Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Parece-me óbvio o que as escolhas e os
desejos podem provocar no futuro de uma pessoa, especialmente quando se vincula
a objetivos de poder. Dependendo da escolha intima uma libertação ou
escravidão.
Refiro-me, nesse momento, a qualquer forma
de predomínio, das relações materiais às relações entre pessoas.
O fato é que ao fazer tal escolha, perde-se
a capacidade de julgamento. Torna-se presa fácil da vaidade e desvia seus
caminhos num sentido sem volta, traindo os preceitos morais e os valores da
sociedade em que habita.
A solidão e o ostracismo serão inexoráveis.
Se houver compreensão dos fatos, menos mal. Mas, se estiver absorto de suas
meias verdades, estica uma imagem distorcida de si mesmo e da sua realidade. É
uma exaltação narcísica. Talvez nesse aspecto se entenda a paixão por obras dos
governantes. Além de um contexto fálico, esses excessos megalômanos sedam a
angustia da verdade e da vulnerabilidade. Enfim, dá a eles, aos poderosos, uma
sensação de força e poder.
Certa vez, ao conversar com um deles, que
passava por um momento crítico de popularidade, quando se percebia, lembro com
detalhes, deprimido e desconsolado. Foi quando mostrou-me fotos de algumas
obras em andamento. E assim não hesitou e me disse - é disso que eu gosto.
Percebi, naquele instante, que os
governados, o povo, eram apenas figurantes desse mundo próprio do poderoso.
Alguns argumentam que é somente corrupção,
trocas de favor, caixa para campanha, aliciamento das lideranças e da
população. No entanto, nesse palco encontramos alguns dos mais pesquisados
aspectos do ser humano, uma mistura de estrionismo, narcisismo e sadismo.
Talvez tenhamos um pouco de cada uma dessas
características, mas, no mundo do poder excedem-se os limites. Entre eles, o
controle é raro e o deslize é frequente.
Por isso, creio eu, que a democracia seja
vital. Não é perfeita, mas atende à maturidade de cada época e de cada geração,
por mais contradições que existam.
Resta-nos, ao menos, pensar livremente, e
facilitar a maturidade d’alma e crer com bom senso.
Pois, como pregava Santo Agostinho: ‘’A
esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos
ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las’’.
Enfim, é a temporalidade, a meu ver, a
cláusula pétrea da democracia.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte:
Publicado In: O Povo, de 22/02/2025.
Opinião. p.19
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