segunda-feira, 24 de março de 2025

A ECONOMIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Por Cláudia Leitão (*)

O que há de comum entre a Igreja de São Francisco de Salvador e a catedral de Notre Dame de Paris? Além do imenso valor simbólico que representam, ambas foram vítimas de grandes desastres. Das manchetes da grande midias à demagogia dos discursos políticos, até mesmo à produção de séries televisivas, as tragédias vividas pelo patrimônio cultural nos fazem refletir sobre o lugar da política patrimonial na agenda mundial de desenvolvimento das cidades.

Conservar, preservar, salvaguardar, valorizar são palavras em constante disputa, diante das imagens de destruição dos bens culturais que não cessam de proliferar. A terra treme, desliza e desmorona, tal qual o patrimônio cultural, refletindo misérias, ganâncias e negligências das nossas sociedades. Por isso, desigualdades, exclusões, imperialismos, entre tantos outros sintomas da degenerescência do humano, também podem ser observados a partir das ameaças ao patrimônio cultural.

Mas se o patrimônio cultural está vivo e nos diz quem somos, as políticas patrimoniais deveriam reagir ao seu isolamento, reposicionando-o para o centro de um ecossistema cujas conexões políticas, sociais, econômicas e ambientais não podem ser desconsideradas. Enquanto construção social, o patrimônio cultural expressa a vontade de agentes públicos e privados no enfrentamento da sua destruição e/ou esquecimento. A suprema beleza do barroco brasileiro e do gótico francês, presentes na Igreja de São Francisco e na Catedral de Notre Dame, são expressões artísticas, ao mesmo tempo em que constituem lugares da memória e do reconhecimento da força criadora da humanidade. Mas esses templos também simbolizam uma oportunidade de reorientação econômica para as cidades. Salvador e Paris reconhecem a importância do turismo patrimonial em suas economias.

Afinal, a necessária integração de políticas para o turismo e a cultura determinarão a sobrevivência e a integridade dos bens culturais. Não se trata da mera mercantilização de monumentos, obras e sítios, mas, sobretudo, da formulação urgente de políticas públicas para a economia do patrimônio que contribuam para a formulação de políticas transversais que garantam os usos sustentáveis do território.

(*) Cientista Social. Professora da Uece. Sócia da Tempos de Hermes Espaço Criativo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/02/25. Opinião. p.18.

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