorial de um Oncoepidemiologista”, de autoria do Prof. Dr. Marcelo Gurgel. Com a obra, Dr. Gurgel comemora 50 anos de uma carreira dedicada à saúde pública, à educação e à epidemiologia do câncer, sendo referência nacional e internacional. Sua atuação acadêmica se destaca pela sólida formação: graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Dr. Gurgel é mestre e doutor em Saúde Pública, com especializações em Economia da Saúde.

Além de professor do Mestrado Acadêmico em do ICC, Dr. Gurgel ocupa posições importantes no cenário científico e cultural. Ele é membro da Academia Cearense de Letras e da Academia Cearense de Medicina, com uma vasta produção literária, que inclui 130 livros. Sua carreira é marcada pela excelência em projetos de saúde pública e epidemiologia, tendo coordenado e desenvolvido diversas iniciativas voltadas ao estudo e controle do câncer no Brasil.

A renda integral da venda do livro será destinada à Casa Vida, braço de responsabilidade social do Grupo ICC, que oferece suporte a pacientes oncológicos e seus familiares durante o tratamento. A obra não apenas representa uma celebração pessoal de cinco décadas de contribuição à medicina, mas também reforça o compromisso de Dr. Gurgel e do ICC com o cuidado humanizado e social.

Fonte: Blog do ICC em 25/10/24.


CORPO VELHO NUMA VIDA LIVRE

Por Márcia Alcântara Holanda (*)

“A velhice carece de descanso, mas é nesse descanso que o pensamento se acalma e ganha novas formas"

Minha amiga Rita e eu, entre um gole de café e outro, dias atrás, voltamos a conversar sobre a velhice: suas possibilidades e entraves. Eu dizia que ela é viável e livre, mesmo com o corpo entremeado de limitações extremas. Rita, percebendo meu corpo envelhecido, pediu-me explicações. Acessei minha vida com intensidade e comecei falando de quando parei de clinicar, aos 79 anos. Sentia-me cansada e queria mais tempo para ler e trabalhar com as palavras. Havia me aposentado do serviço público, assim como Riobaldo em Grande Sertão: Veredas quando diz: "Vivi puxando difícil de difícil. Agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos desassossegos, estou de range rede, me inventei nesse gosto de especular ideia".

Expliquei também que "A velhice carece de descanso, mas é nesse descanso que o pensamento se acalma e ganha novas formas" como ele falou. Foi o que fiz, mesmo com a velhice aos 82 anos, marcada por cinco doenças crônicas controladas e, há um ano, por um câncer de elevada malignidade.

Com essas marcas físicas e emocionais, observei a vivência de personagens de livros clássicos e encarei-me com atenção ao deparar-me com a finitude. Segui o exemplo de Riobaldo: mergulhei nas águas profundas do pensamento consciente, fiz breves pausas para um respiro às percepções e emoções que os feitos da minha vida até então me trouxeram. Em cada respiro, analisei o que construí: vidas salvas, família sustentada pelo trabalho árduo. Vi também os erros e sombras que me acompanharam — amizades desfeitas, comportamentos que feriram relações familiares e profissionais, e vícios que embotaram as emoções e traumas do passado.

Enfrentei essa travessia e emergi com um novo entendimento. Ao me deparar com esse desvelar senescente e um corpo minado, conheci minha essência e, com isso, conquistei uma liberdade plena — quase absoluta. Meu ser-em-si e ser-para-si, como diria Sartre, foi atualizado para a velhice. Percebi que um corpo velho e doente pode, sim, ser livre: para o que desejarmos fazer: do amar ao cuidar-se, ao divertir-se e emocionar-se, ao viver pleno. Ele impõe limites, mas dentro deles há liberdades absolutas.

"Como?", questiona Rita. Citei-lhe um exemplo de Simone de Beauvoir em Cerimônia do Adeus, posição 698 no Kindle, quando Sartre passou anos recusando uma dentadura por causa de gengivas abcedadas. Ele dizia que uma dentadura inviabilizaria sua fala. Considerava a velhice inviável, mas quando falar se tornou impossível, ele a aceitou. Dois dias depois, comentou sobre o ajuste: "Foi maçante, mas eu só pensava nos meus dentes, e estava tão contente!" Beauvoir acrescenta: "Havia nele um cabedal de saúde física e moral que resistiu a todos os golpes, até as últimas horas." Assim, cai por terra a inviabilidade da velhice que ele tanto apregoava. Tilintamos nossas xícaras ao final.

(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro honorável da Academia Cearense de Medicina.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/09/2024. Ciência & Saúde. p. 2.

domingo, 3 de novembro de 2024

OS VELHINHOS QUE DIVIDEM TUDO!

Um jovem está comendo no McDonald's. Na mesa ao lado, senta um casal de idosos.

Ele notou que o casal pediu apenas uma refeição: um hambúrguer, uma porção de batatas fritas e um refrigerante, com um copo extra vazio.

Curioso, ele ficou observando o casal. O senhor gentilmente dividiu o hambúrguer ao meio, contou as batatas fritas, uma por uma, e dizia "uma para você, uma para mim".

Então ele despejou metade do refrigerante no copo vazio e entregou a ela. Então o homem começou a comer. Enquanto isso, sua esposa o observava. Ela sequer tocava a sua parte da refeição.

Comovido com a cena, o jovem foi até eles e disse que poderia pagar por uma refeição a mais para eles, ao invés de dividirem somente uma. gentilmente, o senhor disse: "Oh, não, não se preocupe meu jovem. Estamos casados há 50 anos, e há 50 anos temos o hábito de dividir tudo meio a meio". "Entendi", disse o jovem.

Ele vira para a senhora e pergunta: "E a senhora, por que não está comendo?"

Ela responde: "Porque é a vez dele de usar a dentadura".

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

A INTIMIDADE NA TERCEIRA IDADE

1. Limpe muito bem os seus óculos e certifique-se de que a sua parceira está na cama.

2. Deixe a luz acesa para evitar tropeçar ao ir ao banheiro.

3. Desligue a televisão para que você possa se concentrar na difícil tarefa.

4. Não se esqueça de se despir.

5. Verifique se sua dentadura tem cola suficiente, para que não saia durante a ação.

6. Escreva o nome do seu parceiro na palma da sua mão (caso se esqueça).

7. Lembre-se da "pílula azul mágica".

8. Tenha um analgésico à mão, para o caso de sua coluna ficar presa ou você tiver cãibras.

9. Verifique se o número de emergência está dentro do sistema de discagem rápida do seu telefone.

10. Tenha em mãos a apólice de seguro de despesas médicas ou o cartão do seu plano de saúde. Por último, faça um resumo da façanha para seu grupo de amizades.

Imprima essas recomendações em letras grandes, para que você não tenha problemas para lê-las.

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.


sábado, 2 de novembro de 2024

ERA MESMO UMA TRAIÇÃO?

Um casal estava dormindo profundamente na cama. De repente, por volta das 4 horas da manhã, eles acordam com um barulho muito forte do lado de fora, como se alguém tivesse chegado.

A mulher acorda aturdida, pula da cama e grita para o homem:

“Essa não! Deve ser o meu marido!”

O homem rapidamente pula da cama, apavorado e nu.

Ele pula da janela como um louco, do segundo andar da casa, e cai em cima de um arbusto cheio de espinhos. Todo arranhado, tenta alcançar o carro o mais depressa possível.

Porém, alguns minutos depois, eis que ele mesmo abre a porta do quarto, todo machucado e sujo de terra, e grita para a mulher:

“Eu sou o seu marido, sua abusada!”

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.


"BENZENDO-SE" À SAÍDA DO MOTEL

Um homem sai de um motel depois de ter estado com sua amante e faz o sinal da Santa Cruz ao cruzar a porta.

O porteiro do estabelecimento, muito entusiasmado, se aproxima dele e diz:

- "Senhor, eu o admiro por ser tão católico fazer o sinal da Santa Cruz ao sair do motel."

O homem responde:

- "Sinal da Santa Cruz?"

"Olha amigo o que acontece é que eu faço é uma checada básica."

E fazendo o gesto do sinal da Santa Cruz diz em voz alta: Tocando sua cabeça:

- "Cabelo seco."

Tocando a parte inferior do abdômen:

- "Cuecas no lugar."

Tocando o peito do lado esquerdo:

- "Carteira de Identidade no bolso da camisa."

Tocando o peito do lado direito:

- "Dinheiro para o táxi."

Colocando a mão na boca, ele fareja e finalmente diz:

- "Sem cheiro de peixe."

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.


sexta-feira, 1 de novembro de 2024

CAMINHOS DO CEARÁ: Dona Josa, o junco e a juta

Por Izabel Gurgel (*)

"O junco é um capim criado dentro d´água." Dona Josa, 66 anos, colhe o junco na lagoa de Alcaçuz, em Pirangi do Norte. É um dia de trabalho, com a ajuda de um dos quatro filhos, Josenildo, o Jó. Apoiam-se em câmara de ar de pneu. "Não tomo pé", diz sobre não tocar o solo da lagoa.

Seco ao sol, um dos usos do junco é na feitura de suadouro, anteparo sobre o dorso do cavalo a ser cavalgado. Usa-se também para fazer colchão de cama. Dona Josa usa o junco para bordar (n)a juta. Para manter a longa fibra maleável, seca o junco à sombra durante uma semana.

Para bordar, estende o tecido de juta no tear, como chama a armação de madeira, uma espécie de 'mesa vazada', só o esqueletinho dela: quatro pernas, quatro ligações horizontais entre elas, sem o tampo.

No tear, a juta é esticada de modo similar ao das amarrações para a feitura do bordado rendado ou da renda bordada de nome labirinto. Dona Josa e as sete pessoas que trabalham com ela, cada qual em sua casa, usam agulha de palombar, uma agulha náutica de metal.

O tear tem a função do chamado bastidor para bordar, que a maioria de nós conhece no formato redondo. Ela tem vários teares de madeira em casa, com medidas diferentes. Facilita o trabalho. Senta-se para bordar. E para finalizar as peças na máquina de costura.

Usa um tear metálico quando viaja a trabalho. "Todo desmontável". É o que veio com ela, da casa em Pirangi do Norte, para o espaço do Rio Grande do Norte na feira nacional de artesanato que termina hoje no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza.

Maria Josinete aprendeu o ofício com o pai, Francisco Estevam do Nascimento. Dos oito filhos de Chico Vitô e Pedrosina, "seis se criaram". Rendeira de bilro, a mãe recheava a almofada com folha de cajueiro. Usava espinho de cardeiro como alfinete.

O pescador Chico Vitô fazia artesanato com cipó. Fez chegar à terra do maior cajueiro do mundo os saberes do bordar com junco. "Ele levou um curso para Pirangi." E participou como aprendiz. Faz-se também crochê com o junco.

Dona Josa traz nos olhos a variação de cor do junco depois de seco. Borda a geometria do mundo em almofadas, bolsas e carteiras, predominantes dentre as peças expostas à venda. Tem efeito de douração o desenho na juta crua ou tingida. Luz à tardinha na lagoa. A última hora da colheita.

Tudo ali tem muito tempo. Vislumbro nos tons de palha crua, nos verdes que permanecem, tingidos de claridade e sombra, de amarelos a terrosos, o diário de uma jornada, vestígios de um dia sobre a Terra, na Terra, um sopro na existência do planeta.

(*) Jornalista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/09/24. Vida & Arte, p.2.

FOLCLORE POLÍTICO: Porandubas 817

Abro com Goiás.

Não mudou nada

Miguel Rodrigues, velho e sábio político de Goiás, foi visitar uma escola primária. Ali, a professora ensinava os primeiros dias de Brasil:

- No começo do Brasil colônia, como a América e o Brasil ficavam muito longe, para cá vieram, primeiro, muitos ladrões, degredados, condenados.

O coronel Miguel suspirou:

- Então não mudou nada.

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/391778/porandubas-n-817

 

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