Por Vladimir Spinelli Chagas (*)
Em tempos nunca
conhecidos por várias das gerações que hoje povoam a Terra, passamos a conviver
com a necessidade de adotar medidas que evitem a proliferação, sem controle, do
Sars-Cov-2.
Informações são
diariamente veiculadas, algumas com cunhos catastróficos, mas não parece que
tenhamos, de fato, percebido a natureza da pandemia e, mais das vezes, passamos
até a digladiar - não bastasse a cena política - sobre o que fazer, o que não
fazer. Procuramos remédios, fórmulas mágicas, exemplos que deram certo ou
errado e, principalmente, culpados.
Uma das discussões
em que, às vezes, incorremos: precisamos nos isolar ou distanciar? Recebi de
amigos restrições ao uso do termo isolamento. Pensei sobre o assunto e, de
fato, vejo razões para isto.
Isolamento dá a
ideia de fuga, de corte de laços, de separação. Distanciamento, por sua vez,
pressupõe certo afastamento, mas a ideia de, por alguma forma, continuarmos
juntos.
Pessoas nas
varandas exercendo alguma forma de arte, especialmente a música. Lives de famosos ou não que, mesmo a
distância, também exibem cenas de arte, desporto, culinária, exercícios e
tantas outras formas de união, nos fazem entender que esse afastamento nos
distancia fisicamente, mas nos aproxima espiritualmente, como talvez nunca o
tenhamos experimentado.
As pessoas têm
passado a conhecer melhor as outras, a ver novos caminhos, a refletir sobre
seus próprios valores. A enxergar um pouco melhor quais os papeis que todos -
pessoas, animais, vegetais e matéria - representamos na natureza.
Portanto, não
estamos de fato isolados, a não ser aqueles que assim o desejam por motivação
pessoal. Estamos todos juntos numa comunhão espiritual que nos mostra mais
reais, mais carentes, mais gente.
Se, nesse
distanciamento, cada um de nós aproveitar o "tempo ocioso" para rever
seus próprios conceitos de mundo, de presença e ausência, de certo e errado, de
a favor e contra, teremos um ganho substancial no novo mundo que se avizinha,
porque não sairemos deste momento na forma em que nele entramos. Queiramos ou
não, reagiremos de maneira diferente. Espero que mais tolerante.
(*) Professor
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 4/5/20. p.18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário