Download de Chifre
Situação complicada a de dona Mimosa – dívidas
acumuladas, entre elas energia elétrica e água, aluguel e plano funerário.
Simples dicumê do povo casa em falta e gente ‘enloucando’ de aperreio no juízo.
Ela desempregada, ventilador quebrado, joelho ‘dismintido’, praga de cururu no
terreiro, duas vizinhas ‘imprestáveis’.
Situação complicada a de dona Mimosa – já não dormia,
fossa cheia até a tampa, oito goteiras no telhado. Cachorro acuado por praga de
carrapato e o time na série D despencando pra E. Marido com uma rapariga no Zé
Walter e trabalho feito por sujeita do Ancuri. O filho novo com uma curuba
medonha no pescoço...
E quem diria que a solução pudesse vir da curuba medonha
no pescoço do filho de dona Mimosa! Como? A rádio anunciou no programa do
Jurandir um torneio para a escolha da tatuagem mais animal da cidade. Por
tatuagem animal entenda-se: criativa, espontânea, colorida, bem desenhada e a
mais natural possível. Dois mil reais ao vencedor.
Foi Mimosa ouvir a propaganda e lembrar-se vexado da
curuba no pescoço do menino. Se não tinha todos os pré-requisitos do
regulamento, que tal colorir a bichona de violeta genciana? “Vem cá, Mundico!”
Pintou a ferida com o “corante primário usado no processo de coloração de
Gram”, meteu o rebento numa roupa tinindo de branca, botou um pano por cima
(pra ninguém invejar) e foi morta de esperançosa pro campeonato.
Os estilos Old School, New School e Geométricas arrasavam
até a hora em que a tatu daquele pescoço cerotento, saindo da reserva, rompeu o
anonimato e deixou encantados os jurados e suas próximas oito gerações. Nota
100 em todos os itens. Sobremodo, foi aplaudida (a ‘taturuba’ de Mundico) pelo
“referencial angular 3D em alto relevo”. You are the champions entoado pela
torcida.
Com os dois mil no bolso, dona Mimosa pagou as contas.
Até encomendou baralho novo e TV em cores. A curuba do menino, tratou com o de
sempre: cuspe. Sobre a violeta genciana...
- Vou guardar o vrido. Ano que vem tem mais!
“Enceguerado” por elas
Atentemos,
com base nesse minúsculo diálogo, a fixação de Tico Lopão pelo mulheril.
Conversa entre o amigo, ele e Gildásio, que inicia o bodejado.
- Lopão, viu só o Rodrigo Rocha Loures, caba mais sem
futuro?!?
- Fí de
quenga!... Por falar nisso, bicho de gabarito é quenga! Gostosa! Precisa conhecer
minha vizinha lourona que chegou ontem!
- Vi ela! Mas o Aécio, hein? Sobrinho de finado
Tranquedo, como é que pode?
- Pode! Quem
pode mesmo é Tonha de Zé Delgado. Que tronco de sedém!
- Homi, tô falando do conluio do Temer, do PMDB e do PSDB
pra livrar a cara daquele papangu de lagoa!
- Lagoa! Tô
doido tomar banho na lagoa do Tabapuá, nu, com a Bertina filha de dona
Raimunda! Ah, par de coxa lindro!
- Ano que vem tem eleição! E esses aí? Num voto em mais
nenhum fí rapariga!
- Fale de
rapariga na minha frente não, Gildásio! Rapariga é a graça do mundo!
- Dá pra falar contigo não, Lopão. Positivamente, não dá!
- Dá! E se der,
eu... vuco!
Perorando
“O pior surdo é o que não quer ouvir história de aparelho
de surdez” (João Moquim)
Fonte: O POVO, de 4/11/2017.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.
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