Por Pe.
Reginaldo Manzotti (*)
Estamos iniciando um novo ano, e isso
sempre representa uma oportunidade, com a graça de Deus, para transformar a
nossa vida. O Apóstolo Paulo é um exemplo de que, quando Cristo nos encontra,
nada fica igual, pois Ele nos chama a uma nova vida de fé e missão.
Paulo de Tarso, também conhecido como
São Paulo, é uma das figuras mais influentes na história do cristianismo. Sua
trajetória, marcada por uma dramática conversão e uma missão incansável de
evangelização, teve um impacto profundo no cristianismo, Paulo se estabeleceu
como uma das vozes mais poderosas na formação teológica e pastoral da igreja
primitiva.
Antes de se tornar um dos maiores
defensores de Cristo, Paulo era conhecido como Saulo de Tarso. Nascido em
Tarso, uma cidade que fazia parte do Império Romano, ele era judeu de
nascimento, com cidadania romana, o que lhe conferia um status especial e uma
educação privilegiada.
Saulo era profundamente comprometido com
a fé judaica e com as tradições do Sinédrio, o órgão governamental e religioso dos
judeus. Ele acreditava que o movimento cristão representava uma ameaça à
verdadeira fé judaica e, por isso, se dedicava com fervor à perseguição dos
seguidores de Jesus Cristo.
O apóstolo não era apenas um simples
perseguidor. Ele desempenhava um papel ativo e de destaque na condenação de
cristãos, como ocorreu no martírio de Estêvão, o primeiro diácono da igreja,
cujas vestes foram colocadas aos pés de Saulo, simbolizando sua aprovação à
execução. Esse zelo pelas tradições judaicas levou-o a viajar para Damasco com
o objetivo de prender mais cristãos, mas foi nesse caminho que sua vida tomaria
um rumo inesperado.
A Bíblia descreve um evento
extraordinário: uma luz cegante o envolveu no caminho, e uma voz lhe perguntou:
"Saulo, Saulo, por que me persegues?". Surpreso e confuso, Saulo
questionou: "Quem és tu, Senhor?", e a resposta foi clara: "Eu
sou Jesus, a quem você persegue" (Atos 9, 4-5). Esse encontro com Jesus,
que se revelou de forma direta e sobrenatural, não só derrubou Saulo de seu
cavalo, mas também desafiou suas crenças mais profundas.
Embora o texto bíblico não mencione
especificamente que Saulo caiu de seu cavalo, a imagem da queda foi
frequentemente representada nas artes como um símbolo da humilhação que ele experimentou.
Na verdade, ele foi derrubado de sua presunção religiosa, da visão distorcida
de Deus e de seus preconceitos contra os cristãos. Esse evento representou uma
quebra radical de tudo o que Saulo acreditava e desejava. O homem que antes era
temido como um perseguidor agora se encontrava cego e em total dependência de
Deus.
A cegueira temporária de Saulo foi um
sinal de sua transformação espiritual. Ele ficou cego por três dias, durante os
quais refletiu sobre sua vida e seu relacionamento com Deus. Foi então que um
discípulo chamado Ananias, obedecendo a um comando divino, foi até Saulo,
impôs-lhe as mãos, e sua visão foi restaurada. Ananias o chamou de
"irmão", uma palavra que, para Saulo, deve ter sido um grande choque,
visto que ele vinha para prender os cristãos, não para se tornar um deles.
Após o batismo, Saulo passou a ser
conhecido como Paulo, e se dedicou completamente à pregação do Evangelho,
enfrentando perseguições, dificuldades e até privações físicas em suas viagens.
Ele viajou por diversas regiões do Império Romano fundando igrejas e ensinando
sobre a salvação por meio de Jesus Cristo. Embora fosse judeu, Paulo passou a
ser um apóstolo dos gentios, os não-judeus, levando a mensagem cristã a uma
população muito mais ampla e diversificada.
Paulo não era um missionário comum. Ele
era intenso, apaixonado e incansável em sua missão. Seu compromisso com o
cristianismo era total, a ponto de ele declarar em suas cartas que "já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gl 2,20). Seu
trabalho missionário foi marcado por um forte senso de urgência e
dedicação, o que o levou a escrever diversas cartas, que se tornaram parte
fundamental do Novo Testamento.
Paulo também se destacou por sua coragem
diante do sofrimento. Ele enfrentou prisões, açoites, naufrágios e até ameaças
de morte (cf. 2 Cor 11,24-25). Esse sofrimento, no entanto, não fez com que ele
desistisse de sua missão; pelo contrário, reforçou seu compromisso em anunciar
o Evangelho.
A transformação de Saulo para Paulo não
foi apenas uma mudança de nome, mas uma mudança radical de identidade. Ele
deixou para trás o "homem velho" e abraçou a nova vida em Cristo, com
a convicção de que "morrer para o homem velho" e "nascer para o
homem novo" era o verdadeiro significado da fé cristã.
O exemplo de Paulo nos desafia a viver
com a mesma intensidade e dedicação, a buscar uma conversão contínua e a
entender que, como ele mesmo dizia, "o importante é Cristo, o resto é
lixo" (Fl 3,8). Em sua vida, Paulo nos mostra que não existe fé verdadeira
sem transformação e missão.
(*) Fundador e presidente da
Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de
Guadalupe, em Curitiba (PR).
Fonte: O Povo, de 25/01/2025.
Opinião. p.16.
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