quinta-feira, 29 de abril de 2021

HESITAÇÃO VACINAL

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Impressões negativas sobre uma vacina são muito difíceis de mudar

Cada grupo das redes sociais é formado por pessoas com opiniões semelhantes. O mesmo acontece com os que não desejam tomar a vacina contra o coronavírus ou serem contrários a esse método profilático.

Não há nada de novo nesse complexo conjunto de medos, tão contagioso ou mais no que se refere à presente, ou a pandemias passadas. Compreensivo. Introduzir qualquer coisa diferente de comida no próprio corpo ou sangue é sempre uma experiência emocionalmente carregada.

Mesmo em países onde há pressa para aplicar a vacina, a hesitação pode surgir em comunidades específicas, particularmente em grupos marginalizados. Alguns grupos desconfiam da autoridade do Estado – às vezes, devido à História das experimentações médicas – e alguns buscam orientação espiritual, em vez de temporal, sobre qual a adequada maneira de conviver. Suas crenças estão ligadas às emoções individuais e quem lida com a psiquê humana sabe que elas são impossíveis de controlar pois variam de indivíduo para indivíduo.

Mas vamos ao assunto do momento: “tomar ou não tomar a vacina”. Quanto a essa questão, há que respeitar o conhecimento profissional que diz: Ninguém consegue ser o dono das próprias emoções.

Tão logo os pesquisadores biomédicos começaram a trabalhar em vacinas contra o Sars-COV2, o vírus que causa a covid-19, as pessoas responsáveis pela Saúde Pública começaram a se preocupar com a “hesitação vacinal”.

Sei que essa hesitação vacinal é extremamente fluida no tempo e no espaço, sujeita a todas as categorias de influências. No domínio do contato entre grupos, a percepção de informação estereotipada sobre membros de fora do grupo, por exemplo através da exposição à mídia, aumentará a probabilidade não só de que se irá ativar tal hesitação no “aqui e agora”, mas de que as consequências dessa hesitação poderão ter enormes atuações maléficas, mais tarde.

Observei que, se eu receber algo muito errado através do WhatsApp e passar pra frente, estarei comentando crime seríssimo. O certo é nunca repassar tal tipo de mensagens.

Ao ficar quieto no meu antro de ignorância, não estarei induzindo as gentes que não têm o devido acesso à ciência a espalhar o medo no caso de eventos adversos da vacina, sejam eles raros ou não. Ao não repassar, nada tenho a perder, mas tenho uma enorme chance de diminuir o medo de todos. Apelo. Faça um favor para a humanidade: pare de enviar seus vídeos/áudios e reportagens de quinta categoria que só sustentam o descrédito vacinal.

O mau uso do seu endereço eletrônico ou “Zap” pode vir a matar algum familiar seu ou qualquer outra pessoa, seja amigo e até inimigo.

Pare de fazer circular notícias erradas.

Elas se espalham numa velocidade muito maior do que a do vírus que estamos tentando combater pela aplicação de medidas sanitárias de fomento à confiança da população. Lembre-se de que é mais fácil estimular a inação do que a ação de aceitar a vacinação.

O trabalho dessas pessoas “antivacina” é muito mais simples do que o dos trabalhadores de saúde pública: o medo e a dúvida são mais fáceis de incutir na espécie denominada afoitamente por nós próprios de Homo sapiens, única espécie de Homo que ainda não foi extinta graças à ‘ciência’ que desenvolvemos desde a Idade da Pedra Lascada.  Contra fatos não existem argumentos. Lugar-comum, lugar-comum, dirão muito dos meus escassos leitores, se os houver.

Pois quanto aos ditados, dizem pessoas do interior do meu estado de Pernambuco: “Ditados são a riqueza dos pobres de espírito”.

Mas tomem a vacina!

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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