Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)
A geoeconomia
compreende medidas que buscam fortalecer os interesses econômicos de um país
enquanto disciplinam seus competidores estratégicos. Isso, necessariamente,
afeta as relações entre governos e o setor privado, com o poder público
intervindo frequentemente para beneficiar seus produtores. Nesse “capitalismo
de Estado”, os governos detêm dois quartos das reservas globais conhecidas de
energia, e as empresas estatais respondem por uma parcela expressiva do total
investido no planeta, figurando entre as maiores corporações do mundo.
Para Mikael
Mattlin, pesquisador do Instituto Finlandês de Economia Internacional, há três
tipos de enfoque para essa questão: o primeiro trata a geoeconomia como uma
arte de governar; o segundo enfatiza o espaço geográfico; e o terceiro
considera sua dimensão social e política.
Em meio a idas e
vindas, incluindo a suspensão temporária de taxas, a discussão pouco
fundamentada diante de um capitalismo global e contemporâneo - somado à
volatilidade das regras econômicas - tem deixado agentes perplexos. Muitos se
perguntam quem seriam os beneficiados pela política de Donald Trump, dado que
uma nova guerra comercial tem várias dimensões. As tarifas de 25% impostas ao
Canadá e ao México exemplificam uma tendência geoeconômica atual: um
“neo-mercantilismo” com características fortes de populismo, nacionalismo e
protecionismo.
A estratégia
busca sinalizar para eleitores de Trump que a aplicação de tarifas e impostos
sobre outros países levará ao enriquecimento da população americana. Essa
abordagem funcionou nos Estados Unidos do século XIX, mas, nos tempos atuais, o
capitalismo exige fluxos intensos e multidimensionais. Uma consequência é
certa: elevação dos preços – inflação nos Estados Unidos e impacto
inflacionário também nos demais países.
Um dos riscos de
exercer poder geoeconômico excessivo é a fragmentação da economia global.
Enquanto isso, os Brics – grupo que inclui Brasil, China, Rússia e Índia –
seguem em expansão. Mesmo uma alternativa econômica menos robusta poderia
enfraquecer os Estados Unidos. O poder geoeconômico se fortalece quando um país
controla uma atividade quase inteiramente, deixando os demais sem opções
viáveis. Contudo, qualquer alternativa, por menor que seja, já reduz esse
domínio.
Uma análise que
realizamos a partir do portal UN Comtrade – repositório de estatísticas
oficiais de comércio internacional, disponível em:<https://comtradeplus.un.org/> – mostra que o superávit comercial brasileiro está
concentrado em três blocos: Estados Unidos, União Europeia e Brics. No entanto,
os parceiros tradicionais (Estados Unidos e União Europeia) perderam
participação, enquanto os Brics já absorvem 35% das exportações brasileiras,
com um crescimento de 10% na venda de bens de produção (insumos para fabricação
de novos produtos). Esse movimento indica uma maior inserção do Brasil em novos
mercados, o que se torna ainda mais relevante diante das possíveis taxações
impostas pelo governo Trump sobre produtos como alumínio e aço.
O Brasil terá um
enorme desafio na nova geoeconomia, marcada pelo “neo-mercantilismo trumpiano”.
Diante desse cenário, vale lembrar Monteiro Lobato, que, em 1918, escrevia na
Revista do Brasil: “O protecionismo é isso: destruição da concorrência, proteção
ao incapaz...o protecionismo protege, não o povo, não o país, mas o incapaz”.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e
Planejamento do Eusébio-Ceará.
Fonte:
O Povo,
de 6/02/25. Opinião. p.15.
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