sábado, 3 de abril de 2021

QUARESMA E PANDEMIA

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

O mundo está perplexo e sofrido diante da devastação causada pela pandemia da Covid-19. Há um ano, um vírus invisível instalou-se entre nós e deixou pegadas de dor e morte.

O sofrimento inocente e o mundo imerso em lágrimas são a estrada mais árdua para compreender a fé. É nas experiências do sofrimento que emerge a pergunta: Onde está Deus? Na dor e no sofrimento, o crente e o ateu perguntam por Ele.

A Igreja afirmava, no Vaticano II, que "uma das causas do ateísmo e do indiferentismo religioso se deve ao silêncio de Deus diante do sofrimento (Gs 19).

Em decorrência dessa realidade, surgem questionamentos: por que existe dor, se Deus nos ama? Qual o motivo do silêncio diante da dor? Onde Deus está? Percebe-se que algumas respostas causam revolta contra Deus. Mostram uma concepção da onipotência de Deus, que resulta em insensibilidade diante do sofrimento humano.

Nessa perspectiva, o mal expressa o desejo divino de punir a humanidade por seus pecados. Se assim fosse, Deus não passaria de um sádico, que se alegra com nosso sofrimento. Tal imagem alimenta e origina uma fé equivocada.

Para falar de Deus em situações de sofrimento precisamos escutar o grito de Jesus na cruz. A Cruz nos apresenta Deus sub contrário, isto é, sob seu oposto: na humildade, debilidade e no sofrimento.

Na cruz de Jesus, Deus se revela, sofre e se solidariza com seus filhos. Ele não está alheio, sofre conosco.

O silêncio na cruz de Jesus não representa indiferença, e sim o silêncio de quem escuta e se compadece. Deus fala no silêncio, deixa-se conhecer na ausência e mostra seu poder na debilidade. Só um Deus que padece é capaz de se compadecer. Portanto, vejo Deus em tudo, nesta crise.

No trabalho exaustivo de médicos, profissionais de saúde, cientistas, educadores que precisaram reaprender a ensinar, nos que rezam e espalham esperança, alimentam famintos e animam o olhar para além da tragédia.

Deus age o tempo inteiro. Ele necessita de cada um de nós para se revelar, contudo precisamos de fé para ver além do óbvio. Deus sempre se revela no poder do amar e servir! 

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor pastoral do Colégio Sto. Inácio.

Fonte: O Povo, de 13/3/2021. Opinião. p.18.

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