Por José Nelson Bessa Maia (*)
As relações entre
a China e os EUA remontam a 1844, quando ambos firmaram o Tratado de Wanghia.
Nos 180 anos seguintes, seu relacionamento oscilou entre fases de aproximação e
afastamento.
Com a ascensão
pacífica da China a partir de 1978 e seu rápido desenvolvimento os meios
dirigentes dos EUA sentem-se incomodados com o risco de perda de sua hegemonia.
Os Estados Unidos como a China se vêm então envolvidos numa competição que
abrange os campos econômico, tecnológico e geopolítico, com impactos sobre a
governança global.
Atualmente, China
e EUA, apesar de sua interdependência produtiva e de serem as maiores economias
e exportadores mundiais, não contribuem igualmente para a estabilidade e o
dinamismo econômico do Planeta. Enquanto a China atua positivamente, os EUA se
tornam cada vez mais protecionistas e menos cooperativos, afetando adversamente
a economia internacional.
De fato, o novo
governo dos EUA aplicou tarifa adicional de 10% sobre bens importados da China,
sem uma razão plausível. Trata-se de imposição unilateral de tarifas que viola
as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Uma medida que barra a tão necessária
cooperação econômica entre a China e os EUA e ameaça as cadeias globais de
suprimentos, com impactos adversos sobre a produção industrial e o comércio
internacional.
A China reagiu
com tarifa extra de 15% sobre carvão e GNL dos EUA e de 10% para petróleo
bruto, equipamentos agrícolas e certos tipos de automóveis. Ademais, apresentou
contestação na OMC pelas tarifas discriminatórias impostas pelos Estados Unidos
sobre seus produtos e impôs controles de exportação a minérios estratégicos. No
entanto, apesar da retaliação defensiva, a China mantém-se aberta ao diálogo
para resolver esse impasse e normalizar suas relações comerciais com os EUA.8
A nova onda
protecionista dos EUA não influenciará negativamente apenas o fluxo comercial e
o crescimento das economias. Sua visão "neomercantilista" e abordagem
truculenta afetará também os alinhamentos geopolíticos atuais. Mesmo países
aliados perderão a confiança nos Estados Unidos como parceiro comercial. Isso
poderá levar a uma reconfiguração de laços entre a Europa e a Ásia. As tarifas
mais altas aumentarão a distância geopolítica no mapa do comércio global,
ampliando o fosso diplomático entre os Estados Unidos e outros países.
(*) Mestre em
Economia e doutor em Relações Internacionais pela UnB e ex-secretário de
Assuntos Internacionais do governo do Ceará. Pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países
Lusófonos e China-América Latina.
Fonte: O Povo, de 19/02/25. Opinião. p.19.
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