domingo, 11 de abril de 2021

A BATALHA DAS TONINHAS

Depois muito tempo de progresso na Europa, a disputa imperialista por mercados terminou produzindo o primeiro grande confronto bélico do século XX, a I Guerra Mundial, que perduraria de 1914 a 1918.

O único país sul-americano a participar do conflito foi o Brasil, que, por meio do presidente Venceslau Brás, declarou guerra à Alemanha, em 26 de outubro de 1917.

A participação brasileira na I Grande Guerra foi mínima e, atualmente, é quase desdenhada. Embora o Brasil não tenha participado diretamente da guerra, o País enviou navios ao continente europeu que receberam ordens da marinha inglesa.

Com efeito, do ponto de vista militar, seria difícil para o Brasil ter participado de forma expressiva nessa conflagração, pois, com um Exército de somente 54 mil homens e uma Marinha, que perdera a imponência da época do II Império, fragilizando-se como força, nos anos da República Velha (1898-1930), ao Brasil somente restaria oferecer ajuda simbólica.

Desse modo, além do envio de 20 oficiais e de um contingente de cem médicos para a Europa, com o fito de prestar assistência médica a feridos de guerra em hospitais franceses, o Brasil despachou missões navais para agir, sob ordens britânicas, no Atlântico, cabendo-lhe patrulhar a costa ocidental africana, o que incluía "limpar" trechos minados.

Em uma dessas ações, houve grande número de mortos – mais de 150 homens. Só que o “inimigo”, na verdade, foi um surto da gripe espanhola que atingiu a tripulação brasileira.

O episódio conhecido por “A Batalha das Toninhas” foi um evento ocorrido com a Marinha de Guerra do Brasil. ao largo de Gibraltar, ao final da I Guerra Mundial.

Os navios da Divisão Naval em Operações de Guerra receberam ordens do Almirantado inglês para seguirem para Gibraltar. A ordem foi acompanhada do alerta de que um encouraçado britânico tinha sido afundado por um submarino alemão na mesma região. Assim, o almirante brasileiro Pedro Max Fernando Frontin ficou em alerta com a possibilidade de haver mais submarinos na área.

Ao chegar no Estreito de Gibraltar, o Cruzador Bahia, comandado pelo almirante Pedro Frontin, notou uma estranha movimentação no mar e avistou algo que, segundo ele, seria o periscópio de um submarino alemão. Diante de tal situação, o almirante ordenou um poderoso ataque.

Contudo, o que acreditava ser um submarino alemão era, na verdade, um bando de toninhas. A toninha é um cetáceo de águas frias do Hemisfério, que muito se parece com os golfinhos, sendo, porém, de menor tamanho.

Nesse contexto, o comandante do Cruzador Bahia confundira um bando de toninhas com o rastro do periscópio de um submarino alemão, resultando no ataque inusitado ao cardume.

O ataque, entretanto, foi pesado e rigoroso. Somente ao término dos disparos, e já com muito sangue tingindo de vermelho a água, foi que os marinheiros brasileiros averiguaram que o que atacaram não eram alemães e tampouco oferecia algum perigo. A carnificina foi geral, resultando no massacre do cardume e, finalmente, o ataque alemão nunca aconteceu.

No entanto, o ímpeto da bravura demonstrada só veio a nutrir a imaginação popular; entre muitas piadas, foram criados relatos de um comandante alemão que, vendo o que teria acontecido, teria dito algo assim:

Se eles fizeram isso com um grupo de golfinhos, imagina o que farão conosco!” aí nós vamos de tartaruga.”

O evento em Gibraltar aconteceu no início de novembro de 1918. Alguns dias depois, a guerra chegou ao fim. Entre os gozadores de plantão, houve quem aventasse que o próprio Kaiser Guilherme II, teria antecipado a rendição, para não ter que enfrentar a fúria da armada brasileira.

O fato é que o incidente com a marinha brasileira foi retirado dos livros e raramente é mencionado por ter se tornado um episódio cômico.

Entrementes, a reação dos marinheiros não pode ser de todo criticada, tendo em conta o cenário de alerta, pela possível presença dos temidos submarinos “U-Boats”, que lhes foi apresentado antes de chegarem ao Estreito de Gibraltar, e por casos de naufrágio de navios brasileiros que foram efetivamente torpedeados por submarinos alemães.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ombro, arma! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2018. 112p. p.64-66.

Nota: Esse causo foi escrito com base em diferentes relatos disponíveis na internet.

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