terça-feira, 24 de dezembro de 2019

VIVER E MORRER EM CRISTO


Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
Diante do Senhor não há morte, há vida. Nosso Deus é o Deus dos vivos, da vida que dá sentido até à morte. Sem a fé a morte é peso, angústia, desolação. Iluminada pela fé a morte é esperança, amparo, confiança, perspectiva de reencontro. Na visão cristã a morte tem sentido positivo, a vida não termina com a morte, mas se inicia com a morte. Morremos para viver mais e melhor. Testemunho de Corações iluminados pela fé: "Eu não morro, entro na vida" (Teresinha). "Deus nos dá a vida para buscá-lo, a morte para encontrá-lo, e a eternidade para possuí-lo" (Francisco de Sales). "Não me prepara para um fim, mas para um encontro" (Bento XVI).
Recentemente, celebramos Finados e a Igreja nos convida a refletirmos sobre o viver e o morrer em Cristo. A reflexão sobre a morte está ligada à reflexão sobre o sentido da vida. Entender o sentido cristão da morte é aprender a valorizar a própria vida. O mundo moderno não nos ensina mais a morrer. Somos preparados para viver, não para morrer. Vivemos uma 'ditadura da felicidade', onde não há espaço para refletir temas existenciais como o sofrimento e a morte.
A morte se tornou um tabu. Falar dela é obsceno, constrangedor. Tudo é feito para esconder a morte, para incitar-nos a viver sem pensar nela. Infelizmente a morte e o morrer perdeu sua dimensão humana e religiosa. Hoje se morre nos hospitais, morte solitária, coisificada, fria, longe dos olhos, do calor do abraço sincero dos familiares. A morte chega a todos.
Essa verdade se mostra a nós todos os dias. É necessário viver bem, para adormecer bem. Nosso céu já começa aqui, quantas vezes já vivemos o céu…especialmente quando amamos e nos deixamos amar. Morre lentamente, quem passa os dias se queixando e murmurando da sua má sorte. Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um feito muito maior que o simples fato de respirar. Felicidade é viver o agora sem pressa nenhuma. Passado não volta. Futuro não temos. E o hoje não acabou. Vale a pena lembrar que a vida é curta demais.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia.
Fonte: O Povo, de 9/11/2019. Opinião. p.16.

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