Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)
A despeito do passado, as
causas das desigualdades no Brasil estão, principalmente, nas limitações do
processo de desenvolvimento, nas tentativas fracassadas de ajuste fiscal e nas
consequências pouco vantajosas do processo de reestruturação econômica imposto
pela globalização. Ao longo de 1980, o crescimento econômico brasileiro foi
prejudicado em razão da crise gerada pela dívida externa, pelo progressivo
déficit público e a consequente crise do Estado e da administração pública,
além da inflação decorrente e das tentativas malsucedidas de estabilização
monetária. Os resultados não poderiam ser outros que não o agravamento dos
problemas sociais. Os efeitos também se fizeram sentir no nível elevado de
desemprego em todo o País face à redução no ritmo de crescimento. Por sua vez,
o processo de urbanização foi um dos mais velozes. Em 1950, a zona rural
detinha 75% da população, atualmente cerca de 80% dos brasileiros vivem nos
centros urbanos. Formaram-se então os chamados “cinturões de miséria” na
periferia das cidades, acentuando a má distribuição de renda e prejudicando
substancialmente a oferta de serviços sociais básicos (saúde, educação,
segurança, etc.). O Brasil apresenta uma péssima distribuição de renda: cerca
de 1% dos mais ricos concentra 13% da renda nacional e, por outro lado, 50% dos
mais pobres ficam também com 13%. Ademais, as desigualdades regionais
persistem. O Nordeste, por exemplo, ao longo do tempo, continua com um terço da
população brasileira e participa com apenas 13% a 14% do PIB. Faz-se necessária
a realização de investimentos compatíveis com o peso demográfico, de natureza
estrutural e não apenas circunstancial. O futuro Governo brasileiro deverá
herdar, de outros, dificuldades na maioria das áreas de ação. Por fim, enquanto
persistirem estas desigualdades, o Brasil não será um País justo.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do
Ceará.
Fonte: Diário
do Nordeste, Ideias. 23/11/2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário