Por Weiber Xavier
(*)
Com o maior acesso às informações
pela mídia e redes sociais além das novas tecnologias, somado à relação
médico/paciente cada vez mais precária vemos uma progressiva desinformação em
saúde pressionada por crescentes interesses econômicos e comerciais.
Várias pessoas vão ao médico no
intuito de investigar um incômodo fugaz ou mesmo um check-up e demandam
uma série de exames muitas vezes sem necessidade, recebendo também muitas vezes
tratamentos inúteis e que podem criar ansiedade e efeitos mais danosos do que o
incômodo inicial.
Exige-se do médico exames cada vez
mais avançados e medicamentos cada vez mais novos e caros, e o médico muitas
vezes refém de uma formação profissional insuficiente e para proteger-se de
ocasionais denúncias e pedidos de indenização adota o que se chama atualmente
de "medicina defensiva", passando a validar esse ciclo de desperdício
e ansiedade.
A medicina viu nos últimos anos
progressos fabulosos no diagnóstico e tratamento de doenças até bem pouco tempo
incuráveis, porém, o bem-estar passa por diversos outros fatores como relações
pessoais, a família, condições econômicas e o trabalho que não podem ser
investigados com nenhum exame de imagem ou laboratorial, nem também são
passíveis de cura com nenhum tratamento medicamentoso. Diante dessa
sobreutilização e desperdícios em saúde, além da hegemonia tecnológica em
detrimento da humanização surge no meio científico internacional o que se chama
de slow medicine, ou como o professor Marco Bobbio explica em Medicina
Demais!, sobre o uso excessivo de medicamentos e exames e as diferentes razões
para esses excessos: o desconforto de viver com a incerteza, a necessidade de
questionar a própria saúde, a confiança exagerada nos potenciais da medicina, a
pressão da indústria para criar a necessidade de terapias e exames. "A ilusão de uma vida mais sadia nos faz viver como
doentes crônicos entre exames e terapias".
Uma medicina mais justa, sóbria e respeitosa, estimulando a reflexão crítica
sobre a prática médica atual a fim de desperdiçar menos recursos e validar a
real função social da arte médica é o que preconiza a medicina com calma e
prudência, sem pressa.
(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/10/2019. Opinião. p.20.
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