sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

AOS VIVOS: Mais 'veaca' que as éguas do Cauípe ... e outros causos


Mais 'veaca' que as éguas do Cauípe

Bom – e só presta se for demorado – é conversar com o amigo Alberto Plutarcho. Aprender cearês com ele, naturalmente. Enviou-me as expressões abaixo, já incorporadas ao Dicionário da Fala Cearense que, se Deus quiser, um dia sai. Sai!
Caba veste as calça lá nas guritas! – A calça ‘sungada’, lá em cima, pegando siri, pegando marreca.
Demorar um pedaço – Demorar um pouco. “O Ceará é um dos poucos lugares do mundo em que espaço vira tempo”, afirma Alberto.
Esse caba perturba que parece piôi de frinfa (caneco, fiofó) – Perturba mais que mosquito em impingem de doido.
Eu tô duma forma tal que do fiofó (caneco, frinfa) se veem os dentes – Numa pindaíba medonha.
Mais ‘veaca’ que as éguas do Cuípe – Na referida localidade da vizinha cidade praieira (terra de Babá), hoje comida pelo mar, éguas se embrenhavam no carnaubal fechado de anos atrás e não havia vaqueiro (ou ‘egueiro’) que as pegasse. Por isso velhacas (‘veacas’), as éguas do Cauípe.
Não vou me demorar mais nenhum pingo – Tô de saída, e é já, já! “Desde quando pingo tem a ver com hora, minuto, segundo?”, indaga o amigo.
Bem se vê que é mentira!
Enviou-me a historinha que segue o escritor de humor abundante Giovani Oliveira. Em uma apresentação da esquadrilha da fumaça em Iguatu, um matuto pegado a laço, lá do sítio Cafundó, veio decretado assistir ao espetáculo. Os aviões rasgavam os céus da cidade e o bicho brabo olhava atento as acrobacias feitas pelos exímios aviadores. Em dado momento, um avião vem de bico em direção ao solo e, súbito, o piloto faz manobra espetacular, ganhando de novo altura, para delírio de todos.
Agora, dois aviões estão no ar prestes a se chocarem; de repente, os pilotos, mostrando invejável destreza, habilidade e muita astúcia, evitam a colisão fatal. A galera entusiasmada bate palmas. O matuto, com o pescoço cansado de tanto olhar pra cima, abaixa a cabeça em sinal de negação e comenta:
- Eita que mentira medonha!!!
Tricolor mortal
Lucinha, torcedora doente do Fortaleza, dizia: “Se eu morrer, me enterrem com a camisa do Tricolor de Aço!!!” Lucinha bateu a caçoleta. Quem a encarregada de providenciar o enterro? A prima Jarina, Ceará até o fundo das calças. Viviam se estapeando por causa dos times.
A torcedora do Vovô começou os preparativos da partida da outra pela pesquisa de preços do esquife. Vendedor fala valores. Muito altos. Pergunta se a morta “era pessoa querida”. Jarina responde “marrom! Era alvinegra”. O moço despeja incréu:
- Leve o de R$ 45. Se se arrependerem, a gente troca semana que entra...
A seguir, o local do enterro. No Cariri do Ceará, X; em Fortaleza, 5X. De novo o impasse. Jarina, grana curta, ouve resignada a sugestão do rapaz funéreo:
- Enterrem lá. Dois anos mais tarde, trazemos ela no fundo duma rede...
Agora é o velório. Estamos na funerária. E o vexame das torcidas desorganizadas até na morte. Na sala ao lado de Lucinha (com a camisa do Tricolor), velavam um ricaço (vestido com a do Ceará) dois sujeitos bonitos, atléticos. Jarina, de olho nos machos, não se contém e se joga no caixão do morto, cantando despudorada:
- Com teus craques em campo a brilhar, Ceará minha glória é lutar!
Fonte: O POVO, de 25/11/2017. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.

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