Por Irenísia
Oliveira (*)
A última pesquisa "Retratos da leitura
no Brasil", realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), revelou que o Brasil
perdeu 7 milhões de leitores nos últimos anos e que a escola é cada vez menos
lugar de referência para a leitura, tendo sido mencionada apenas por 19% dos
entrevistados.
O declínio acentuado vem desde 2015,
coincidindo com o golpe neoliberal na presidenta Dilma e todos os retrocessos
sociais que vieram na sua esteira. Leitura, portanto, depende do emprego, da
renda do trabalhador, da inclusão educacional, de bons currículos escolares, de
políticas públicas para a cultura, de tudo o que decaiu nos anos pós-golpe.
O fenômeno da Internet e das redes sociais pode
ser apresentado como explicação imediata, mas o problema da concorrência com
tecnologias emergentes não é novo para a leitura. Em tempos não tão distantes,
a televisão, o cinema e antes o rádio foram vistos como ameaças e ela continuou
tendo seu espaço.
A leitura é um requisito básico no mundo
moderno. E estar fora da leitura é, em grande parte, um indício de se estar
excluído desse mundo. Ademais, em tempos de desinformação, melhorar a leitura e
a compreensão de textos pode nos livrar das piores armadilhas, sobretudo nas
redes sociais. Verdade que também existe leitura que aliena e manipula e, para
esta, a resposta deve ser a ampliação e a diversificação do universo de leitura
disponível.
Mas, ao contrário disso, o tempo dedicado à
literatura diminuiu nas escolas depois do Novo Ensino Médio, enquanto
bibliotecas públicas e comunitárias são escassas e muitas vezes negligenciadas.
Em relação à escola, não se trata apenas de aumentar as aulas de literatura,
mas que estas se dediquem efetivamente à leitura e à discussão de romances,
poesia, teatro, incluindo autores/as contemporâneos/as. As universidades
públicas poderiam contribuir muito para isso se a formação continuada de
docentes da rede pública não estivesse entregue a institutos privados.
Assim como a educação, a leitura depende de
melhoria da vida social e requer novos currículos e práticas, mais tempo,
espaço e livros disponíveis, desde a escola até a comunidade, o bairro e a
cidade.
(*) Professora de
Literatura da UFC e Presidente da ADUFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/02/25. Opinião. p.18.
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