segunda-feira, 29 de junho de 2020

O QUE A PANDEMIA NOS ENSINA


Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
A Páscoa foi diferente. Com silêncio povoado de nomes, dores de tantos próximos a nós. Todos atingidos pelo vírus que modificou agendas e ordem mundial.
Semeia morte e crise econômica que afeta e golpeia, especialmente os mais pobres. Há uma crise ética, que deixa descoberto o afã de líderes inescrupulosos que buscam o próprio interesse, à custa da vida e bem-estar de uma maioria.
O que aprendemos com tudo isso? Primeiro, a finitude da existência humana. Não somos deuses, nem autossuficientes. Apesar de estarmos no topo da pirâmide da evolução, não somos "todo-poderosos" e não temos todas as respostas. Somos fracos, frágeis e indefesos e precisamos aprender a lidar com nossas fraquezas.
A vulnerabilidade nos faz sentir unidos em uma realidade comum. Há um processo de mudança da mentalidade individualista para uma consciência coletiva. Pouco a pouco, se reconhece que vivemos em uma casa comum e que nossas ações têm impacto sobre os outros, onde "cuidar de mim implica cuidar dos outros". Precisamos uns dos outros para expressar afeições, cuidados e compartilhar medos.
A pandemia deu a oportunidade de exercitar a paciência para dialogar com nossos próprios limites, e assim sermos humildes e pacientes para com os outros. O que acreditávamos ser insubstituível, urgente, não era tanto. Paciência para respeitar o ritmo, o tempo de si e dos outros.
A pandemia questiona, desafia e fortalece a fé. A escala de valores e a fé mudou para muitos. Com os pés no chão e os olhos voltados para o alto vamos descobrindo as pegadas de Deus na fraqueza, na impotência, acreditando que, através da cruz de tantos filhos, Deus revela-se como proximidade e esperança.
Quando estamos atentos, percebemos os sinais da ação de Deus em cada detalhe: na atuação dos profissionais de saúde, que estão na linha de frente, nos curados que voltam para casa, nos bebês que nascem trazendo vida e esperança, nas ações de solidariedade que vemos por toda parte. Há bondade no ser humano, o amor é mais forte que a morte.
Aprendizados a não esquecer, quando o medo voltar a desmoronar nossos sonhos. 
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia.
Fonte: O Povo, de 6/6/2020. Opinião. p.16.

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