terça-feira, 2 de junho de 2020

ISOLAMENTO OU DISTANCIAMENTO?


Por Vladimir Spinelli Chagas (*)
Em tempos nunca conhecidos por várias das gerações que hoje povoam a Terra, passamos a conviver com a necessidade de adotar medidas que evitem a proliferação, sem controle, do Sars-Cov-2.
Informações são diariamente veiculadas, algumas com cunhos catastróficos, mas não parece que tenhamos, de fato, percebido a natureza da pandemia e, mais das vezes, passamos até a digladiar - não bastasse a cena política - sobre o que fazer, o que não fazer. Procuramos remédios, fórmulas mágicas, exemplos que deram certo ou errado e, principalmente, culpados.
Uma das discussões em que, às vezes, incorremos: precisamos nos isolar ou distanciar? Recebi de amigos restrições ao uso do termo isolamento. Pensei sobre o assunto e, de fato, vejo razões para isto.
Isolamento dá a ideia de fuga, de corte de laços, de separação. Distanciamento, por sua vez, pressupõe certo afastamento, mas a ideia de, por alguma forma, continuarmos juntos.
Pessoas nas varandas exercendo alguma forma de arte, especialmente a música. Lives de famosos ou não que, mesmo a distância, também exibem cenas de arte, desporto, culinária, exercícios e tantas outras formas de união, nos fazem entender que esse afastamento nos distancia fisicamente, mas nos aproxima espiritualmente, como talvez nunca o tenhamos experimentado.
As pessoas têm passado a conhecer melhor as outras, a ver novos caminhos, a refletir sobre seus próprios valores. A enxergar um pouco melhor quais os papeis que todos - pessoas, animais, vegetais e matéria - representamos na natureza.
Portanto, não estamos de fato isolados, a não ser aqueles que assim o desejam por motivação pessoal. Estamos todos juntos numa comunhão espiritual que nos mostra mais reais, mais carentes, mais gente.
Se, nesse distanciamento, cada um de nós aproveitar o "tempo ocioso" para rever seus próprios conceitos de mundo, de presença e ausência, de certo e errado, de a favor e contra, teremos um ganho substancial no novo mundo que se avizinha, porque não sairemos deste momento na forma em que nele entramos. Queiramos ou não, reagiremos de maneira diferente. Espero que mais tolerante.
(*) Professor da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 4/5/20. p.18.

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