sábado, 31 de maio de 2025

O TEMPO DA FÉ DO PAPA FRANCISCO

Por Roberto Macedo (*)

Desde criança tive uma formação religiosa com jesuítas, orientado por meu pai e por alguns tios que seguiam os princípios e regras da forma de ser e de viver dessa ordem do catolicismo, tais como verdade, disciplina e simplicidade.

Isso deixou-me muito contente quando, em 2013, passamos a ter o primeiro papa jesuíta da história da Igreja Católica.

Comparado com outros, o papado de Francisco foi curto, apenas 12 anos. Mesmo assim ele promoveu uma transformação há muito necessária na nossa Igreja, embora tendo causado algumas cisões na sua alta hierarquia e entre fiéis.

Enquanto Sumo Pontífice ele foi firme na sua colocação do evangelho como guia dos católicos e do catolicismo.

O tempo da fé do papa Francisco não era o imediatismo. Ele pensava e agia para o longo prazo. Por isso, logo ao chegar, fez uma limpeza nas pompas do Vaticano, projetando o que almejava para o mundo cristão.

O exemplo estava no seu próprio comportamento como pessoa, quando optou por habitar e transformar em residência oficial de seu pontificado uma casa de hóspedes ao lado da Basílica de São Pedro, na Praça de Santa Marta.

Fazia suas refeições com cardeais, bispos e prestadores de serviços no restaurante comum dessa casa, onde os ouvia, com o intuito de tornar o exercício do papado uma missão de simplicidade e de igualdade.

Ao fazer isso, valia-se das inspirações do Espírito Santo, sem preocupação de ser ou não entendido no primeiro momento, porém ancorado na fé de que o tempo o ajudaria.

Foram muitas as simbologias de austeridade e não ostentação utilizadas pelo saudoso papa Francisco. Seu crucifixo e seu anel eram de ferro, dispensando o ouro de 18 quilates; e seu carro era popular, e não um veículo luxuoso.

Assim, ele foi demostrando quem era, ao que tinha vindo e por que escolhera o nome de Francisco, em reverência ao santo dos pobres e da natureza.

Francisco foi o papa da defesa do planeta, da maneira sensível, racional e sustentável de utilizar os seus recursos; foi o papa da paz e da congregação da humanidade.

Que o seu substituto seja capaz de seguir o tempo da sua fé.

(*) Empresário.

Fonte: O Povo, de 12/05/2025. Opinião. p.20.

Leão XIV - entre Agostinho e as "novas coisas"

Por João Saraiva (*)

De Roma voltou a subir a fumaça branca. Mas, dessa vez, soprou com vento americano e raízes latino-americanas. Robert Francis Prevost, nascido em Chicago há 69 anos, foi eleito o 267º sucessor de Pedro. Religioso agostiniano, missionário no Peru por longos anos, ele não chega a Roma por estratégia, mas por estrada. Ao escolher se chamar Leão XIV, sinaliza que sabe o peso — e a direção — de um nome.

Evocar Leão XIII é mais que uma reverência ao passado. É quase uma convocação. Em 1891, com a encíclica Rerum Novarum, aquele papa colocou a Igreja onde poucos esperavam vê-la: nas fábricas, nos campos, entre os operários. Não para pregar, mas para ouvir. Para lutar. Fé que não se compromete vira ornamento. Leão XIV, ao que tudo indica, também enxerga isso. O mundo grita. Fome, desigualdade, migração forçada, colapso ambiental. E um vazio — frio, discreto — que cresce dentro das pessoas, mesmo diante de altares dourados.

Mas Prevost não é um teólogo de gabinete. Ele aprendeu o Evangelho com o povo andino, nas missas celebradas em quechua, nos pequenos vilarejos onde a fé se faz com gestos e panelas no fogo. Foi bispo em Chiclayo. Conhecia os nomes das crianças, a história das famílias. Acolheu dores, viu milagres simples. Ali, percebeu que o altar não está distante do chão. E que o sagrado mora onde há partilha — e onde o silêncio também vira oração.

Agostiniano, carrega a herança daquele que disse: "nosso coração está inquieto enquanto não repousa em Deus". Mas talvez saiba, como Agostinho, que esse repouso não é fuga. É encontro. Um mergulho nas feridas abertas da história. Espera-se dele menos controle, mais compaixão. Que seja pastor antes de professor. Irmão, antes de líder. Que se curve, e não se eleve.

Francisco abriu janelas. Leão XIV encontra a porta escancarada. Que não a feche. Que caminhe com os que andam, tropeçando se for preciso. Que não tema o pó, nem a dúvida. O mundo está exausto de discursos. Mas talvez ainda haja espaço — e esperança — para um Papa que lave os pés da história, e não tenha medo de se ajoelhar diante dela.

(*) Teólogo, professor de Filosofia e Sociologia.

Fonte: O Povo, de 10/05/2025. Opinião. p.18.


sexta-feira, 30 de maio de 2025

Planejamento familiar e economia cearense

Por Priscilla Figueiredo (*)

O planejamento familiar tem um impacto econômico significativo na vida das mulheres cearenses e de outras regiões do Brasil. O Ceará tem avançado nas políticas públicas de distribuição de renda e apoio às famílias, mas desafios socioeconômicos e culturais ainda limitam o protagonismo feminino. Nesse contexto, o planejamento familiar é essencial para o empoderamento econômico das mulheres.

Com acesso a métodos contraceptivos e informações sobre planejamento familiar, as mulheres podem decidir quando e quantos filhos terão, permitindo maior investimento em educação e carreira, o que aumenta suas chances de ingressar e permanecer no mercado de trabalho. No Ceará, onde muitas enfrentam dificuldades para acessar contraceptivos de longa duração, políticas públicas podem reduzir a evasão escolar e profissional decorrente de gravidezes não planejadas.

Famílias menores tendem a ter menos despesas, melhorando a qualidade de vida e reduzindo a pressão financeira. Em um estado onde muitas mulheres são chefes de família, o controle sobre a natalidade pode contribuir para uma distribuição mais eficiente dos recursos. Isso ajuda a reduzir a pobreza, permitindo mais investimentos em educação e saúde dos filhos, impulsionando o desenvolvimento econômico da família e da comunidade.

O planejamento familiar também fortalece a autonomia feminina e a liderança, promovendo equidade de gênero. Com maior controle sobre a vida reprodutiva, a participação feminina na economia cresce, beneficiando o desenvolvimento local. Mulheres economicamente ativas investem mais em suas famílias e comunidades, criando um ciclo positivo de crescimento.

A economia do Ceará ainda depende de setores informais e de baixa renda. Por isso, linhas de crédito, incentivo ao empreendedorismo e capacitações financeiras são essenciais para fortalecer a renda feminina. No entanto, políticas públicas que promovam a educação sexual ainda enfrentam tabus socio-culturais.

Garantir acesso a contraceptivos e atendimento médico de qualidade maximiza o impacto positivo do planejamento familiar. Ao permitir escolhas reprodutivas informadas, ele contribui para reduzir a pobreza, aumentar a participação feminina no mercado de trabalho e melhorar a qualidade de vida das famílias, consolidando-se como uma ferramenta poderosa para o empoderamento das mulheres cearenses.

(*) Médico e ex-prefeita de Quiterianópolis

Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/05/2025. Opinião. p.22.

FOLCLORE POLÍTICO: Porandubas 840

Nesse mundão em que o tempo corre veloz, a memória anda como tartaruga. O esquecimento bate na janelinha da memória. Cuidado, amigos. Vejam o que ocorreu com esses desembargadores.

O nome do médico

Dois desembargadores aposentados, do alto de uma juventude acumulada durante oito décadas e meia, encontram-se no aniversário do neto de um deles. Os desembargadores Amaro Quintal da Rocha e Antônio Vidal de Queiroz, como sói acontecer com amigos que se conheceram no início da idade da razão, foram direto ao assunto que mais os motivava:

- Até que enfim, encontrei o médico que curou a minha amnésia, disse Amaro.

- Como é mesmo o nome dele? Perguntou Vidal.

- É, é, é, deixe-me ver, é... é... Como é mesmo o nome dele? Espere aí... é, é... é.

O nome, escondido num cantinho do cérebro, relutava em aparecer. Começou a se perturbar. Mas não deixou a onda abatê-lo.

- É, é, como se chama... é... é... como se chama mesmo aquela coisa vermelha, amarela, branca, que nasce em um galho cheio de espinhos, aquele assim? (e foi mostrando o tamanho do galho e o formato da coisa).

Vidal matou a charada:

- Rosa, o nome é Rosa.

Amaro, radiante, grita para a mulher que estava sentada logo adiante:

- Rosa, oh, Rosa, como é mesmo o nome daquele médico que curou a minha amnésia?

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/403321/porandubas-n-840

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A BELEZA ESPIRITUAL DO MÊS MARIANO

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

Maio é um mês especial, um período em que a celebração e o amor florescem, envolvendo os corações no calor do Dia das Mães e no encanto do Mês Mariano, dedicado àquela que nos deu o próprio autor da vida: Maria Santíssima.

O Dia das Mães é muito mais que uma data marcada no calendário. É um momento único para expressar gratidão por aquele amor incondicional que nos acolhe desde o primeiro instante. É o dia de agradecer cada gesto de cuidado, cada sacrifício silencioso e cada olhar que conforta e inspira.

Mais do que celebrar, é uma oportunidade para retribuir esse amor infinito, seja com um abraço apertado, palavras sinceras, um presente cheio de significado ou pequenos gestos que toquem o coração. E, se sua mãe já está no céu, lembre-se de que ela continua a cuidar de você com o amor eterno.

É impossível não traçar um paralelo entre o amor materno e o amor de Maria por seu Filho. Assim como Maria acolheu com coragem o chamado divino, mães ao redor do mundo assumem seu papel com graça, mesmo diante dos desafios.

No Mês Mariano, a figura de Maria floresce de maneira especial em nossos corações. Somos convidados a reconhecer seu papel na Obra da Salvação, e sua intercessão por nós junto a seu Filho, Jesus Cristo. Rezar o Rosário é uma maneira de intensificar essa devoção, oferecendo cada "Ave Maria" como uma rosa colhida com amor e depositada aos pés de Maria, entregando-lhe nossas alegrias, dores e esperanças.

Maria é um exemplo vivo de fé e serviço ao próximo. Quando disse "sim" ao anjo Gabriel, ela nos mostrou como confiar plenamente nos planos de Deus.

Agora, imaginem Maria, grávida de Jesus, apressando-se pelas montanhas até a casa de Isabel. Que cena maravilhosa! Não é difícil visualizar a alegria e o calor daquele abraço entre as duas mães. Maria, carregando em seu ventre o Salvador, transforma a simples visita em um encontro cheio de graça. Isabel, tocada pela presença de Jesus, exulta de alegria e exclama: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!" (Lc 1,42).

Esse episódio nos ensina a importância do amor e do serviço. Mesmo jovem e grávida, Maria pensa no próximo e parte para ajudar Isabel. É um chamado para que sigamos seu exemplo, levando Jesus e sua alegria a todos que encontrarmos.

Maria não é apenas a Rainha do Céu e da Terra. Ela é também Mãe de cada um de nós. Nos momentos de dúvida ou dor, podemos recorrer a ela como filhos que buscam o colo da mãe. E, assim como fez em Caná, sempre atenta às nossas necessidades, ela intercede junto a Jesus, dizendo: "Eles não têm mais vinho" (Jo 2,3).

Que este Mês Mariano nos inspire a viver as virtudes de Maria em nosso dia a dia, confiando em Deus com um coração humilde, servindo ao próximo com alegria e cultivando uma vida de oração. Essa será uma oportunidade de nos aproximarmos ainda mais de Jesus, através do Coração Imaculado de Sua Mãe.

A todas as Mães, meu abraço fraterno e que seu dia seja feliz ao lado de seus filhos!

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 17/05/2025. Opinião. p.18.

Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes: 90 anos

Por Raymundo Netto (*)

"No entardecer da vida, vós sereis julgados no amor" (São João da Cruz)

Filho de Rosa de Oliveira e José Bezerra de Menezes, Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes veio ao mundo em 28 de abril de 1935. Iniciou a sua carreira ininterrupta do magistério com apenas 17 anos, na época, ainda estudante liceísta, na escolinha montada na copa da casa de seu avô Belarmino, aos cuidados da tia Eliete, e tendo como inspiração, entre outros, o educador Lauro de Oliveira Lima (1921-2013), Martinz de Aguiar (1893-1974) - "um misto de Sócrates e Diógenes" - e Capistrano de Abreu (1853-1927).

O jovem pretendia cursar Engenharia, mas com as frequentes temporadas entranhado nos acervos da biblioteca do Liceu e da Biblioteca Pública do Estado - e logo também na biblioteca do Instituto do Ceará, aos cuidados e orientação de Maria da Conceição Sousa -, reconheceu que não era aquele o seu destino. Pensou em cursar Direito, mas, por um acaso burocrático, não pôde fazer vestibular naquele ano e foi convocado pelo serviço militar. Depois, considerando ineficiente o curso de Filosofia da Faculdade Católica, optou pelo da Pedagogia, quando soube que dom Lustosa, arcebispo criador da entidade, não permitia homens nesse curso, pois nele se formavam as freiras. E foi dessa forma que ingressou no curso de Letras Neolatinas. Mal se formara, Diatahy participou de uma seleção de bolsa de estudos pela Aliança Francesa, o que o fez residir em Paris e estudar em Sorbonne, entre 1959 e 1960, alterando irremediavelmente o curso de sua vida e permitindo-lhe o convívio com grandes intelectuais de reconhecimento internacional, entre eles, Jean Piaget, cuja complexa obra o "habitava desde muito cedo como um demônio interior, um grande desafio e muitas indagações". Seria impossível, diante do limitado espaço a mim concedido, citar o extenso currículo de títulos, conquistas, premiações e obras do prof. Diatahy, mas destaco: o bacharelado e licenciatura em Pedagogia, o doutorado em Sociologia (França), pós-doutorado em História Antropológica (França), professor emérito e titular do doutorado em Sociologia, do mestrado em História Social e do mestrado em Letras (UFC) e do mestrado em Filosofia (Uece). É membro do Associação Brasileira de Antropologia, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras. Tem diversas obras publicadas e colabora em revistas nacionais e internacionais. É o responsável por diversas contribuições no campo da ciência, da pesquisa e da cooperação internacional. Resumindo, diante de sua complexa erudição e "pneuma", podemos afirmar ser o mestre uma "enciclopédia de múltiplos saberes", como ele mesmo definiria Câmara Cascudo, quando de sua visita à residência do historiador, na época, com 79 anos.

Pela imensa bagagem cultural e crítica que possui, é cuidadoso com o emprego das palavras e de conceitos, não se deixando levar pelas midiáticas unanimidades e pseudocertezas propagadas rapidamente por aspirantes a intelectuais, sendo ele, sim, hoje, o maior intelectual vivo em nosso estado. E temos a sorte de encontrá-lo, lúcido, sensível, brilhante, despertando pacífica e subitaneamente qualquer debate, jogando luz às ideias, e ainda dando-se o trabalho de ler alguns textos deste que escreve esta modesta nota de admiração. Assim, concluo esta breve celebração, apresentando o espelho daquele que a inspira: "Prefiro as situações onde predominam a simplicidade e a espontaneidade das relações, talvez por ser habitado por natural espírito galhofeiro ou talvez por assumir o propalado traço moleque da cultura cearense, que tende obsessivamente a desconstruir pela ironia quase grotesca todo falso louvor ou glória vã. [...] muito me apraz todavia definir-me para mim mesmo como um contador de histórias". Vida longa prof. Diatahy.

(*) Jornalista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/05/25. Vida & Arte, p.2.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Metodologias e resultado na Educação Superior

Por José Lima de Carvalho Rocha (*)

As faculdades recebem estudantes com níveis de conhecimento diversificados, o que pode ser verificado, por exemplo, nas notas do Enem. Quando concluem seus cursos, todos eles precisam estar preparados para exercer bem suas profissões; mas, para que isso aconteça, as instituições de ensino superior (IES) necessitam utilizar metodologias pedagógicas eficientes. As IES que recebem alunos que obtiveram notas baixas no Enem devem aplicar condições de aprendizagem bem mais eficientes do que aquelas que recebem alunos com melhor desempenho.

Há muitas formas de propiciar ambientes de aprendizagem, e todas elas necessitam de professores que se importem de fato com a qualidade no ensino superior. É necessário que a instituição se aproprie ou mesmo desenvolva diferentes métodos de ensino, pois eles devem ser escolhidos considerando diversos fatores: o esperado para a aprendizagem dos alunos em cada curso (objetivos de aprendizagem); o conhecimento prévio que cada estudante já traz do ensino básico; a experiência e a qualificação dos professores; o tempo disponível para a aprendizagem; o número de alunos em cada turma, e outras condições.

O Ministério da Educação afere o quanto a faculdade ajudou o aluno a aprender, aplicando o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observados e Esperados (IDD), que compara o desempenho de cada aluno no Enade (prova que fazem ao final do curso) com a nota do Enem, obtida antes de ingressar na faculdade. Se o IDD tem resultado 3, 4 ou 5, significa que o curso ajudou o aluno a se desenvolver; se o IDD apresenta 1 ou 2, indica que o desempenho dos alunos no Enade foi pior do que o esperado.

Nos resultados divulgados pelo MEC em 11 de abril deste ano, dos 13 cursos da Unichristus que foram avaliados, 8 (61,5%) alcançaram a nota máxima no IDD (conceito 5), 4 (30%) obtiveram conceito 4, e apenas 1 curso (8,5%) obteve conceito 3. Com 91,5% de seus cursos classificados com desempenho excelente, a Unichristus demonstra um forte compromisso com a qualidade do ensino, agregando valor à formação de seus alunos.

(*) Médico e pedagogo. Reitor do Centro Universitário Christus (UniChristus) e diretor do Colégio Christus. Membro da Academia Cearense de Medicina.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/04/2025. Opinião. p.14.

LIVROS

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

"Em 1987, com Ronald Reagan na Presidência dos EUA, o romancista americano Gore Vidal veio a São Paulo para dar uma série de palestras. Tinha um macete infalível para abri-las. Cumprimentava o público, fazia um ar grave e dizia: 'Antes de começar, preciso dar uma informação terrível. A biblioteca do presidente Reagan se incendiou.' Silêncio na plateia. Ele continuava: 'Ambos os livros se queimaram.' Plateia estrondava em gargalhadas. E o arremate: 'O pior é que o segundo ele nem tinha acabado de colorir.' Plateia se dobrava de rir. E só então vinha a palestra." Assim iniciou sua coluna de 29/03/25, na Folha de S. Paulo, o brilhante articulista Ruy Castro.

Para uns, Reagan não foi bom chefe de Estado; para outros, sim, entre os quais me incluo. Creio que Gore Vidal exagerou. E, ao final do artigo, líamos: "[...] preciso dar uma informação terrível. A biblioteca do presidente Trump se incendiou. O livro se queimou. Por sorte, ele já tinha acabado de colori-lo." Nesse caso, o protagonista do gracejo foi adequado. Se o livro ficasse intacto, fosse textual, e não de colorir, o presidente se consideraria mais sábio que o autor, principalmente se escrito por professor de Harvard. Ressalte-se que exceção seria feita se o autor fosse Roy Cohn, guru de Trump. Se o vice-presidente J. D. Vance palpitasse na comparação, seria ainda pior. Este considerou haver sabedoria na afirmação de Nixon quando afirmou: "Os professores são o inimigo."

Ao nos deslocarmos do norte para o sul da América, devemos exaltar um dos mais belos momentos já protagonizados pela juventude cearense no Centro de Eventos. Não era show de um cantor da moda, nem algo nocivo aos adolescentes. Era um espetáculo chamado Bienal Internacional do Livro do Ceará. Lá, jovens de todas as idades alegravam-se por estar perto de Sua Majestade, o Livro.

Parabéns ao Governo do Estado e à Secretaria da Cultura, nas pessoas de Elmano de Freitas e Luísa Cela. Talvez a felicidade de garotas e garotos na Bienal tenha indicado que muitos deles percorreram mais livros do que os citados políticos da América do Norte.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/05/25. Opinião, p.22.


terça-feira, 27 de maio de 2025

Quanto maior a arrecadação, maior o IDH

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

A frase que dá título a este artigo expressa uma relação de causalidade válida. Por quê? O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é dividido em três partes iguais: Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expectativa de vida e educação. Os dois últimos indicadores dependem fortemente do gasto público, o que torna evidente a relação causal com a arrecadação.

Até pode haver países em que o aumento do PIB ocorreu com arrecadação baixa, mas isso nem sempre se traduz em melhoria de outros indicadores, caso a arrecadação tributária — especialmente a per capita — não aumente. Foi o que se observou em países europeus, inclusive no Leste Europeu após a década de 1990, e também em alguns países asiáticos.

Dois economistas da mesma escola teórica, Ludwig von Mises e William Stanley Jevons, pensavam de forma oposta sobre a causalidade na economia. Mises negava que esse campo pudesse ser uma disciplina empírica capaz de estabelecer relações causais. Já Jevons adotou a posição oposta, recorrendo à construção de números-índice para demonstrar a ligação entre o aumento dos estoques mundiais de ouro e a inflação após 1849.

Do ponto de vista pragmático, a análise causal em economia busca respostas para as seguintes questões: a) qual o uso prático das relações causais? Se acreditamos que X causa Y, como podemos confiar na estabilidade dessa relação? Apenas depois de responder a essas perguntas é que o conhecimento causal pode ser utilizado para explicar fenômenos, fazer previsões e orientar intervenções em política econômica.

A busca por explicações causais não é exclusiva da economia. Trata-se de uma atitude que integra o conhecimento científico desde suas origens na filosofia. Na linguagem corrente, “causa” é entendida como “razão de ser, explicação, motivo ou aquilo que faz com que algo aconteça”.

Em abril deste ano, completou-se uma década da publicação de O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty. tese central segue atual: a riqueza sempre foi concentrada e, enquanto a taxa de lucro superar a de crescimento da economia, a desigualdade tende a aumentar.

Em 2023, os pesquisadores Heather Boushey, J. Bradford DeLong e Marshall Steinbaum, organizaram uma coletânea com apresentação de 20 autores, incluindo Paul Krugman, Robert Solow, Branko Milanovic e Elisabeth Jacobs. A obra revisita o tema da desigualdade econômica sob o prisma de Piketty e reforça a tese de que, quanto maior a arrecadação, maior o IDH.

Nesse mesmo sentido, realizamos um estudo publicado pela editora Contracorrente, intitulado Solidariedade Fiscal — desmistificando o nível de tributação e seu impacto no crescimento econômico, em parceria com Pedro Humberto e Cláudia Decesares. Comparamos a arrecadação tributária e o gasto público do Brasil com os de 126 países e demonstramos, com base em análise robusta e econométrica, que os caminhos para combater a desigualdade e melhorar a posição do Brasil no ranking do IDH são: 1) Implementar uma reforma tributária; 2) Fortalecer a tributação progressiva; e 3) Investir em educação.

Segundo o estudo, se o Brasil elevar sua arrecadação em 7 pontos percentuais do PIB — passando de 3,8% para 10,8%, patamar similar ao da Áustria e da Holanda —, o coeficiente de Gini cairia para 0,4894, representando uma redução significativa da desigualdade.

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 1/05/25. Opinião. p.23.

BIBLIOTECA DE BORDADOS E RENDAS

Por Izabel Gurgel (*)

Alba Alves é a primeira. Começamos pela letra A. E pela primeira hora do dia. Alba pode se referir à primeira luz do dia, a da aurora, da alvorada, como nos lembram os dicionários. A B C, Alba borda no Crato, onde mora entre um jardim e a Chapada do Araripe. A B C, Alba borda e costura. É uma biblioteca portátil de bordado.

Você conhece o acervo de invenções têxteis que reunimos nos termos simplificados de enxoval para bebê, peças para recém-nascido ou, mais simples ainda, camisinha de pagão? É um dos alfabetos bem aplicados por Alba Alves em superfícies para diferentes usos por gente grande.

Naquela escala que é um chamado, convite para prestar atenção, Alba Alves pode bordar, por exemplo, livros em pequenos formatos. Até menores do que caixa de fósforo padrão. Eles nos olham e acendem algo na gente. Ela também borda suportes para levar livros. Dá gosto ir com eles.

Especialista no ponto rococó, como dito no seu Instagram, a bordadeira Iara Reis diz que só existe um ponto de bordado. Os demais dele derivam. É o básico do básico, um movimento-mãe, gerador, o da agulha levando a linha a atravessar a mesma superfície duas vezes, em pontos diferentes, constituindo o que se costuma aprender como primeiro ponto.

As variações a partir do primeiro ponto, mas também a feitura do próprio, cada criatura que borda vai fazer como respira. De modo único, singular, irrepetível. Aprende-se. Tanto a bordar quanto a respirar. Para algumas pessoas, a experiência de bordar se torna vital, além de vitalizadora. Ouvir uma delas é algo que eu desejaria a você.

O que Iara me contou no ateliê que ela mantém em casa, em Fortaleza, ouvi também de outras bordadeiras mestras que adoram o estado de bordar. Escutei também, sem que a isso se referissem, a cada peça bordada que tomei nas mãos para ver melhor. Como a gente quer fazer com um livro, uma fruta, um tecido avistado que cutuca nossa atenção.

Assim como exímias rendeiras, grandes bordadeiras reconhecem cada feito onde nós, por mais prática de prestar atenção que tenhamos, vemos uma floresta quase sem a ver se compararmos com o olhar de um mateiro. No bloco de folhas verdes, uma constelação de plantas com nome e modo de existir próprios. Eloquência que pede o mais bonito silêncio.

Não saí da letra A, mesmo citando Iara (que é das águas). Gente que borda nos amplia. Cada criatura, mundos. Diria da Lúcia Galvão o que a física nos ensina sobre o universo. Contínua expansão. Pede para o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, nosso Mauc, mostrar o céu de Cordisburgo que ela bordou. Que ponto é aquele? A qualquer hora, Lúcia Galvão faz a linha cantar.

(*) Jornalista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/04/25. Vida & Arte, p.2.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Saúde mental no trabalho e a tragédia retratada

Por Valdélio Muniz (*)

Dados recém-divulgados pelo Ministério da Previdência Social expõem grave e preocupante quadro relativo à saúde mental dos trabalhadores no Brasil: foram 472.328 mil afastamentos (licenças médicas) do trabalho por transtornos mentais em 2024. O número supera o dobro dos registros de 2014 (221.721 casos) e é 68% maior que o de 2023 (283.471). No Ceará, foram 12.202 afastamentos do trabalho que tiveram, entre outros motivos, ansiedade (4.095) e depressão (3.024).

Não se tratam de meros números. São cidadãos que, após terem sobrevivido (com cicatrizes) a um tormentoso, mas necessário, período de isolamento social (lockdown) durante a pandemia de Covid-19, encontram no mercado de trabalho tratamentos costumeiramente degradantes e desrespeitosos à sua dignidade, com pressões exacerbadas para cumprimento de metas que extrapolam limites do poder diretivo do empregador, chegando a configurar assédio moral.

A estas estatísticas somem-se familiares e amigos que padecem com as vítimas, os impactos desta tragédia sobre o clima nas empresas (reflexo nos demais empregados, colegas de trabalho das vítimas) e a repercussão nos cofres públicos com o pagamento de benefícios previdenciários e os atendimentos destes pacientes na rede pública de saúde. Apesar disso tudo, pouco esforço efetivo se vê para reverter tão catastrófico quadro.

Byung-Chul Han, em sua clássica obra Sociedade do cansaço, constatou que a "paisagem patológica do começo do século XXI" é determinada por doenças como depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade-TDAH, transtorno de personalidade limítrofe- TPL e síndrome de burnout, do inglês, burn (queima) out (exterior), que reflete completa exaustão (física e mental) decorrente do excesso de trabalho e, por isso, reconhecida em 2022 pela Organização Mundial de Saúde-OMS como doença ocupacional.

Em números brutos (alguns trabalhadores com mais de um afastamento), foram 141.414 afastamentos por ansiedade no País em 2024, 113.604 por depressão e 52.627 por depressão recorrente. Completam a estatística casos de transtorno bipolar, vício em drogas, alcoolismo, esquizofrenia, vício em cocaína, psicose, reação ao stress grave e transtornos de adaptação. A tragédia retratada requer ações urgentes.

(*) Jornalista, professor universitário e analista judiciário.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/04/25. Opinião. p.18.

Por Lauro Chaves Neto (*)

O endividamento das famílias é sempre um tema em destaque no Brasil, parte decorrente da extrema desigualdade de renda e parte como consequência da falta de educação financeira.

Em um cenário de inflação mais elevada e com a pressão nos preços concentrada nos alimentos, transportes e serviços, passa a se externalizar a necessidade de intensificar as ações de educação financeira.

Nenhuma família conseguirá prosperidade com endividamento crescente e gastando mais do que arrecada. O que fazer para tentar reverter essa situação de endividamento no orçamento familiar da maior parte dos brasileiros?

O primeiro passo é elaborar a relação completa de todas as receitas, despesas, dívidas, aplicações e patrimônio da família. Assim será possível realizar o diagnóstico da situação financeira atual com precisão.

O Fluxo de Caixa familiar normalmente apresenta oscilações ao longo do ano. Enquanto, em dezembro, a maior parte dos trabalhadores recebe o 13º salário, em janeiro, ocorre o contrário, devido ao acúmulo de contas. Em cada período do ano existem fatores específicos que provocam muitas destas oscilações, sem falar nos "imprevistos" que são constantes.

Para o crescente número de empreendedores, onde a remuneração depende do resultado do negócio, a recomendação é ser muito prudente e parcimonioso, evitando desfalcar o capital de giro da empresa com as contas pessoais.

Os indicadores dos primeiros meses de 2025 mostram que mais de 70% das famílias brasileiras encontram-se endividadas, assim as dívidas com familiares, com agiotas, com o consignado, etc., passam a ser fontes de financiamento para cobrir as despesas que a renda mensal já não consegue pagar. Este é o cenário que mostra a necessidade da universalização da educação financeira de forma integral nas escolas e nas empresas.

Limitar os gastos prioritários, como educação, transporte, cultura, saúde e alimentação, à média de receitas mensais, reduzir drasticamente todas as demais despesas e adiar investimentos são medidas duras, mas necessárias para equilibrar o orçamento, diminuir o endividamento e devolver à família uma perspectiva de prosperidade futura.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 28/04/25. Opinião. p.18.


domingo, 25 de maio de 2025

Íntegra da entrevista com o Prof. José Lima, diretor do Colégio Christus – Parte IV

Entrevista conduzida por Larissa Viegas, jornalista de O Povo.

José Lima de Carvalho Rocha: o médico que se baseia na filosofia cristã e se encanta pelo poder da IA

OP - A Unichristus surgiu em 1994, como faculdade. Foi uma demanda dos alunos para darem continuidade à educação que eles já tinham no colégio ou vocês viram mais como uma oportunidade de mercado?

José - Se não tivesse possibilidade de funcionar, não teria sentido. Então, tinha essa possibilidade, como você chamou, de mercado.

Mas realmente era uma demanda das famílias que queriam que a educação dos filhos continuasse, assim como de pessoas que nunca tinham estudado no colégio, mas queriam uma educação de nível superior de qualidade.

Tanto que eu digo que o que nos diferencia é essa qualidade que a gente imprimiu no ensino superior. O meu primeiro pedido, em 1994, era que os alunos tivessem aula, só isso. Isso não tem na universidade ainda hoje.

Essa preocupação com o dia a dia da aula funcionou muito bem para que, em pouco tempo, a gente conseguisse se diferenciar das outras instituições que já existiam na cidade.

OP - O que planejam para o Colégio Christus para os próximos anos?

José - Nós firmamos uma parceria com a embaixada francesa no Brasil, onde a gente pretende fazer uma sessão francesa na escola, para ajudar o aluno a entrar no ensino superior no exterior, caso ele deseje.

Isso vai ser implantado aos poucos. Como a gente sempre fez tudo aqui, lento e tranquilo, para que a gente também prepare os professores, capacitando eles. Deverá começar no próximo ano com o infantil III, com crianças de 3 anos de idade.

E aos poucos vai progredindo, não só a língua francesa, mas a cultura francesa. E continuamos com as aulas de inglês e as experiências que eles têm em inglês, como sempre tiveram. Então isso é para 2026.

OP - E quais são os planos de sucessão? Seguem no plano, na estrutura que vocês montaram?

José - É, vez por outra querem mudar e eu sou a favor, mas não vem a mudança. Fica nessa conversa. Aí se adaptaram, se acostumaram com o plano de adolescentes, do começo dos anos 1980.

Nossa forma de trabalhar é muito próxima de um Kibutz, de Israel. É um coletivo que trabalha muito para produzir determinados serviços ou produtos. Somos muito parecidos nesse aspecto.

Em trabalhar juntos, um por todos, todos por um. Mas assim, eu não defendo que seja eternamente desse jeito, eu acho que a gente tem que se adaptar às circunstâncias, às mudanças, como as coisas funcionam e como elas são e deixam de ser.

E um dos segredos para não ter conflito foi crescer. Se a gente para de crescer, a gente vai ter dificuldade, porque não cabe tanta gente nesse kibutz com um perímetro pequeno, tem que ampliar.

Então temos que, necessariamente, crescer para abrigar todos e todos poderem trabalhar junto e se ajudar.

OP - Na sua avaliação, qual o legado que o Christus deixa para a educação cearense?

José - Eu não sei como é que vai ser a quarta geração, mas a terceira está indo muito bem. O que deixa hoje é uma formação que envolve uma construção de valores do que é certo e do que é errado, e instrução.

Instrução que eu me refiro é saber os diferentes conteúdos das disciplinas, português, matemática, geografia, história, inglês… Mas isso não é suficiente, porque alguém muito instruído nessas disciplinas pode utilizar essas informações para prejudicar a si e as outras pessoas.

Então, inspirado no que vem desde a nossa fundação, que é uma filosofia cristã, principalmente no Novo Testamento, ou seja, amar uns aos outros, ajudar os que mais precisam e outros valores, é uma lição já testada e aprovada por mais de 2000 anos.

Nessa formação, a gente pode colocar essa construção de valores onde o aluno, durante a sua vida escolar, aprende no colégio Christus que é o certo e o que é que não deve fazer, ou seja, o errado.

NOTA: Projeto Legados

Esta entrevista exclusiva com o diretor do Colégio Christus, José Rocha, para O POVO integra a quinta edição do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

São cinco entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

No próximo episódio, conheça a história do diretor da Flora Pura, Jonas Oliveira Neto, que a partir de receitas familiares executadas na farmácia da família, criou uma fábrica de cosméticos no Centro-Sul do Ceará que produz 25 mil itens por dia.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/05/2025. Reportagem. Legados. p.13-15.

Íntegra da entrevista com o Prof. José Lima, diretor do Colégio Christus – Parte III

Entrevista conduzida por Larissa Viegas, jornalista de O Povo.

José Lima de Carvalho Rocha: o médico que se baseia na filosofia cristã e se encanta pelo poder da IA

OP - Os esportes, as artes e até o meio ambiente sempre fizeram parte da educação do Christus. Para o senhor, o que eles representam hoje? Vê como algo que foi visionário, vanguardista do colégio?

José - Eu entendo a educação como algo que integra muitas atividades humanas. Nós não formamos matemáticos, nós não formamos especialistas na língua portuguesa. O ensino médio, o ensino fundamental, até a educação infantil, forma pessoas para um conhecimento básico de tudo, com a formação para o trabalho ou para prosseguir os seus estudos no superior.

A arte é essencial para desenvolver criatividade, saber trabalhar em equipe. E tudo isso foi utilizado dentro de um objetivo maior, para formar esse cidadão e desenvolver talentos, alguns inatos, outros não, que ele vai necessitar no ensino superior e depois na vida profissional.

O esporte é a mesma coisa. Novamente, ajuda muito a trabalhar em equipe. E não existe uma mente que funciona bem, sem o corpo funcionando muito bem. Isso que é importante, que a gente pense nas artes, pense no esporte, como atividades que integram um eixo central, que é educar.

Educar tem a ver com essa formação e envolve tudo isso. Se você ficar preso só a ciências, história, geografia, química, física, você não está formando cidadão. Você está instruindo alguém com alguma informação que poderá até usar para fazer as coisas erradas.

OP - Hoje, crianças e jovens passam muito tempo na escola. Qual é a percepção que o senhor e toda a equipe do Christus têm do papel dela hoje para as famílias?

José - Tirando essa questão da educação integral, a maior parte das crianças e adolescentes, mesmo que passem 6 horas, 8 horas por dia aqui, o resto do tempo é em casa.

Ou seja, temos que trabalhar juntos, escola e família. A nossa responsabilidade é muito grande no sentido de orientar as famílias a como educar seus filhos dentro dos seus próprios valores. Nós respeitamos e precisamos respeitar a forma como as famílias querem educar seus filhos.

As famílias já sabem como a escola funciona quando nos procuram. Explicamos mais algumas coisas para que não haja esse choque, vamos chamar, cultural, ou de objetivos. De querer que a escola seja de uma maneira, que forme de um jeito, e a escola tá formando de outro.

Se não houver essa coesão, vai existir um grande conflito na mente de uma criança ou de um adolescente. O que eu noto de diferente hoje é que nós temos que trabalhar com os valores de uma forma mais intensa e mais forte do que era trabalhado no passado.

OP - O senhor, pessoalmente, é um admirador da inteligência artificial. Como o colégio tem lidado com essas mudanças tecnológicas, o uso de IA? O senhor acha importante introduzir isso na educação?

José - Estamos vivendo uma mudança tecnológica muito intensa. E isso tem um crescimento exponencial, vai crescendo muito rapidamente. É crescimento em cima de crescimento e é como se fosse um juro composto.

Vai aumentando muito rápido. Então aumenta a produtividade em todas as profissões, desde que você saiba trabalhar com a inteligência artificial. Primeiro que você não pode brigar com ela. Tem que entender, tem que aprender a gostar, e utilizar no que você quer desenvolver.

Eu gosto muito de ler, já tive outras preferências, mas quando surgiu (a IA), é como se eu tivesse esperando há muito tempo. Quando veio, eu disse: “pronto, me alcançou. Eu estou vivo e com consciência para aproveitar isso”.

Então, estou utilizando na educação. Tanto para elaborar programas de aula, elaborar questões de prova, corrigir questões de prova. Estou estudando uma forma de corrigir redações do Enem, dos alunos, para ver se fica parecido com a nota que eles dão.

Nunca vai ser igual, porque duas pessoas diferentes corrigem duas redações diferentes, quanto mais um cérebro desse de uma inteligência artificial, que também é muito construído da forma como nós raciocinamos.

Agora, temos que preparar os alunos para isso. Em vez da gente fugir da inteligência artificial, a gente tem que ensinar os alunos a usar, porque vai ser um diferencial competitivo no trabalho deles.

Faço imagens, faço muita coisa. E como meu tempo lúcido vai diminuindo, eu tenho que correr para aprender isso com muita rapidez e tirar melhor benefício para o meu trabalho. Seja no ensino básico, seja no ensino superior.

OP - E outras mudanças na educação, Novo Ensino Médio, Enem… Como que o colégio tem lidado?

José - O Novo Ensino Médio é muito interessante, é muito bom. Nós começamos a praticá-lo ainda antes dele virar lei. A gente já está estabilizado, possibilitando que os alunos escolham o caminho que eles possam querer.

Uma das coisas que diferencia: aqueles que gostam mais de matemática e física, tem uma trilha para eles. Aqueles que gostam mais de português, geografia, história, já tem outra trilha. E assim vai.

Então, a gente criou essas trilhas, como depois foi batizado, antes mesmo de estar valendo, uns dois, três anos antes da pandemia, que aconteceu essa efetivação. E se mudar, a gente muda de novo.

OP - E como foi a aceitação dos pais?

José - Existem várias maneiras de você aplicar mudanças. Uma delas é ser lenta e gradual e explicando direitinho e mostrando os benefícios que essas mudanças vão trazer.

Na hora que o aluno que gosta mais de física e matemática vai para uma área que tem outros como ele que gostam, isso ajuda muito ele a desenvolver esse caminho. A mesma coisa na área de humanas.

Embora eu tenha começado profissionalmente depois no colégio, eu peguei muita coisa da experiência que aprendi com meus pais, com os professores que vieram antes da gente... E a gente adotando e implementando isso aos poucos, não tem dificuldade nenhuma e nem tem reação negativa.

O que os pais acham ruim são mudanças rápidas. Qualquer mudança envolve reação. Se você também age lentamente, a reação vem lenta, você vai dando para desmanchar isso devagarzinho e mostrando que é melhor.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/05/2025. Reportagem. Legados. p.13-15.

Íntegra da entrevista com o Prof. José Lima, diretor do Colégio Christus – Parte II

Entrevista conduzida por Larissa Viegas, jornalista de O Povo.

José Lima de Carvalho Rocha: o médico que se baseia na filosofia cristã e se encanta pelo poder da IA

OP - Como foi a sua trajetória no colégio, da entrada e até a chegada à Direção?

José - Em 1975 eu comecei a cursar Medicina. Imediatamente, passei a trabalhar na escola. Porque tem uma coisa, um detalhe importante. Esses nove irmãos, 10 comigo, nós nunca recebemos mesada. Precisávamos trabalhar.

Tínhamos que fazer alguma coisa, como meu pai dizia, uma coisa útil, para receber. Então, podia ser leitura de um livro no qual ele nos arguia. Depois ajudava na pintura de parede na escola, limpeza de carteiras, sempre “trabalhou, ganhou. Não trabalhou, não ganha”.

E com essa necessidade de trabalhar, logo que eu entrei na universidade, eu precisei ter também de algum dinheiro para me deslocar, colocar gasolina. Comecei auxiliando professores nas aulas de ciências e assim fui avançando.

Depois de alguns anos, ainda cursando Medicina, à noite eu fazia Pedagogia. E quando eu concluí a Medicina, em 1980, e a Pedagogia, um ou dois anos depois, eu comecei a ser formalmente o diretor da escola. Trabalhei no setor pedagógico, na parte de coordenação, mas o meu sonho maior era exercer a Medicina.

Tive que alterar minha trajetória por conta de necessidades de trabalho e de necessidade econômica que meus pais viviam à época.

Foi solicitada a minha ajuda para trabalhar lá e então tentei conciliar por mais alguns anos, eu ainda era professor lá da (Universidade) Federal, que entrei em 1981, até uns oito anos depois. Conciliava essa dupla jornada, mas aí não deu mais, porque os dois lados absorviam muito.

OP - Então, até na Medicina o senhor ia para a área de educação?

José - Exatamente. Meu sonho na Medicina era ser cirurgião plástico e ser professor da Federal e, aos sábados, ajudar meu pai. Só que essa questão do sábado foi ampliando, ampliando e acabei não ficando só no sábado e não dava para conciliar as duas atividades.

Tanto que primeiro eu fiz a residência médica em cirurgia geral. Comecei essa residência, também fiz o mestrado, depois, mais recentemente, terminei o doutorado, tudo na área da saúde. E na Pedagogia eu fiz também especialização em administração escolar.

Então conciliei essas duas atividades o quanto foi possível. À medida que era mais solicitado dos dois lados, não era só de um, eu tive que fazer uma opção.

E aí a necessidade e o desejo de que minha família, principalmente meu pai e minha mãe, tivesse uma velhice mais tranquila, seguindo o sonho da escola funcionar bem, eu resolvi, pelo menos momentaneamente, abdicado meu. Na época era momentaneamente.

OP - Sobre a relação com a senhora Valéria, pode nos contar como ela começou?

José - Eu era estudante de Medicina. Uma professora e mais duas coordenadoras levavam os alunos (do Christus) para excursão em Salvador, no ônibus. Os alunos se juntavam, era término de curso, que antigamente era o oitavo ano, hoje é o nono.

E em uma dessas excursões a gente estava lá. E a gente começou a conversar, a se conhecer. São 42 anos de casados. Ela se queixa que a gente namorou por cinco, seis anos, mas eu tinha que terminar a faculdade primeiro, não é?

Me formei, passei no concurso (da Universidade Federal do Ceará) e foi aí que o pai dela autorizou a gente a casar, porque nesse tempo era assim, você tinha que ter emprego para poder casar.

No dia a dia é desse jeito que você viu. Acredito que a gente tenha uma vida boa, tem algumas vontades diferentes, ela gosta de viajar, eu não gosto tanto. Aí tem outras coisas que os gostos já se equivalem, mas a gente se entende.

OP - Parte da sua família também atua no Christus. Como foram definidas as funções? Houve um marco, onde cada um escolheu sua área de atuação ou foi algo mais orgânico?

José - As pessoas têm vocações, as pessoas têm talentos e as pessoas têm vontade de trabalhar, uns mais, outros menos. Então, não houve uma determinação para que cada um ocupasse determinadas funções.

No nosso processo de sucessão e de desenvolvimento de trabalho existem algumas regras gerais, que ainda hoje são seguidas. Isso começou em 1979, 1980. Era um acordo entre irmãos.

Eu tinha 22, 23 anos, os outros mais novos, daí para baixo. Raquel, por exemplo, é 17 anos mais nova do que eu. Essa distribuição de atividade, como aconteceu essa sucessão, é diferente de outros tipos de sucessão que acontecem com outras famílias que trabalham na mesma empresa.

Participamos, eu e outros irmãos, de vários cursos, de vários planejamentos de sucessão e a gente descobriu que nenhum desses dava certo para a gente. Então, a gente adotou o próprio modelo de trabalho. Cada um foi ocupando espaços que estavam sendo criados à medida que a escola avançava.

Não só a escola, como outras atividades também. Nós trabalhamos com construção civil, com confecção, com gráfica e outras atividades que foram se desenvolvendo e os outros foram ocupando os espaços.

Não há exclusão de quem pode entrar e quem não pode, há exclusão daqueles que não cumprem o que promete entregar. O Brasil é um país difícil de se trabalhar empresarialmente, porque as regras mudam muito, às vezes até retroativamente.

Então, temos que ter uma equipe ágil, coesa, que possa resolver dificuldades e pensar também para a frente, no futuro. Foi feito dessa maneira, não tivemos nenhuma orientação.

Posso dizer que a segunda geração ainda segue o sonho de adolescentes que deu certo e que, talvez, a gente não tenha conseguido ainda se libertar desse sonho inicial.

Eu espero que a próxima geração, que a gente chama de G3, consiga ter os próprios sonhos e segui-los, porque já, já, daqui a alguns anos, a gente não vai estar por aqui para acompanhá-los.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/05/2025. Reportagem. Legados. p.13-15.


sábado, 24 de maio de 2025

Íntegra da entrevista com o Prof. José Lima, diretor do Colégio Christus – Parte I

Entrevista conduzida por Larissa Viegas, jornalista de O Povo.

José Lima de Carvalho Rocha: o médico que se baseia na filosofia cristã e se encanta pelo poder da IA

O POVO - Professor, pode começar nos contando como tudo começou, a criação do colégio, o objetivo do seu pai, a entrada da sua mãe na instituição?

José Rocha - Em 1951, meu pai iniciou a escola. Depois de alguns anos, a minha mãe começou a trabalhar na escola também. Foi onde eles se conheceram, ele como diretor e ela como professora.

Mas, antes disso, ele já tinha estudado Teologia, Filosofia e recebeu solicitações para estabelecer uma escola, em um bairro que estava começando aqui em Fortaleza, que depois veio a se chamar Aldeota.

Foi quando começou a funcionar a primeira sede do colégio Christus. Portanto, essa era a ideia inicial, fortemente baseada em uma filosofia cristã.

OP - Vocês são 10 filhos. Como foi crescer com pais educadores? O senhor acha que eram valores diferentes àquela época?

José - Eu acho que toda família tem valores diferentes. Nenhuma família tem os mesmos valores umas das outras. Os da minha eu conheço muito bem. Justamente aquilo que era ensinado e praticado na escola também acontecia dentro de casa.

A história de temer a Deus, de ler pelo menos uma vez por semana o Antigo Testamento, o Novo Testamento, aulas de inglês ainda na primeira fase da nossa infância. Então, não via muita diferença em termos de valores na escola e o que acontecia em casa.

O diferente era ter realmente mais nove irmãos, que aos poucos foram chegando. Muitas famílias só tinham dois ou três filhos e a gente, por ser de uma família de 10, sempre escutava: 'Vixe, é muita gente'. Então me acostumei e depois tirei vantagem disso também.

OP - Como?

José - Por que não fazer uma equipe? Um time de futebol não dava, porque são 10, não tinha os 11, mas podíamos trabalhar juntos, podíamos enfrentar o mundo unidos. Uma das histórias que eles sempre me contavam era do Antigo Testamento, que tinha um Zé que tinha um bocado de irmão.

Depois ele me estimulou a ler o livro de Thomas Mann, um alemão, sobre José e seus irmãos. Eu digo: “Bom, ele já devia saber da minha vida, que eu não tinha vivido ainda!”. Mas daí fui estudando, vendo aquilo e vi que uma equipe pode ter um resultado muito melhor do que um trabalho individual.

Eu nunca acreditei em um trabalho individual, mesmo quando isso ainda não era um lugar comum. Hoje todo mundo sabe que precisa de uma equipe para trabalhar bem. Então, foi muito bom aproveitar essa quantidade de irmãos. Às vezes, eu digo para a minha mãe, mas ela fica meio chateada: “Mãe, era melhor se tivessem sido 20” (risos).

OP - O senhor pode contar como foi a sua infância, como foi crescer com tantos irmãos próximos?

José - As famílias treinam muito com o mais velho, erram mais com o velho. Então, eu senti que a forma como me educaram foi um pouco diferente dos que vieram depois, treinaram comigo, umas coisas deram certo, outras não.

E aí depois foi sendo aperfeiçoado. Mas foi ótimo, uma casa muito animada. Sempre moramos em Fortaleza, E naquela casa lá da (rua) Silva Paulet com (rua) Catão Mamede (onde hoje é uma unidade do colégio).

Então, minha vida toda foi lá. Minha mãe disse que o primeiro local que colocaram o berço foi dentro de uma sala de aula. E de manhã tinha que tirar tudo. Mas dessa parte eu não lembro (risos).

E depois foi crescer com esses irmãos que, por sua vez, cada um de nós atraía primos e amigos. Então, a casa esteve sempre muito cheia, muito animada, com muita gente. Então, gostei muito da minha infância.

E acho que essa interação com outros da minha idade ou mais novos do que eu me ajudou muito a entender, a saber lidar com pessoas, a saber trabalhar em equipe.

OP - Seus pais desejaram muito que vocês seguissem nesse ramo de educação ou foi algo muito natural também?

José - Não! Tanto que eu fiz Medicina, outro irmão meu fez Engenharia Mecânica, outro fez Engenharia Civil… Quer dizer, fomos para diversas áreas do conhecimento.

O que surpreendeu foi que meu pai passou por dificuldades econômicas na escola, por conta de empréstimos que tinha feito para ampliar a escola, e daí ele não conseguia mais pagar o que ele estava devendo.

Calculou de uma maneira e os juros subiram. Isso no fim dos anos 1970. E aí a minha mãe chegou e pediu ajuda. Ele não chegou para pedir ajuda.

Tanto que não pediu para trabalhar na escola, pediu ajuda para salvar a escola. Na verdade, a gente escutava na hora do almoço, na hora do jantar, as dificuldades que ele enfrentava, que não conseguia superar.

Ele nunca escondeu nada. A gente ia com ele pedir empréstimo ao banco, criança. E também dentro da escola, a gente sabia tudo que acontecia, a gente era aluno, cada sala de aula, cada série tinha um filho. Então, ficava fácil a gente saber tudo que acontecia e quais eram os problemas que tinham.

Então, não foi um estímulo. Ele nos orientava, nos capacitava para sermos adultos, profissionais e responsáveis. Era essa conversa. A passagem foi mais por uma necessidade do que por uma vocação.

Se você conversar com qualquer um que terminou Medicina comigo, eles vão contar a mesma coisa. Que o que eu queria era Medicina.

OP - Seu pai estudou fora do País, na Universidade de Washington, o curso de teologia. Ele falava muito sobre essa experiência?

José - Ele quase todo ano ia lá, visitar os amigos. E depois alguns vinham sempre nos visitar. Até que eles foram morrendo e na última reunião tinham só três. Aí disseram que não fosse mais. O que deixou ele muito triste. E pouco tempo depois os outros morreram também.

Ele manteve o vínculo. É muito parecido com a minha história, porque eu deixei a Medicina, mas ela nunca me deixou. Eu acho que foi muito parecido com a história dele, com a vocação religiosa dele.

OP - Quando a educação passou a ser vista como um legado pessoal e profissional dos seus pais?

José - A gente aprendeu a gostar da escola, que de qualquer forma fazia parte da nossa vida, por estar vivendo nela, por estar lá o tempo todo. Então, a gente aprendeu a gostar e não queria ver aquilo se acabar.

Porque ele chegou a dizer assim: "Vou vender, vou alugar. Não aguento mais”, mas a gente ficou esperando algo acontecer, porque ele não pediu ajuda.

Cada um já estava com o seu caminho traçado nas diversas profissões. Eu já trabalhava com Medicina, os dois logo depois de mim com construção civil.

E embora eu estivesse estudando Medicina, a gente construía casa, vendia casa, e a gente já tinha começado a formar um capital. Porque podia quebrar, então a gente tinha que ter como sobreviver.

Mas aí quando ele veio, chamei o pessoal e falei: “Vamos trabalhar juntos para recuperar”. E nós temos uma regra de ouro: nunca tiramos alguém que trabalhe conosco para colocar alguém da família. As pessoas não se sentem ameaçadas.

Esse sentido profissional, de desenvolver bem o talento de cada um, não só da família como os que não são da família, foi muito importante.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/05/2025. Reportagem. Legados. p.13-15.


 

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