Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Etimologicamente, a palavra “chofer” teve
origem do francês chauffeur, que significa “operador de máquinas a
vapor”. O termo deriva do latim calefare, que
quer dizer “aquecer as mãos esfregando-as”. O chauffeur era o trabalhador responsável por operar as
máquinas a vapor sendo o encarregado do bom funcionamento das caldeiras. A
palavra tratava especificamente das caldeiras (chauffage, em francês), das antigas locomotivas. Era conhecido no Brasil como foguista.
Com o surgir dos primeiros automóveis
passou-se a designar as pessoas que conduziam os carros, propelidos
inicialmente a vapor e em português afrancesado criou-se o termo chofer. Atualmente,
o chofer é a denominação dos motoristas particulares, transportando os seus
chefes ou clientes.
Caminhão é veículo automotivo com quatro ou mais rodas para transporte
de cargas e os motoristas que dirigem esses veículos, transportando gêneros
alimentícios, medicamentos e gases (oxigênio) para os hospitais, etc., são
denominados caminhoneiros. Hoje, é indiscutível a importância dos
caminhoneiros, que transportam a produção brasileira para os mais recônditos
locais do Brasil e para o exterior.
A maioria das classes trabalhadoras é sindicalizada
e conta com o direito inalienável à greve. Como somente 30% dos caminhoneiros
são autônomos, a maioria deles é composta por funcionários de firmas
transportadoras, o que indica que, na recente greve geral, possa ter havido lock out (uma manifestação
de força do empregador no sentido de levar os empregados a aceitar determinação
dos donos das empresas— paralisação por ordem dos patrões). Conduta criminosa.
Sem falar na infiltração de arruaceiros de todos os naipes.
Passado a fase aguda da greve dos
caminhoneiros, creio tenha sido ela uma faceta do povo brasileiro. Relembro:
catarse (do grego "kátharsis")
é uma palavra utilizada em diversos contextos, assim como tragédia, que
significa "purificação", "evacuação" ou
"purgação" pelo escancaro da corrupção crônica dos nossos políticos e
empresários.
Esta greve foi só
uma catarse de uma fração do povo brasileiro que se manifestou.
Respeito muito a classe dos caminhoneiros que
enfrentam as nossas estradas esburacadas e inseguras e ninguém entra em greve
por diletantismo.
A crise nos faz pensar em soluções positivas
e não lamentar os erros.
Que vai adiantar prantear que na década de
1960 deu-se a preferência ao transporte por via rodoviária em detrimento das
ferrovias e da navegação de cabotagem. Ficar exclusivamente dependente do
transporte rodoviário choca a segurança nacional e o povo brasileiro.
As ferrovias deveriam ser um problema de
Estado e não de Governo. Não é tão simples assim, recuperar a malha ferroviária
nacional, haja vista que estamos com a Transnordestina, iniciada em 2006,
parada.
Além do mais, a greve revelou que não existem
trilhas para a democracia e para o diálogo, e que nenhuma solução autoritária
ou violenta tornará mais bem-sucedida um país ao qual não faltam recursos materiais
e psicossociais.
Lembro que crise (do grego krisis) significa: conjuntura socioeconômica problemática, desequilíbrio
entre bens de produção e de consumo, normalmente definida pelo aumento dos
preços, pelo excesso de desemprego, de falências. Cada crise econômica deve ser
transformada em amadurecimento. Essa greve dos caminhoneiros, penso, trará o
ensinamento que devemos pensar que o transporte rodoviário não poderá continuar
a ser o único ou o mais importante. No Nordeste temos uma canção popular que
começa assim: O chofer é a beleza do Mundo...
Existe até um
filme com este título e tem mais, música e letra são de Jackson do Pandeiro
(1906-1982), cantor e compositor da canção intitulada Xodó do Motorista cuja
letra segue abaixo:
Não
há quem resista/ Ser motorista sem ter um amor/ Me falte gasolina/Mais não me
falte uma menina/ Que eu morro de dor. Eu vou pra todo canto desse meu Brasil/
Ninguém nunca viu eu viajar sozinho/ Eu só viajo no quentinho da minha cabina/
O cheiro de uma menina encurta o meu caminho/ Eu só viajo agarradinho/Ainda
hoje eu vou, eu vou falar com ela/ Lá na cancela tenho outra em vista/ Só sei
andar com o meu xodó do lado/ Não sou culpado de ser motorista...
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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